Mara Peixoto ocupava a função desde janeiro deste ano , e foi à Câmara Municipal explicar os motivos da sua exoneração; ela é prima do chefe do Executivo
“Ele falava comigo aos berros, chegando a cuspir na minha cara”, a declaração é da professora e ex-secretária de educação de Cornélio Procópio, Mara Peixoto, que usou a tribuna da Câmara de Vereadores do município na sessão da última segunda-feira (04) para explicar os motivos da sua exoneração no dia 14 julho. Durante sua fala, a professora acusou o prefeito, Raphael Sampaio, de misoginia que é a discriminação e propagação do ódio ou aversão a mulheres pela condição de serem mulheres.
Com mais de 40 anos experiência na área da educação, Mara Peixoto é formada em Letras com especialização em supervisão e inspeção escolar, mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Em entrevista ao Portal Verdade, a professora disse que as divergências com o chefe do Executivo começaram quando ele suspendeu uma portaria, assinada por ela, referente ao piso salarial da categoria. “Foi uma das minhas primeiras medidas como secretária. Eu conversei com ele antes, explicando a importância da valorização dos professores, ele concordou, mas acabou voltando atrás, revogou e baixou o salário dos professores. Fiquei decepcionada, mas tive de aceitar”, explicou.
Conforme a ex-secretária, no ultimo mês, após várias reuniões com a categoria, ela encaminhou a portaria de número 12/2025, que visava regulamentar porte das escolas do município com base na capacidade estrutural e número de alunos, e assim definir a equipe pedagógica.
Desrespeito e humilhação
Ela conta que foi convocada para ir a Prefeitura explicar o porquê da mudança do porte, onde esclareceu para os secretários e procuradores sobre a necessidade da medida, que acabou sendo publicada, e mais uma vez foi revogada pelo prefeito no dia seguinte. Diante da situação, Peixoto procurou o gabinete do prefeito e foi recebida com gritos.
“Ele gritava e cuspia em mim enquanto perguntava: quem você pensa que é? No dia anterior, ele já havia ido na minha sala e novamente gritou comigo, disse aos berros que eu tinha de “passar” tudo o que ele queria, todos os funcionários ouviram. Ele fez isso porque sou mulher e isso tem nome é misoginia. Me senti desrespeitada e humilhada como profissional e como mulher”, disse.

Injustiça e violência
A diretora de uma escola que prefere não se identificar disse que o prefeito foi injusto ao exonerar a ex-secretária, porque ela estava lutando pela melhoria da educação no município. “A maioria diretoras e professoras ficaram revoltadas com tudo o que aconteceu com a Mara. Ela lutava pelos nossos direitos e dos alunos. Sempre foi muito determinada, atuante nos conselhos e competente em tudo que faz”, declarou.
Ainda conforme a diretora, Peixoto, foi a única secretária que enfrentou o prefeito. “Ele revogou as portarias do piso salarial e dos portes das escolas. Mudanças importantes que a gente precisa e luta há anos”, descreve.
Com relação a denúncia de misoginia feita pela ex-secretária, a diretora informou que há tempos que o prefeito age dessa forma. “Já ouvi muitas mulheres dizendo que saiu do gabinete dele chorando por causa da truculência e falta de respeito com as mulheres”.
A radialista Maria Conceição de Carvalho Vicentini, nasceu em Cornélio Procópio e acompanha de perto a política da cidade. Segundo ela, Peixoto foi a melhor secretária de educação da história do município. “Jamais vi uma mulher com tanta capacidade e conhecimento, não apenas na educação, mas em todas as áreas. Foi horrível e vergonhosa a postura do prefeito. Se fosse um homem, ele jamais faria o que fez com ela”, opinou.
A misoginia tem sido um dos fatores que mais afasta mulheres da política e demais cargos de liderança. Segundo dados do Ministério de Direitos Humanos, as queixas passaram de 961 em 2017 para 28,6 mil em 2022, totalizando mais de 74 mil registros em cinco anos.
O Portal Verdade enviou mensagem para o prefeito Raphael Sampaio, solicitando uma entrevista, ele encaminhou para a assessoria de comunicação que até agora não respondeu à solicitação.
Acompanhe na integra a sessão em que ela denuncia o prefeito:
Elsa Caldeira - Jornalista formada pela UEL. Tem pós-graduação em Comunicação Popular Comunitária/UEL, é apresentadora do Programa Aroeira da rádio UEL/FM, assessora do Coletivo de Sindicatos de Londrina e diretora executiva do Portal Verdade.













