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A Saúde não é mercadoria

A saúde pode ser vista como uma fonte de lucro? A rede hospitalar que atende a população pode ser encarada como uma empresa cujo objetivo final é obter lucros? A resposta é claramente não. Mas, por que num mundo que se baseia na produção de mercadorias e no consumo a saúde não pode ser objeto de venda? Não poderia e nem deveria, mas é exatamente isso que está acontecendo em muitos países.


No atual estágio de financeirização do capital, quase todas as atividades humanas estão sendo comandadas por grandes fundos de investimentos. São fundos que aplicam na Bolsa e devem explicações apenas a seus acionistas. Em outras palavras, eles têm que mostrar lucros. Veja bem que não se fala aqui de administrações eficientes, combate a desperdícios, racionalização de gastos e reinvestimentos. Fala-se aqui de baixar agressivamente os custos e aumentar a margem de lucros. E aplicar, não na saúde, mas na própria bolsa. E em atividades muitas vezes sem qualquer relação com a saúde. Digamos assim. A rede hospitalar X deu um lucro determinado (sabe-se lá como). Mas, a confecção de chinelos está mais interessante. Então aloca-se todos os lucros do hospital em chinelos.


É exatamente isso que está acontecendo com o complexo médico hospitalar. E as consequências já aparecem. Principalmente, mas não só, nos Estados Unidos da América. Um artigo publicado no JAMA, periódico médico publicado pela Associação Médica Americana, no ano passado mostrou que nos Hospitais adquiridos e gerenciados por grandes fundos financeiros com ações na bolsa, houve aumento de 27 % nas infecções hospitalares pós cirúrgicas, relacionadas com aumento de volume de cirurgias e diminuição nos cuidados de assepsia. Mas não só. Um aumento de 38% nas infecções causadas por cateteres centrais e mesmo punções periféricas. E, o que causa uma surpresa e tanto é o aumento de 27% de quedas de pacientes que estão internados.

Explico, pacientes que caminham por corredores, caem de macas ou de camas. O aumento dessas intercorrências, em grande parte evitáveis, são o efeito mais visível e dramático de uma assistência médica hospitalar que cada vez menos leva em conta a eficiência, o cuidado com os pacientes. A prioridade é aumento do ganho.

Nesse sentido não é difícil ver que demissões de funcionários ou mesmo priorizar os mais novos e inexperientes (trabalham por menos), comprar de matérias de baixa qualidade, estão levando a uma tragédia anunciada com uma explosão de complicações e mortes.
Está sendo cada vez mais necessário restabelecer o conceito de que a saúde é um bem inalienável. Não fonte de lucro. Lucro você pode obter fabricando e vendendo chinelos

Por Marco Antonio Fabiane – Cardiologista

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