De acordo com a entidade, plataformização tem levado ao adoecimento dos educadores e não melhora a qualidade do ensino
Nesta quinta-feira (12), professores, funcionários de escola, estudantes e responsáveis participaram do “Dia de mobilização pelo fim do assédio e da política de adoecimento da Secretaria de Educação”, convocado pela APP-Sindicato (Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do Paraná) em todo o estado.
Além de ato em frente à SEED (Secretaria Estadual de Educação), em Curitiba, os educadores organizaram manifestações nos Núcleos Regionais de Educação.
A mobilização ocorre após o falecimento de duas professoras de Língua Portuguesa em menos de uma semana. Silvaneide Monteiro Andrade, de 56 anos, e Rosane Maria Bobato, 67 anos, morreram enquanto trabalhavam (relembre aqui).
Elisabete Almeida, secretária de Funcionárias e Funcionários de Escola da APP-Sindicato, pontuou que a realização do ato foi deliberada durante assembleia estadual realizada no último dia 7 de junho e busca denunciar os assédios sofridos pela categoria, intensificados pela plataformização do ensino, implementada pelo governador Ratinho Júnior (PSD).
“O que vem acontecendo com a plataformização é um absurdo. Tivemos as mortes de duas professoras dentro de escolas, sendo uma delas pressionada pela equipe pedagógica, direção, tutoria. Nós não podemos admitir que isso continue acontecendo”, afirma.
A liderança salienta que, após a repercussão das mortes das duas professoras pela imprensa, a SEED publicou uma nota alegando que o uso das plataformas não é obrigatório.
Porém, segundo o Sindicato, na prática, tanto professores como as direções de escola são cobradas por metas vinculadas às plataformas.
Ainda, conforme a entidade, muitos docentes são questionados quando não utilizam os aplicativos, a exemplo de Silvaneide, que sofreu um infarto ao ser chamada pela equipe pedagógica para justificar porque não atingiu os resultados determinados pelo portal Redação Paraná.
Em Londrina, durante o protesto a direção da APP-Sindicato protocolou do Núcleo Regional de Educação, documento contrário ao uso intensivo das plataformas e a cobrança abusiva de metas associadas aos aplicativos em sala de aula.

Almeida salientou que a orientação é que os docentes não assinem atas sobre o uso de plataformas e complementou destacando que o Sindicato não é contrário a adoção de tecnologias. A crítica é direcionada às pressões que têm levado ao adoecimento dos educadores e, ainda, não tem contribuído para a melhoria no aprendizado dos estudantes.
“Não somos contra a tecnologia, pelo contrário, somos muito favoráveis, mas não desta forma como vem sendo imposta pelo secretário de educação, Roni Miranda”, adverte.
Conforme informado pelo Portal Verdade, nenhum representante do governo compareceu à audiência pública, que buscou debater o adoecimento de servidores e educadores da rede estadual do Paraná, realizada na última segunda-feira (9).
Vigiar e punir
Os atos deflagrados em todo o estado resultaram na realização de uma reunião com diretores da pasta. De acordo com nota divulgada pela APP-Sindicato, durante o encontro, os representantes da SEED alegaram que precisam do monitoramento nas plataformas para acompanhar o que acontece nas escolas.
Ainda, declaram desconhecer casos de assédio contra diretores que não cumprem as metas, mas o Sindicato rebateu apresentando casos.
“A SEED nega perseguições e, então, apresentamos processos de avaliação abertos contra diretores de escola pelos Núcleos Regionais de Educação. A SEED ficou de analisar esses casos”, pontua Walkiria Mazeto, presidenta da APP-Sindicato.
Ficou acertada a criação de três grupos de trabalho para discutir e avançar nos seguintes pontos: fim da obrigatoriedade de interação nas plataformas, alteração na lei que obriga diretores de escola a cumprir metas impostas pelo governo e fim do assédio dos Núcleos Regionais de educação aos diretores de escola.

Movimento Plataforma Zero continua
Almeida garantiu que a movimento Plataforma Zero, que procura pressionar a SEED a rever as metas de uso dos equipamentos nas escolas continua e ressaltou a importância da adesão de toda a comunidade escolar.
“Gostaríamos de pedir apoio para os pais, os nossos alunos que vão às escolas e conversem com os professores e saibam o que está acontecendo. A escola está adoecendo. Essa luta não é só nossa, de professores e funcionários, é de vocês também, pais e mães, estudantes. É muito triste tudo que vem acontecendo dentro das escolas. Quando um professor sofre um ataque todos nós da educação sofremos junto”, assinala.
Confira as reivindicações do Movimento Plataforma Zero:
1 – Plataforma Zero: Fim da obrigatoriedade das plataformas;
2 – Fim dos assédios pelos Núcleos Regionais de Educação, embaixadores e tutores;
3 – Fim das metas e do Power BI;
4 – Fim das punições por causa da apresentação de atestados médicos;
5 – Fim de obrigação de dar presença aos estudantes faltantes;
6 – Fim das provas de treinamento;
7 – Fim da fraude do Ideb;
8 – Fim das aprovações sem conhecimento e
9 – Fim das privatizações e terceirizações

Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.