Reunião foi adiada a dois dias da realização. Ainda não há nova data
A audiência pública, que visava discutir a violência policial no Paraná, foi adiada após ameaças de policiais militares. O encontro denominado “Como reduzir o número crescente de mortes causadas pela polícia no Estado?”, foi convocado pelo deputado estadual Renato Freitas (PT) e iria acontecer na ALEP (Assembleia Legislativa do Paraná) na última quinta-feira (26).
De acordo com a assessoria do parlamentar, para pedir o adiamento, o Gabinete Militar da Assembleia alegou “falta de segurança”.
Em nota, a assessoria de Renato Freitas informou que o tenente-coronel Robson Luiz Selleti, chefe do Gabinete Militar, alegou que precisaria de mais tempo para elaborar um plano de segurança.
“Na segunda-feira, o presidente da Casa, Alexandre Curi (PSD), disse que ameaças de policiais impediriam a realização da audiência”, explica o texto.
O documento aponta ainda que, desde a semana passada, “policiais e um advogado conhecido por provocar confusões têm ameaçado de forma velada comprometer o andamento civilizado da audiência pública. O próprio Alexandre Curi relatou ter conhecimento dessa possibilidade”.
Estavam previstas as participações de representantes do MDHC (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania) e de diversos grupos da sociedade civil, incluindo familiares de vítimas das forças de segurança pública no estado.
Também convidado, o secretário estadual de Segurança Pública, coronel Hudson Leôncio Teixeira, recusou o convite.
“Não posso colocar em risco ainda mais a segurança de mães que já perderam os filhos para a violência da Polícia do Paraná, porque a Assembleia ‘não tem um plano’. É revoltante que não consigam garantir que a sociedade possa debater formas de acabar com essa violência. Vamos levar o debate para as ruas, onde as pessoas já vivem essa realidade”, adverte Renato Freitas.
Entre 2019 e 2024 foram vitimadas 2.354 pessoas no Paraná em decorrência de ações policiais. Os dados estão anotados no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, baseados em levantamento do GAESP (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública) e do Ministério Público.
Segundo estatísticas do próprio Ministério Público, em 2024, foram registradas 433 execuções policiais que deixaram 412 pessoas mortas no Paraná. Um aumento de 19% em relação ao ano anterior. Algumas dessas vítimas tinham entre 12 e 17 anos e quase metade eram negras (49%).

Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.