Evento também defendeu o fortalecimento do diálogo entre o Coletivo de Sindicatos e os diferentes movimentos sociais através da implementação da Rede de Comunicação Comunitária
Entre os dias 8 e 10 de maio, o Coletivo de Sindicatos promoveu a II Semana dos Trabalhadores e Trabalhadoras de Londrina e Região. O evento contou com o apoio do Portal Verdade, veículo de comunicação do grupo composto por 12 entidades sindicais, representando diferentes categorias vinculadas aos setores público e privado.
Abrindo a programação, na última quinta-feira (8), ocorreu no Calçadão de Londrina, a instalação de um varal de lutas, retratando as principais conquistas e lutas da classe trabalhadora no Brasil.
Os cartazes abordaram o início do movimento sindical no país, as primeiras greves, a repressão vivenciada durante a ditadura empresarial-militar até episódios mais recentes como o Massacre de 29 de abril.
Os sindicalistas também panfletaram e dialogaram com a população com o intuito de expor as principais demandas levantadas pelas categorias atualmente, a exemplo da implementação da lei sobre a igualdade salarial e a redução das jornadas sem cortes de salários.
Marcelo Seabra, presidente da ASSUEL (Sindicato dos Servidores Técnicos Administrativos da Universidade Estadual de Londrina), destacou a necessidade de ampliar o debate.
“Eu tenho percebido que esta discussão não tem sido devidamente levada aos meios de comunicação e com isso a população não tem tido oportunidade de discutir, a exemplo do fim da jornada 6×1, o que é uma reivindicação justíssima, principalmente, o pessoal do comércio, que é esfoliado, sem ter oportunidade de conviver com a família, se dedicar ao estudo, ao lazer, a pessoa vive somente para o trabalho”, pontuou.
Além da mostra, dirigentes das entidades sindicais que compõem o Coletivo, fizeram falas reforçando a importância da organização dos trabalhadores a fim de obter garantias que visem melhorar as condições de vida para toda a sociedade.
“Trabalhadores jamais se esqueçam, sem vocês nada é possível”, alertou Gilson Pereira, diretor do SindSaúde-PR (Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público da Saúde e da Previdência do Estado do Paraná).
O sindicalista chamou a atenção das pessoas que passavam pelo centro da cidade para as consequências da Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467) como o aumento da informalidade, levando ao desmonte de diversos direitos trabalhistas. Acompanhe:
Já o diretor do SindPRevs-PR (Sindicato dos Servidores Públicos Federais em Saúde, Trabalho, Previdência Social e Ação Social do Estado do Paraná), Lincoln Ramos, comentou a importância de fortalecer os serviços voltados à saúde do trabalhador.
De acordo com a liderança, este tema tem sido negligenciado ao passo que o adoecimento físico e mental dos trabalhadores tem aumentado cada vez mais. Conforme informado pelo Portal Verdade, em 2024, o país contabilizou quase meio milhão de afastamentos do trabalho por ansiedade e depressão no país. O índice é o maior observado nos últimos dez anos (relembre aqui).
O Paraná é o sexto estado que mais somou pedidos de afastamento no período. O estado computou aproximadamente 24 mil licenças decorrentes de queixas psicológicas em 2024. Confira:
Luciana Toshie Sumigawa, professora, diretora na Secretaria de Política Sindical da APP-Sindicato (Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do Paraná) – Núcleo Londrina, ressaltou a participação significativa das entidades sindicais, de representantes dos movimentos sociais e da população em geral no evento.
“Foram momentos que proporcionaram a informação e o resgate histórico das lutas coletivas pelos direitos trabalhistas vigentes, pelo respeito e valorização do trabalhador e da trabalhadora tanto da iniciativa privada quanto dos serviços públicos. Além das atuais pautas de lutas para a manutenção e a busca de melhorias dos direitos historicamente conquistados, do fortalecimento, da aproximação, organização e comunicação entre as entidades sindicais e os movimentos sociais”, indicou.
Luta contra pejotização
Prosseguindo com a programação, na sexta-feira (9), ocorreu o lançamento da campanha de financiamento coletivo do Portal Verdade (saiba mais aqui), seguido de palestra com o professor da UEL (Universidade de Londrina) e juiz da 6ª Vara do Trabalho, Reginaldo Melhado.
O magistrado abordou as consequências das decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a pejotização, modelo de contratação que tem crescido desde a Reforma Trabalhista, intensificando a precarização.
No último dia 14 de abril, o ministro Gilmar Mendes, suspendeu a tramitação de todos os processos que discutem a legalidade da chamada pejotização no país.
O termo é usado para se referir a empresas que contratam prestadores de serviços como pessoa jurídica (PJ), evitando arcar com os encargos trabalhistas ligados à contratação de funcionários por meio de vínculo formal de emprego.
Entre os retrocessos, Melhado destacou o desmantelamento do direito do trabalho e a extinção de garantias das quais dependem a sobrevivência da classe trabalhadora como o sistema previdenciário.
“A palestra do juiz Reginaldo [Melhado], trouxe o importante alerta de retiradas de direitos trabalhistas e do futuro da previdência social para o trabalhador a partir das decisões do STF a respeito da pejotização”, sinalizou Sumigawa.
TV Verdade e Rede de Comunicação Comunitária
Já no sábado (10), ocorreu o lançamento da TV Verdade e apresentação da Rede de Comunicação Comunitária, projeto que visa fortalecer o diálogo entre o veículo e os diferentes movimentos sociais.
Neste primeiro encontro, os coletivos apresentaram suas experiências em relação à comunicação, demandas e dificuldades a fim de publicizar suas pautas e lutas bem como ampliar o debate com toda a sociedade.
O próximo passo é a oferta de oficinas sobre audiovisual com o intuito de que os grupos possam aprimorar técnicas de produção de conteúdos que contribuam para amplificar suas vozes.
Os materiais serão divulgados na TV Verdade, cuja estreia ocorre no segundo semestre deste ano (saiba mais aqui).

Foto: Leiliani de Castro
Cecília Rocha, aluna do ensino médio no Colégio Estadual Vicente Rijo, integrante do movimento estudantil, evidenciou a importância de garantir que os coletivos apresentem as suas demandas “em 1ª pessoa”, ou seja, que possam falar por eles mesmos.
“Ter esse espaço de acolhida e de mídia, de massa mesmo, na qual a gente consiga transpor os nossos trabalhos para outras realidades e a nossa idealização de um mundo para outras pessoas, para que coletivamente essa construção seja possível, é essencial para a melhoria da cidade, do estado e do país como um todo, para que haja outras mídias similares”, afirmou.

Foto: Leiliani de Castro
Anire Niara, publicitária, integrante da Frente Trans Londrina também pontuou a urgência de ocupar os meios de comunicação a fim de apresentar narrativas próprias, que busquem desconstruir discursos estereotipados e reprodutores de violências.
“O mais importante dentro desse evento foi, primeiramente, me conectar com os outros coletivos, conseguir fazer essa rede, perceber as demandas que a gente tem, não só a partir da visão do coletivo Frente Trans, mas a partir dos outros movimentos sociais que a gente possui na cidade. E perceber também essa iniciativa de querer comunicar a partir de outra visão que a gente encontra em Londrina hoje em dia. A visão desses coletivos e das pessoas falando sobre suas demandas necessárias”, avaliou.

Danilo Leati Nunes, estudante de Ciências Sociais na UEL, membro do Levante Popular da Juventude, destacou a importância da TV Verdade e da Rede de Comunicação Comunitária para disputar a opinião pública em prol da construção de uma sociedade mais diversa e inclusiva.
Márcio Teixeira, representante do Centro de Direitos Humanos de Londrina e do Circuito Londrinense de Batalhas de Rima, classificou o surgimento da TV Verdade e da Rede de Comunicação Comunitária como “uma esperança”, principalmente, para a parcela da população ainda à margem do direito à informação. Além disso, ele evidenciou o papel do veículo no combate à desinformação.
“Conseguir chegar em todos os espaços, em todos os ambientes. Eu acho que é trazer toda a população londrinense para conhecer a verdade. Acho que esse é o maior papel do Portal e também da televisão”, acrescentou.
O jornalista e documentarista, representante do Coletivo Cocine (Coletivo de Cinema Negro de Londrina), Fagner Bruno de Souza, também assinalou o papel de veículos independentes no combate às notícias falsas e construção de visões outras, mais aprofundadas sobre os fatos.
“Eu já conheço o Portal Verdade, acho um veículo de comunicação bem interessante que traz essa abordagem, vamos dizer contra hegemônica da comunicação e que é uma plataforma importante para a gente tentar entrar em contato com uma informação mais próxima da realidade, afastando confusões com relação a como que a gente percebe a realidade, que é alguma coisa que está acontecendo ultimamente, essas distorções da realidade, fake news e tudo mais”, observou.

Para Sumigawa, a maior aproximação entre as organizações sindicais e os movimentos sociais foi um dos avanços desta edição.
“O evento proporciona a informação e a reflexão sobre os direitos trabalhistas conquistados historicamente, a partir do resgate histórico das lutas e das resistências coletivas e traz a importância da consciência de classe e da participação efetiva dos cidadãos, das entidades sindicais e dos movimentos sociais para a manutenção e avanços dos direitos trabalhistas e da qualidade de vida para todos e todas”, complementou.


Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.