Ambas as professoras lecionavam Língua Portuguesa, uma das mais impactadas pela plataformização
Em menos de uma semana, duas professoras morreram dentro de escolas estaduais, localizadas em Curitiba. O primeiro caso, ocorreu no último dia 30 de maio, Silvaneide Monteiro Andrade, faleceu dentro do Colégio Cívico-Militar Jayme Canet.
Conforme informado pelo Portal Verdade, a docente lecionava Língua Portuguesa na unidade e passou mal durante uma reunião com a equipe pedagógica e representantes do Núcleo Regional de Educação.
De acordo com informações coletadas pela APP-Sindicato (Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do Paraná), a professora foi chamada por pedagogas e diretores para explicar por que não estava cumprindo metas de redação previstas em uma das plataformas educacionais adotadas pela SEED (Secretaria Estadual de Educação).
Já nesta quinta-feira (5), a professora Rosane Maria Bobato faleceu enquanto trabalhava no Colégio Estadual Santa Gemma Galgani. A docente passou mal durante o expediente, chegou a ser acolhida na coordenação da escola, mas não resistiu.
Rosane também lecionava Língua Portuguesa e acumulava mais de 29 anos de atuação na rede estadual de ensino do Paraná. Ao longo de sua trajetória, também ocupou o cargo de diretora no mesmo Colégio.
Claudia Gruber, secretária de comunicação da APP-Sindicato, chama atenção para o fato de que as duas professores eram responsáveis pela disciplina de Língua Portuguesa, uma das mais afetadas pela plataformização, que corresponde à adoção massiva de aplicativos e programas para gerenciar atividades educacionais, desde aulas online a ferramentas de avaliação.
“A disciplina de Língua Portuguesa, além dos quizzes, que são exercícios semanais, também tem a plataforma do ‘Leia Paraná’ e do ‘Redação Paraná’, que exigem uma demanda de trabalho acima da média dos demais professores porque antes é necessário ler os livros que vão ser discutidos com os alunos, as redações têm que ser elaboradas e corrigidas com bastante atenção. E essas atividades não são apenas atividades educacionais, são metas que têm que ser cumpridas dentro da escolas”, ressalta.
“O que a gente percebe é que o uso crescente de plataformas tem retirado a autonomia do professor porque eles se tornam apenas meros repetidores de atividades e a cobrança vem tanto por parte das direções, equipes pedagógicas e Núcleos de Educação para que se atinja as metas previstas. Isso vem impactando muito a saúde mental, causando estresse, desgaste dentro da categoria”, ela acrescenta.
Além disso, o Colégio Estadual Santa Gemma Galgani integra o programa “Parceiro da Escola”, implantado pelo governo do Paraná e responsável por transferir a administração de aproximadamente 200 escolas para a iniciativa privada. A iniciativa é amplamente criticada por educadores que apontam a precarização das condições de trabalho e consequente intensificação do adoecimento da categoria.
Dirigentes da APP-Sindicato estiveram na escola para prestar apoio à comunidade e à família da professora, além de buscar mais informações sobre as circunstâncias da morte.
“Neste momento de dor e consternação, prestamos nossa solidariedade e sinceras condolências aos familiares, amigos, alunos e ex-alunos ,colegas de trabalho, comunidade escolar e todos que tiveram o privilégio de conviver com o exemplo da professora Rosane, sua história e sua paixão pela educação”, disse a entidade em nota.

Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.