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Famílias perdem tudo em incêndios em duas áreas de ocupação de Curitiba

Pedem agora apoio da sociedade para reconstruir as casas

Na virada de ano, famílias de duas ocupações urbanas, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) sofreram com a perda de suas casas e de todos os pertencentes, em incêndios que impactaram cerca de 10 famílias, que estão agora sem moradia e contando com campanhas solidárias para reerguer aquilo que o fogo consumiu.

O primeiro incêndio ocorreu ainda no dia 29 de dezembro, na ocupação Nova Primavera, por razões ainda desconhecidas. O fogo tomou conta de cerca de oito casas, num período do ano marcado por maior dificuldade em conseguir doações e acionar os órgãos do Judiciário.

Em comum, diante da timidez do poder público, associações de moradores das duas áreas estão conduzindo o processo de solidariedade e limpeza dos terrenos.

Como foi sinalizado por Madianita Nunes da Silva, professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em reportagem do Brasil de Fato Paraná de dezembro de 2023, independente da motivação do incêndio, de causas ainda desconhecidas, mesmo assim é fato que a ausência de regularização fundiária torna as ocupações mais vulneráveis, devido à precariedade da fiação e mesmo à proximidade entre as casas.

“A falta de políticas de urbanização integral e integrada de favelas, somada à predominância de uma política baseada na aquisição da casa própria como regra, aprofundam ainda mais as condições de vulnerabilidade social, precariedade habitacional e risco a que estão sujeitas as famílias mais empobrecidas que vivem nesses espaços de moradia popular”, afirma.

Em particular, a Nova Primavera data de 2012 e é organizada no Movimento Popular por Moradia (MPM). Na área, suas casas são extremamente próximas, uma vez que foram construídas em período quando os movimentos populares pressionavam a prefeitura por realocação e políticas públicas. O que acabou não ocorrendo e as famílias acabaram se assentando no local.

“Precisamos reconstruir as coisas, desafogar o aperto que estava aqui, e arrecadar material de construção e de elétrica” / Eduardo Manfre

Desassistência

As famílias e lideranças locais questionam o baixo acompanhamento por parte da administração regional da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e da Prefeitura de Curitiba, que, segundo as lideranças, teriam prestado apoio imediato, mas não para a estrutura que as famílias precisam, de máquinas para limpar o terreno, materiais de construção e apoio devido à queima de documentos, para citar alguns exemplos.

“Não resolveu nada, apenas o emergencial. Afirmaram que não tem o que fazer por sermos uma ocupação irregular”, protesta Denis, morador desde o início da ocupação, já chegou a ser coordenador da área, mas hoje afirma ser apenas uma liderança que “tomou a frente mais para ajudar na organização”.

A análise de Madianita complementa esse cenário que revela ligação entre falta de políticas públicas de moradia digna e risco de incêndios: “O enquadramento das famílias residente em favelas como invasoras, presente nos discursos formulados para justificar despejos e outros tipos de violência, criminaliza as famílias que vivem nestes assentamentos, afastando o Estado das razões que justificam sua atuação no âmbito da política habitacional no Brasil”, afirma.

Filho de antiga liderança que deu nome à ocupação que fica ao lado e se chama Dona Cida, Denis busca agora, junto com os moradores, reorganizar o terreno, de maneira que as futuras moradias não fiquem tão apertadas no espaço. “Precisamos reconstruir as coisas, desafogar o aperto que estava aqui, e arrecadar material de construção e de elétrica”, afirma.

Ocupação Tiradentes

Uma semana depois do incêndio na Nova Primavera, no dia 6 de janeiro, houve novo incêndio, desta vez na ocupação vizinha, chamada Tiradentes, possivelmente devido a um problema na rede elétrica.

A Tiradentes, ao contrário da área vizinha, a Tiradentes II, abriga maior número de famílias, em período anterior à pandemia, e a associação de moradores tem a expectativa de neste ano avançar no projeto de regularização fundiária. Em que pesem as casas serem mais espaçadas e os terrenos mais amplos no local, mesmo assim o incêndio destruiu três casas, deixando oito pessoas ao todo impactadas.

É o caso de Agnaldo de Lima Junior, trabalhador que vive de bicos, quem perdeu tudo com o incêndio e está morando na garagem do irmão, que fica logo ao lado e foi parcialmente afetada pelas chamas. Ele narra que foi possível, durante o fogo, salvar poucas coisas, caso do fogão e de um sofá, o restante está perdido.

Para ajudar as famílias

No caso do incêndio da Nova Primavera, a Ong Teto, que já realizou trabalhos de construção na região, lançou campanha de arrecadação para reconstrução das casas no local. Para saber mais como ajudar, basta acessar:

“A Nova Primavera foi a primeira comunidade da Vila Corbélia, criada em 2012, com aproximadamente 500 famílias. Todos os moradores afetados pelo incêndio residem na comunidade há pelo menos 8 anos. Parceira da TETO desde 2021, a comunidade Nova Primavera já construiu 30 moradias de emergências ao lado de nossos voluntários”, afirma o site da entidade.

No caso da família de Agnaldo, na Tiradentes, é possível entrar em contato no número para saber como apoiar: 41 984057442

Foi possível, durante o fogo, salvar poucas coisas, caso do fogão e de um sofá, o restante está perdido. / Eduardo Manfre

A reportagem do Brasil de Fato Paraná está até o momento tentando contato com a regional CIC, e ainda não obteve resposta.

Fonte: BdF Paraná

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