Coleta de dados sobre o consumo das famílias brasileiras é fundamental para políticas públicas e cálculo da inflação
Desde novembro de 2024, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realiza a coleta da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). Um dos objetivos principais é compreender a condição financeira das famílias brasileiras.
A partir dos dados coletados serão definidas diferentes políticas públicas, como o valor do salário-mínimo e da cesta básica. A expectativa é que sejam visitados mais de 100 mil endereços até novembro de 2025.
De acordo com informações disponibilizadas no site do órgão, os dados da pesquisa servem para atualizar as estruturas de ponderação do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), produzido pelo IBGE, e também para calcular variações no consumo das famílias.
Segundo Leonardo Henrique Santos Tulio, supervisor regional do IBGE no Norte do Paraná “muitos outros estudos podem ser extraídos da pesquisa como planejamento da segurança alimentar, habitação, educação, transporte, benefícios sociais, nutrição e saúde, a POF é uma das pesquisas mais completas nos resultados”, aponta.
A pesquisa é realizada em todo o país de cinco em cinco anos e os agentes de coleta trabalham durante 12 meses com o intuito de captar as mudanças no consumo durante o ano. O levantamento é realizado por amostragem, ou seja, não são todos os domicílios do país que respondem. Essa é uma técnica estatística que faz com que parte da população selecionada represente as características da população como um todo.
“Cada coleta importa em uma pesquisa amostral, na POF, cada domicílio representa cerca de outros 800 domicílios, a depender de cada estado”, ressalta o supervisor.
A duração da pesquisa é de nove dias em cada família, já que os agentes voltam para conferir os gastos no período, são no mínimo quatro visitas.
Responder aos questionários é obrigatório, conforme consta na Lei n° 5.534/68, a mesma que garante que os dados só podem ser utilizados para fins estatísticos, assegurando o sigilo das informações prestadas.
Dificuldades na coleta
Os agentes, responsáveis pela pesquisa, apontam que a coleta tem sido prejudicada por diversos fatores que vão desde desconhecimento dos objetivos do estudo, o receio de partilhar informações pessoais ao sucateamento do órgão.
Porém, os agentes de coleta podem ser identificados por meio do colete do órgão e de crachás, que apresentam o nome, a foto e alguns dados do agente, como o número de matrícula do IBGE. A identidade do entrevistador pode ser verificada por meio do site https://respondendo.ibge.gov.br/ ou pelo telefone 0800 721 8181.
O IBGE também reforça que não solicita documentos nem números de contas bancárias.
Apesar da importância da pesquisa, os agentes relatam que algumas pessoas ficam com receio de responder.
Tainá Araujo, agente de pesquisas e mapeamento da agência de Londrina comentou essa questão. “Os problemas são a falta de noção dos informantes sobre a obrigatoriedade de responder ao órgão e as agressões verbais, alguns veem no agente do IBGE alguém que está ali para servi-lo e, portanto, pode ser tratado da maneira que este bem entender”, afirma.
Além disso, os entrevistadores pontuam que é essencial manter o contato com os domicílios, já que a POF é realizada ao longo de vários dias, mas nem sempre isso é possível.
“Alguns moradores recebem bem os agentes e entendem o propósito da pesquisa, mas depois não atendem mais à porta nem ao telefone. Argumentam que vão perder benefícios do governo. Mas tudo isso nós esclarecemos e também sobre a confidencialidade dos dados obtidos”, comenta Margot Balthazar da Nóbrega, supervisora de coleta e qualidade da agência de Paranaguá.
Gustavo Tetsuo Hirata Yendo, chefe da agência de Colombo (região metropolitana de Curitiba), explicou que a indisponibilidade de horários de algumas famílias também dificulta o trabalho dos agentes.
“Os moradores saem de casa bem cedo para trabalhar na capital e chegam bem tarde, impossibilitando que nossa equipe consiga abordar e entrevistar em horário comercial”, aponta.
Ainda, Tulio relata que a dificuldade na realização das coletas não se restringe à POF, mas tem ocorrido também com outras pesquisas aplicadas pelo órgão.
“Algumas vezes nossos agentes são tratados com falta de respeito, ignorados e até mesmo ofendidos. Isso não pode ser visto como regra, mas a frequência que tem ocorrido é preocupante. Sabemos que há diversos informantes bem-educados e receptivos, que entendem a importância do IBGE e mais ainda que estamos fazendo nosso trabalho para conseguir retratar o Brasil, que queremos o melhor para o nosso país”, ressalta.
Matéria da estagiária Laís Amábile sob supervisão.