De acordo com relatos, rapaz não estava foragido e não portava arma durante a abordagem
No fim da tarde desta terça-feira (10), Londrina registrou novos protestos contra a violência policial.
Ecoando gritos como “não foi confronto, foi execução”, os manifestantes atearam fogo em pneus e bloquearam o trânsito em quatro pontos da cidade: na avenida Theodoro Victorelli, entre a zona leste e a região central; na Avenida Saul Elkind, próximo ao Flores do Campo (zona norte); na Avenida Brasília, na Vila Marízia (região central) e nas proximidades do Jardim Nossa Senhora da Paz (zona oeste).
A principal motivação foi denunciar a morte de Gabriel Felipe Rodrigues Dalbello, de 22 anos, na manhã da última sexta-feira (6), no Jardim Interlagos (zona leste).
Os familiares repudiaram a ação policial que resultou na morte do jovem e contestaram a versão de que uma equipe da Rotam (Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas) tentou interpelar “um suspeito” trafegando em um veículo Corsa branco. Ele teria reagido à abordagem policial e apontado uma pistola para os agentes.
Nota divulgada pelo 5º Batalhão cita que os policiais precisaram neutralizar a ameaça e garantir a integridade física da equipe.
“Ele [Gabriel] não estava com arma alguma, ele tinha acabado de acordar, estava sem camisa, só de short de pijama”, rebate Daiane Rodrigues, tia do jovem em entrevista ao Portal Verdade.
Ainda, segundo a PM, o suspeito era investigado pelo envolvimento em diversos crimes de furtos e roubo na região norte do Paraná.
Gabriel, de acordo com a corporação, tinha um mandado de prisão em aberto por roubo qualificado em Ibiporã e usava tornozeleira.
Segundo Daiane, o rapaz tinha passagens policiais, mas não estava sendo procurado. Ainda, ela aponta que Gabriel havia saído de sua residência para buscar uma calça na casa da avó.
“Em nenhum momento a gente omitiu essa versão, não era o que a família queria, mas ele já tinha várias passagens, só que ele não era procurado, sabiam onde achar ele e por isso que hoje ele está morto”, diz.
Agentes da Rotam e Choque acompanharam a manifestação efetuando, inclusive, disparo de bala de borracha contra os populares.
“Houve essa manifestação, partiu de nós, da família. A gente só quer ser enxergado, porque nós da periferia vivemos sendo oprimidos por aqueles que deviam nos proteger”, adverte Daiane.
Ainda, os familiares alegam que já tinham presenciado a polícia ameaçar Gabriel. “Eles [policiais] estão passando na em frente à casa da minha avó, da minha tia e tirando sarro, oprimindo”, acrescenta.
O jovem também deixa a companheira, Emily de Souza, e um filho, que vai completar dois anos em dez dias.
Questionada pela reportagem, se a família pretende instaurar uma investigação independente, Daiane compartilha que ainda estão analisando, mas enfatiza a descrença na justiça e em apurações imparciais.
“Não adianta a população falar o que convive e passam na mão deles. Por que não levaram ele para a delegacia em vez de matar?”, pergunta.
“Se eles que eram trabalhadores [Kelvin dos Santos e Wender da Costa] fizeram isso, o Gabriel jamais sairia vivo da mão deles”, complementa em referência aos jovens mortos em fevereiro, na favela da Bratac.
