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No campo, desemprego atinge duas vezes mais mulheres

Rendimento médio é 58% inferior ao das trabalhadoras urbanas. Nas cidades, mulheres recebem, em média, R$ 985 a mais

Com base em dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no final de 2022, existiam 10,8 milhões de mulheres em idade economicamente ativa, ou seja, com 14 anos ou mais vivendo na zona rural. O índice equivale a 12% da população feminina disponível para integrar a força de trabalho no país. Ainda, segundo o mapeamento, elas correspondem a 47,6% da mão de obra concentrada no campo.

Entre as 3,8 milhões de mulheres rurais exercendo alguma atividade ou a procura de trabalho: a maioria estava ocupada (3,4 milhões) e 326 mil estavam desempregadas. Já a proporção de mulheres que residem no campo e está fora do mercado foi bastante expressiva, chegou a 7 milhões, isto é, mais do que o dobro das que estão desenvolvendo alguma função.

A antropóloga Thaisa Andrade considera que, o desemprego ainda maior entre mulheres moradoras do ambiente rural em comparação aos centros urbanos, ocorre porque no campo a divisão sexual do trabalho é ainda intensa, ou seja, devido as atividades econômicas serem mais restritas, é muito frequente que a população rural tenha que se deslocar para as cidades a fim de aumentar as chances de empregabilidade. Com isso, as mulheres, historicamente destinadas aos afazeres domésticos seja no campo ou nas grandes metrópoles, tendem a demorar mais para ingressar no mercado de trabalho formal.

“Temos observado que na zona rural, a responsabilização exclusiva da mulher pelos cuidados domésticos é ainda mais frequente do que nas cidades, onde o mercado de trabalho é mais amplo e requer inserções de perfis profissionais distintos. Mas isto não quer dizer que as mulheres camponesas não conciliem alguma ocupação juntamente com o serviço doméstico, cuidado com dependentes, assim como nas cidades, a maioria delas possui jornadas duplas, triplas”, pontua.

No final de 2022, a taxa de desocupação média para todas as mulheres no país foi de 9,9% enquanto da população total, atingiu 7,9%. Para a população total da zona rural, o percentual foi de 6,3% e, para os homens, de 4,0%. A taxa de desocupação das mulheres foi muito maior, chegando a 8,7%.

Do total da população feminina rural desocupada em 2022: 65,6% eram negras e 34,4% brancas. Entre as desempregadas com domicílio rural, essa proporção é ainda maior: 77,6% são negras. A pesquisa também demonstra que houve queda de 3,4% na participação das mulheres rurais no mercado de trabalho entre 2019 a 2022, ou seja, antes e após a pandemia de Covid-19. Ao menos, 120 mil mulheres deixaram seus postos neste período.

Setores e informalidade

As áreas que mais empregaram mulheres camponesas no último ano foram: segmento agrícola (34,4%); educação, saúde e serviços sociais (16,1%); serviços domésticos (15,1%); comércio (10,7%) e indústria (9,9%).

A maior parte das trabalhadoras do campo não possui carteira assinada e, portanto, está desprotegida, sem acesso a direitos como descanso remunerado, férias, 13º salário, entre outros. Somente 41,8% das ocupadas na zona rural contribuíram para a Previdência Social no ano passado. O percentual demonstra um pequeno aumento face a 2019, quando aproximadamente 40% recolhiam para o fundo de garantia.

Empregadas no setor privado sem carteira de trabalho assinada somam mais de 349 mil, representando 10,2%. Já desempenhando trabalho doméstico sem carteira assinada chegam a aproximadamente 427 mil mulheres, totalizando 12,7%. Entretanto, a maioria sobrevive exercendo funções por conta própria: 27,4%, contabilizando 942 mil.

Desse total, 88,7% não tinham Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), o equivalente a 835,6 mil mulheres. Os dados ainda mostram que houve elevação de 13,5% no número de mulheres empregadoras na zona rural no período analisado – cerca de 7 mil a mais.

Rendimentos

O rendimento médio das mulheres ocupadas que moravam na zona rural no último ano foi de R$ 1.356,40, equivalendo a aproximadamente 58,0% do valor de R$ 2.341,50 recebido, em média, por todas as mulheres ocupadas no país. Os menores salários no campo foram percebidos pelas ocupadas no emprego doméstico, equivalendo, em média, a apenas R$ 760,26, quantia inferior a um salário mínimo.

Os dados do 4º trimestre de 2022 mostram também que a remuneração média das mulheres com domicílio rural foi em média 20,0% menor do que a dos homens. Apenas no setor agrícola, a desigualdade é um pouco menor, representa 16,2%. A maior diferença salarial entre homens e mulheres com domicílio rural ocorreu na indústria, onde a remuneração das mulheres foi, em média, 35,4% menor do que a dos homens; e no trabalho doméstico, onde as mulheres receberam, em média, 42,2% a menos do que os homens.

“Os resultados deste estudo, além de confirmarem a maior vulnerabilidade das mulheres no mercado de trabalho, revela que a situação das mulheres residentes na zona rural é ainda mais adversa – tanto em relação às mulheres das zonas urbanas, como em relação aos homens do campo. Também se pôde observar que a situação das mulheres negras no campo –que são mais de 60% da força de trabalho feminina rural – é ainda mais instável, caracterizando-se por maior dificuldade de inserção, menores rendimentos e ocupações precárias”, observa o documento.

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Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.
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