Conforme pesquisa AtlasIntel, divulgada nesta sexta-feira (dia 31), 55,2% da população brasileira aprova a matança promovida pela Polícia do Rio de Janeiro. O governo fluminense chama, e a imprensa pode reverberar, de megaoperação, mas o resultado é uma matança, extermínio mesmo. Enquanto isso, 42,3% dos brasileiros desaprovam essa ação sangrenta.
Esses dados mostram que parte da população brasileira comemorou a operação violenta das polícias, sob o comando do direitista governador Cláudio Castro, do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por comandar um golpe contra a democracia brasileira. Isso não é mera coincidência. A comemoração da matança foi feita por gente que se diz cristã, pró-vida, mas esconde a maldade com um Bíblia nas mãos.
Ainda de acordo com a pesquisa AtlasIntel, 52,5% dos entrevistados consideram adequada a violência empregada pelas polícias: tiro nas costas, tiro na cabeça, cabeça decepada. O resultado: 121 pessoas mortas.
A carnificina da direita brasileira é aplaudida pela população e deverá render muitos votos em 2026, ano eleitoral.
Esses números são indícios de que a maior doutrinação no Brasil é a que semeia o ódio ao pobre, visto como problema, sendo a limpeza uma solução. Não à toa, surgem aos montes, em governos de direita, projetos para proibir pessoas em situação de rua, interná-las à força ou mesmo proibir doação de refeições. Isso mesmo! Impedir a doação de um prato de comida.
O ódio da própria classe, de novo!, tem várias causas. Uma que pode explicar isso é a cultura para o trabalho. Essa cultura é construída permanentemente por todas as instituições, da família às escolas; da igreja ao estado. Para vencer, é preciso trabalhar e quem não trabalha é vagabundo, mas nessa mesma cultura, nem todo trabalhador tem o mesmo status. Enquanto médico recém-formado sem doutorado é chamado de doutor, o gari é invisível para a maioria da população.
A ideologia produz sentidos para projetar uma ideia, implantar uma percepção, corroborar uma narrativa e consolidar um projeto. E tudo isso é materializado na linguagem. Nesse contexto, frases de autoajuda, provérbios, ditados, declarações de famosos ajudam a disseminar o trabalho como elemento essencial e dignificante. Recadinho aos apressados: aqui, o objetivo não é desqualificar o trabalho, que é necessário, mas refletir sobre os males que a cultura do trabalho causa ao trabalhador. Pelo fim da escala 6X1! Ops, esse é tema para outra coluna.
Voltando às frases, provérbios e ditados, quem nunca disse ou nunca escutou algo do tipo? “O trabalho dignifica o homem.” “O trabalho mais duro que existe é não fazer nada.” “Deus ajuda quem cedo madruga”. “Quem não trabalha não come”. “O trabalho é a fonte de todas as riquezas”; “O preguiçoso fica pobre, mas quem se esforça no trabalho enriquece.” “Treine enquanto eles dormem, estude enquanto eles se divertem, persista enquanto eles descansam, e então, viva o que eles sonham.”
E o que isso tem a ver com a matança da polícia do Rio de Janeiro? Tem tudo a ver. Favela é – para o imaginário coletivo – lugar de vagabundos e bandidos, gente que não trabalha; favelados, portanto, são um problema a ser eliminado. Não à toa, muitas pessoas – nas redes sociais – chamaram a chacina de Cláudio Castro de limpeza. E muitos, ainda, pediram que se fizesse uma limpeza semanal.
Associar trabalho à riqueza é uma estratégia para cativar o trabalhador, que não enriquece, porque não detém os meios de produção. E aqui a noção de riqueza é confundida, de forma proposital, para que se mergulhe cada vez mais no trabalho. Trabalhador bem remunerado que perde emprego não sustenta seu padrão de vida. Isso é a prova que esse tipo está mais perto dos pobres do que dos ricos, mas na luta de classes, ele fica do outro lado. É o ódio da própria classe, de novo!

Reinaldo Zanardi
Jornalista, doutor em Estudos da Linguagem, mestre em Comunicação. Diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná. Professor do Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina. Membro do Conselho Municipal de Política Cultural de Londrina.












