Nos últimos meses, veio à tona o debate público, alçado por projetos do governo federal, para taxar os super-ricos, que proporcionalmente pagam menos impostos. Na esteira dessa discussão, o discurso de que não se pode criar a polarização social. Uma falácia. Um engodo. Um engano. Tudo para manter a desigualdade. De sempre. Se a maioria dos brasileiros (90%) vive com menos de 3.500,00 onde está a polarização, se nove entre 10 brasileiros são pobres?
O discurso de não criar a polarização social atende à cultura da subserviência – você pode também chamar de obediência civil – dos mais pobres à elite privilegiada. De sempre. Essa cultura tem uma construção histórica e usa, entre outros aparelhos ideológicos, a escola pública e o trabalho para a sua doutrinação.
A escola historicamente é usada para formar mão de obra. Associada ao mercado de trabalho, a escola torna-se formadora de mão de obra barata. Associada ao ataque a organizações de trabalhadores, mão de obra barata e obediente. O modelo de escola ideal, nesse contexto, é o da escola cívico-militar que preza mais pela ordem do que pela emancipação dos seus estudantes.
Questionar, a base da construção do pensamento crítico, é considerado um ato de insubordinação. Afinal, o militarismo é uma ideologia que cultua valores como hierarquia, disciplina e obediência. Nesse contexto, a militarização – que não dá conta de uma segurança pública eficaz – torna-se ainda menos eficiente quando se trata de ensino e aprendizagem.
Por que a militarização não dá conta de uma segurança pública eficaz? Porque as forças de seguranças militares são doutrinadas para combater quem enxergam como indesejados. Numa sociedade que odeia pobre, este se torna o alvo preferencial. Por isso, as forças de segurança mantêm relações íntimas com projetos higienistas. Nesse sentido, os ataques sistemáticos à comunidade da Bratac, por exemplo, promovidos pela Polícia Militar do Paraná em Londrina, não são pontos fora da curva. Fazem parte de um projeto de poder.
Recentemente, o Portal Verdade divulgou em suas redes sociais, um vídeo em que agentes da PM invadiram a praça da Favela da Bratac, com bombas e spray de pimenta. O saldo da violência foi, além do aniversariante que comemorava com amigos ter sido preso, uma criança atingida por uma bala de borracha. Bala de borracha do estado contra uma criança.
Como falar em não criar polarização social de pobres contra ricos se o que existe é pobre contra pobre? Exatamente. Policial militar assalariado é um trabalhador pobre que ataca morador pobre de favela. Ah, mas ele é bem remunerado, podem contra-argumentar. Sim, mas continua sendo trabalhador assalariado e isso não o coloca na categoria de rico. E muito menos de super-rico.
E o que mais tem é trabalhador – bem e bem mal remunerado – a defender o ataque à gente pobre e às políticas de inclusão social. Exemplos não faltam. Somente para citar três: i) servidor público – do alto da sua estabilidade funcional – ser contra o Bolsa Família e defender o empreendedorismo; ii) professor concursado – que fez graduação, mestrado e doutorado gratuitamente na escola pública – atacar o sistema de cotas; iii) celetista atacar os sindicatos e outros organizações de trabalhadores.
O conceito de ódio de classe surge no contexto da luta de classes, expressão desenvolvida pelos filósofos alemães Karl Marx e Friedrich Engels. Esse ódio, de forma simplificada, deriva das diferenças de classes sociais nas quais umas têm mais acesso a bens e serviços do que outras. Como o ódio ao pobre é terceirizado para as classes médias trabalhadores, não é exagero afirmar que o principal problema não é o ódio de classe, mas o ódio da própria classe.
Reinaldo Zanardi
Jornalista, cronista, professor universitário e diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná.

Reinaldo Zanardi
Jornalista, doutor em Estudos da Linguagem, mestre em Comunicação. Diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná. Professor do Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina. Membro do Conselho Municipal de Política Cultural de Londrina.










