O Paraná é o segundo estado que mais registrou casos de violência contra jornalistas no país no ano passado. A informação consta no Relatório de Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa 2024, divulgado nesta terça-feira (20/05) pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ). Com 15 ocorrências, que correspondem a 10,42% do total de situações registradas no Brasil, os ataques contra profissionais do jornalismo paranaense só ficam atrás daqueles relacionados em São Paulo – 23 casos e que correspondem a 15,97% do total apurado pela Federação.
O jornalismo paranaense também é o que mais sofre com a violência no Sul do país. Dos 31 casos registrados pelos três estados da região em 2024, pouco mais da metade foram notificados aos SindijorPR e Sindijor Norte PR. Em termos absolutos, o número de ocorrências no Paraná também cresceu em relação aos dados de 2023, quando o estado teve 11 ataques anti-imprensa incluídos no relatório da FENAJ.
Paraná e Santa Catarina também são os únicos estados da federação em que as mulheres foram vítimas mais frequentes de ataques na comparação com os casos registrados contra homens. Foram sete jornalistas atacadas durante o exercício da profissão, enquanto seis homens sofreram violências no mesmo período. Em dois casos, segundo o relatório, os ataques foram de caráter coletivo.
Profissão perigo
Entre os dados de jornalistas que sofreram violência em 2024 registrados pela FENAJ, chama a atenção uma ocorrência notificada ao SindijorPR em setembro, quando um videorrepórter da TV Iguaçu/Rede Massa – empresa da família do governador do estado, Ratinho Junior – foi ameaçado por um homem enquanto realizava a cobertura de um acidente de trânsito, em Curitiba. Na ocasião, o autor do ataque usou um cabo de vassoura para intimidar o jornalista.
O episódio de violência no exercício da profissão foi registrado pelo próprio jornalista ameaçado. Isso porque o profissional era contratado pela emissora para exercer a função que vem sendo chamada de videorrepórter: em que um mesmo jornalista apura informações, entrevista pessoas e capta imagens, inclusive a própria presença no vídeo. Na situação em questão, ainda havia o agravante de o profissional também estar dirigindo o veículo de reportagem.
Desnecessário dizer que, apesar do acúmulo evidente de funções, os profissionais contratados como videorrepórteres, salvo raríssimas exceções, não recebem qualquer tipo de adicional. Ao contrário disso, têm sido frequentemente ainda mais precarizados, tendo em vista que as empresas vêm empurrando estes jornalistas para a informalidade, ao optar pela contratação como prestadores de serviço, sem a formalização do registro em carteira. Muitos ainda têm utilizado equipamentos e veículo próprios, igualmente sem remuneração adicional pelos custos de produção assumidos.
Sem a proteção social adequada e praticamente ‘pagando para trabalhar’, estes profissionais ainda acabam expostos a mais riscos em relação aqueles que atuam em equipes minimamente estruturadas. Neste sentido, têm sido cada vez mais frequentes os casos de ‘jornalistas que fazem tudo sozinhos’ que buscam os sindicatos para expor a própria condição de vulnerabilidade.
Avanço da precarização
A possibilidade de contratações ao melhor estilo “leve 3, pague 1” tem caído no gosto das empresas, fazendo com que grandes grupos de comunicação aumentem a contratação de jornalistas para atuar como videorrepórteres. Sem estabelecimento de parâmetros mínimos na legislação ou na Convenção Coletiva de Trabalho, a falta de regulamentação beneficia o bolso de quem economiza para contratar e penaliza quem precisa se submeter a essa situação para conseguir uma vaga no mercado de trabalho.
A situação é objeto de alerta máximo no Paraná, o que fez com que jornalistas pedissem ao SindijorPR e ao Sindijor Norte PR para que a situação dos videorrepórteres fosse levada para a mesa de negociação coletiva. No apelo formalizado na pauta de reivindicações da categoria, jornalistas cobram parâmetros mínimos, o que inclui devido adicional pelo acúmulo de funções e para fazer frente ao aumento da vulnerabilidade no exercício profissional.
Desde março, os sindicatos de jornalistas vêm insistindo junto às entidades patronais – SERT-PR e Sindejor-PR – para que a função seja regulamentada, com previsão de adicional na CCT. Até o momento, os empresários da Comunicação – que são os mais beneficiados nessa equação – vêm ignorando a reivindicação da categoria, o que já causa revolta entre jornalistas paranaenses. O SindijorPR e o Sindijor Norte PR vêm buscando a negociação com os patronais, expondo os riscos e prejuízos que a situação impõe aos trabalhadores, mas não descartam a adoção de outras medidas para tentar minimamente proteger jornalistas que, por falta de opção, estão sendo submetidos à essa condição de extrema precariedade.
Fonte: SindijornPR