Coletivo aponta a falta de diálogo e intransigência da gestão Ratinho
Caso o governador Ratinho Júnior (PSD) não pague a dívida da data-base, cuja defasagem já ultrapassa 47%, o funcionalismo estadual não descarta a deflagração de uma greve geral.
Esta foi uma das pautas debatidas na reunião de coordenação do FES (Fórum das Entidades Sindicais). Além da recomposição salarial, o coletivo debateu estratégias para a valorização dos serviços públicos e contra os retrocessos da Reforma Administrativa.
A reunião, que contou com a participação de representantes de sindicatos de diversas categorias, definiu ações voltadas à LOA (Lei Orçamentária Anual) e a data-base, reforçando a necessidade de diálogo com o poder Legislativo e de ampla mobilização.
“A gente teve o foco central, as mobilizações frente à Lei Orçamentária Anual, que mais uma vez não traz nas suas cláusulas a previsão do pagamento da data-base em 2026, e também a nossa organização para a Reforma Administrativa”, compartilha Nádia Brixner, coordenadora do FES.
Conforme informado pelo Portal Verdade, apesar da dívida acumulada com os servidores, em projeto de lei nº 248/2025, que institui a LOA para 2026, o Palácio do Iguaçu não estabeleceu a recomposição para os servidores (saiba mais aqui).
No último dia 20 de setembro, dirigentes sindicais estiveram na Assembleia Legislativa do Paraná para discutir com parlamentares propostas de emendas à LOA e defender o cumprimento do direito à reposição salarial.
“Vamos buscar fazer reuniões com o presidente da Casa [Alexandre Curi], o líder do governo [Hussein Bakri], e o presidente da Comissão de Orçamento, que é o [Luiz Claudio] Romanelli”, pontua.
O FES tem apontado a dificuldade de diálogo com o poder Executivo, que não tem respondido aos pedidos de reunião e demais tentativas de negociação.
“Nós temos buscado reuniões com a Casa Civil, com a Secretaria de Administração, com a Secretária da Fazenda, mas parece que a ordem do governador Ratinho, de não se reunir com os sindicatos, está valendo para as secretarias”, avalia Brixner.
Em julho deste ano, viralizou nas redes sociais, um vídeo, no qual o governador Ratinho Júnior afirma com orgulho que, em sete anos de governo, “não atendeu o sindicato” que representa os professores e professoras da rede estadual de ensino – e que “vai continuar sem atender”. A fala diz respeito à APP-Sindicato (Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do Paraná).
“E lamentavelmente tem sido uma política extremamente ofensiva aos sindicatos. Não estão se reunindo conosco para que a gente debata francamente sobre a possibilidade de uma reposição salarial. E isso, infelizmente, vai levar a categoria a uma greve geral, caso nosso pleito não seja atendido”, adverte.

“Uma das coisas que a gente também tem debatido no Fórum das Entidades Sindicais é de que se nós não tivermos a garantia do pagamento da data-base para o ano que vem, nós vamos organizar uma greve geral de todos os servidores e servidoras para nós garantirmos o direito previsto na Constituição Federal, na Constituição Estadual, que é a garantia do pagamento da reposição da inflação para todo o poder Executivo. Então, não vai ter jeito. Nós vamos organizar uma greve geral com toda a categoria, caso o governo do estado não cumpra com a lei e pague a data-base para todos os servidores e servidoras”, reforça Brixner.
O FES também pretende convocar uma audiência pública para debater os impactos da falta da data-base e da desvalorização dos serviços públicos no estado.
Em sete anos de governo, Ratinho só concedeu três reposições, em maio 2019, no valor de 2% (paga a partir de janeiro de 2020); em maio de 2021, com o índice de 3% (a partir de janeiro de 2022); e em maio de 2023, quando o reajuste foi de 5,79% (a partir de agosto).
Reforma Administrativa
Nos dias 13 e 27 de outubro, representantes do FES estiveram nos aeroportos de Curitiba e do interior, abordando parlamentares que embarcam ou desembarcam em viagens entre Brasília e o Paraná. O objetivo foi pressionar e sensibilizar os deputados sobre os riscos da Reforma Administrativa e a importância da valorização do serviço público.
A Reforma Administrativa, também conhecida como PEC 32, foi apresentada em 2021, por Jair Bolsonaro (PL) e seu ministro da Economia, o ultraliberal Paulo Guedes. À época, a justificativa apresentada pelo poder Executivo foi a intenção de “modernizar a administração pública e reduzir custos”.
As forças sindicais têm classificado a matéria como uma ameaça direta à estabilidade dos servidores, aumentando a precarização dos serviços prestados à população, além da falta de transparência.
O Fórum promoveu uma live para discutir as consequências da Reforma Administrativa e também participou da Marcha Nacional Unificada dos Serviços Públicos contra a Reforma Administrativa.

Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.












