A família de Ezequiel Geraldo Melo, de 18 anos, morto em 21 de abril dentro do Centro de Socioeducação (Cense) de Londrina II, no Norte do Paraná, está há quase um mês sem resposta oficial sobre a causa da morte do jovem.
Em uma primeira versão, informada por telefone na noite do dia 21 de abril, funcionário do Cense teria dito que Ezequiel “ateou fogo em um colchão” e que teria morrido ao inalar fumaça.
Por volta das 4h da madrugada do dia 22 de abril, outro funcionário teria dito também por telefone que o jovem “se suicidou com um lençol”. No atestado de óbito, no espaço destinado à causa da morte, consta “a concluir”.
Ferimentos
O corpo foi visto pela família no Instituto Médico Legal de Londrina por volta das 10h do dia 22 de abril. Segundo relato de pessoa próxima, o corpo já estava com marcas de embalsamamento, com corte costurado no peito, mas chamou atenção que havia um “ferimento na parte de trás da cabeça”.
Mentiras
Questionado por pessoa próxima, um funcionário do Cense, que teria liberado o corpo ao IML, disse que “Ezequiel caiu do beliche” um dia antes de morrer. Também teria dito que o rapaz estava sozinho em uma cela.
A informação foi contestada por fontes que conhecem o interior do Cense Londrina II, pois todos os adolescentes dividem os espaços dormitórios com pelo menos dois outros jovens. Ezequiel estaria com outros três no mesmo alojamento.
Movimentação
Apuração jornalística também apontou que o jovem F.R. foi transferido de Londrina para Curitiba no dia seguinte. Existe a suspeita de que a transferência esteja relacionada à morte de Ezequiel.
Outra fonte relatou que funcionário do Cense “comemorou” a morte do rapaz em redes social. Outros teriam manifestado publicamente satisfação. “E a equipe técnica, professores e agentes da unidade fizeram festa um dia depois do sepultamento do menino e postaram em redes sociais. Não há sindicância ou investigação conhecida em andamento sobre o caso”, disse.
Histórico
Ezequiel foi apreendido duas vezes, ambas por tráfico de drogas. Na primeira, aos 16 anos, foi abordado no bairro Maria Cecília e agredido por policiais militares, ao que reagiu e disse que mataria os policiais. Na segunda vez, também por tráfico, Ezequiel foi apreendido no bairro Marisa, e relatou ter passado por horas de tortura.
PM do tráfico
Ele estava há cinco meses no Cense II quando morreu. Testemunhas relataram que ele poderia ter dívidas com o tráfico ligado a policiais militares. Ezequiel completou 18 anos em 5 de abril e estava para sair do Cense quando morreu.
Amado e sozinho
A família contou que Ezequiel foi abandonado pela mãe aos 8 anos de idade. Ela era usuária de drogas. A criança passou a morar com o pai, que o amava e “cuidava muito bem dele”. “Era um adolescente normal, revoltado pelo abandono da mãe, mas vivia bem com o pai”, diz um relato.
O pai de Ezequiel sofreu um infarto quando o jovem completou 15 anos de idade, o que impediu que continuasse a cuidar do filho.
Nessa época, o adolescente foi morar com a mãe usuária de drogas. “Foi aí que ele ficou desesperado e revoltado”, conta uma pessoa próxima.
Ezequiel foi custodiado pelo Estado em dezembro e entregue morto ao pai em abril.
Velório pago por quem?
O corpo foi velado e enterrado no dia 22 de abril à tarde, menos de 24 horas após a morte.
O velório foi no cemitério Jardim da Saudade, em Londrina. A família relatou que não teve custo algum, que “o Cense pagou tudo”.
O enterro foi no cemitério particular Parque das Alamandas, também em Londrina.
O Departamento Jurídico do deputado Renato Freitas apurou que não há na legislação previsão de que o Cense pague pelo velório ou enterro de custodiado morto em suas dependências. Os Cense são de responsabilidade da Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (Seju).
As fontes pediram sigilo por medo de retaliação de traficantes, policiais e do Estado.
Ministério Público
O Ministério Público do Paraná deve investigar o caso. O deputado estadual Renato Freitas (PT-PR) enviou na última sexta-feira (16) ofício com informações sobre o caso e pedindo a investigação pela 27ª Promotoria de Londrina, cujo titular é o promotor Marcelo Briso Machado. Em paralelo, a promotora Danielle Tuoto, também de Londrina, é responsável por ação que acusa o governo do Paraná de não usar recursos destinados por fundos temáticos aos Centros de Socioeducação.
Freitas também enviou ofícios à direção do Cense Londrina II e à Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania, responsável pelo aparelho, para que providências sejam tomadas imediatamente.
Fonte: Assessoria Parlamentar