Após primeiro discurso dúbio, presidente divulgou mensagem nesta quarta (2) em que pede desobstrução de estradas
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a falar publicamente após a derrota na eleição presidencial do último domingo (30). Ainda sem reconhecer diretamente o resultado das eleições, Bolsonaro citou a Constituição e o “jogo democrático” para pedir de forma clara que bolsonaristas desbloqueiem as rodovias pelo país. Trancamentos de caráter antidemocráticos começaram ainda na noite do domingo e se espalharam por diversos estados do país.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, em boletim divulgado às 20h20 desta quarta-feira (2), há 126 interdições ou bloqueios em estradas federais pelo país. Outros 732 pontos de manifestação teriam sido dispersados.
“Sei que vocês estão chateados, tristes e esperavam outra coisa. Eu também estou chateado e triste, mas temos que ter a cabeça no lugar”, disse o mandatário, para, em seguida, pedir: “desobstrua as rodovias, não vamos perder nossa legitimidade.” Após falar em “nossa legitimidade”, Bolsonaro disse que os bloqueios são espontâneos e que estão trazendo prejuízo ao Brasil.
“Prejudica nossa economia. Sei que a economia tem sua importância, você talvez esteja achando outras coisas mais importantes agora, eu compreendo, mas faço um apelo”, disse.
Apesar do pedido expresso para a desobstrução da estradas, o presidente manteve o tom de seu primeiro discurso após a derrota de afirmar que “são bem-vindos os protestos”, em referência aos atos bolsonaristas que tem contestado o resultado da eleição e pedido intervenção militar no Brasil.
“Vamos fazer o que tem que ser feito. Estou com vocês e tenho certeza que vocês estão comigo. O pedido é rodovias”, enfatizou.
Manifestações golpistas
Grupos de manifestantes bolsonaristas foram às portas de quartéis nesta quarta-feira, Dia de Finados, em diferentes partes do país clamar por “intervenção militar”.
Sem reconhecer a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas, grupos protagonizaram cenas como um protesto em que dezenas de pessoas ergueram o braço enquanto cantavam o hino nacional, em gesto que remete à saudação nazista, também conhecida como saudação de Hitler, utilizada pelos nazistas para declarar lealdade ao ditador alemão. O episódio ocorreu em São Miguel do Oeste (SC) e já está sendo apurado pelo Ministério Público.
As imediações dos comandos militares do Leste, na cidade do Rio de Janeiro, e do Sudeste, em São Paulo, também receberam aglomerações golpistas.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, os protestos golpistas foram inflamados pelo discurso dúbio do presidente Jair Bolsonaro (PL) na terça-feira (1º), quando falou pela primeira vez após a derrota no segundo turno e não reconheceu explicitamente a vitória de Lula.
“O chefe de estado tem a capacidade de influenciar na opinião de seus seguidores. Ele deveria ter solicitado um recuo”, apontou. “São movimentos locais, de extremistas políticos. São pessoas totalmente deslocadas, que sequer respeitam a Constituição. Tudo isso vai envolvendo o baixo clero e visões fundamentalistas, distorcidas da própria política. Dificilmente você vai ver as próprias Forças Armadas fazerem parte disso.”
Fonte: Redação Brasil de Fato