Além da informalidade, análise do Dieese destaca que aos 10,6 milhões de trabalhadores desempregados é preciso somar os 4,3 milhões que desistiram de procurar emprego e a queda da renda
A taxa de desemprego do trimestre móvel de março a maio de 2022 recuou para 9,8% e foi a menor para um trimestre encerrado em maio desde 2015 (8,3%), mas ainda atinge 10,6 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados nesta quinta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Aos 10,6 milhões de desempregados é preciso somar cerca de 4,3 milhões que desistiram de procurar emprego, estão no desalento, como diz o IBGE, os milhares com empregos precários, na informalidade, sem direitos, e a queda da renda provocada pela geração de empregos precários, como mostra análise feita pela técnica da subseção da CUT do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Adriana Marcolino.
“Parte significativa dos desempregados são trabalhadores informais que não tiveram acesso ao seguro-desemprego e muitos sofrem com o desemprego de longa duração, ou seja, estão tentando se recolocar no mercado de trabalho há mais de 2 anos e não têm mais a proteção do seguro-desemprego”, afirma Adriana.
“Faltam políticas adequadas de proteção aos desempregados, além de intermediação da mão de obra pública para atender esses trabalhadores”, diz a técnica, que complementa: “Por isso, eles buscam qualquer tipo de ocupação, particularmente a chamada “viração”, o bico, algo que gere algum tipo de renda para a sobrevivência dos trabalhadores, trabalhadoras e suas famílias”.
A taxa de informalidade do trimestre móvel de março a maio de 2022, segundo a Pnad, foi de 40,1% da população ocupada (ou 39,1 milhões de trabalhadores informais), contra 40,2% no trimestre anterior e 39,5% no mesmo trimestre de 2021.
A análise do Dieese destaca que o número de pessoas na informalidade cresceu de 36,9 milhões para 41,7 milhões de pessoas em um ano. Isso representa 41,7% do total de pessoas ocupadas/trabalhando – ou seja, a cada 10 pessoas, cerca de 4 estão na informalidade.
E mais, das 9,4 milhões de ocupações há mais em um ano, que saiu de 88,2 milhões para 97,5 milhões, quase 5 milhões foram ocupações informais, sem direitos trabalhistas, previdenciários e sindicais. E o rendimento de quem está trabalhando caiu, em média, de R$ 2.817,00 para R$ 2.613,00 (-7,2%).
“Isso ocorre porque os empregos têm remunerações menores. Soma-se a essa queda das remunerações, a redução do poder de compra em uma conjuntura com inflação em alta, destaca Adriana Marcolino.
A taxa de subocupação por insuficiência de horas foi de 6,8% do total de ocupados, atingindo 6,6 milhões de pessoas. A técnica do Dieese explica que são pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais e gostariam de trabalhar mais horas, em especial, para aumentar a sua remuneração – não são desempregados, mas precisam de mais horas de trabalho ou de um outro emprego.
Dentre esses, estão aqueles trabalhadores que fazem um “bico” para sobreviver até que encontrem uma nova oportunidade que garanta condições de trabalho e salário dignos. “Vale destacar queparte significativa dos subocupados estavam desempregados no período anterior”, ressalta o texto da análise.
Outros 4,3 milhões de trabalhadores estão no desalento, ou seja, deixaram de procurar emprego e por isso não entram nas estatísticas de desemprego porque são considerados “fora da força de trabalho”. Mas são desepregados como os outros 10,3 milhões. Só não têm condições financeiras de sair de casa para buscar uma nova oportunidade. Outra situação dos desalentados é quando as oportunidades que aparecem são muito ruins e precárias, o tristemente famoso “pagar para trabalhar”, diz Adriana Marcolino.
Fonte: Marize Muniz – Central Única dos Trabalhadores (CUT)