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Hospitalização de idosos negros por agressão atinge o dobro do que para não negros, aponta Atlas da Violência

Em média, uma mulher não negra vive 10 anos mais do que homens negros

Dados do Censo 2022, coletados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), demonstram que a população brasileira está mais envelhecida. O número de brasileiros com mais de 65 anos cresceu 57,4% na última década.

Com isso, a preocupação com a qualidade de vida e a garantia dos direitos dessa parcela da população tem crescido.

Informações do Atlas da Violência de 2023, desenvolvido pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) ratificaram que recortes como pertencimento étnico-racial e gênero influenciam na expectativa de vida. De acordo com o levantamento, mulheres morrem mais tarde do que os homens.

Além disso, homens não negros tem vivido mais do que os negros. Quando esses marcadores se cruzam as diferenças ficam ainda mais perceptíveis. Pode-se observar que, em 2021, uma mulher não negra morria 10,9 anos mais tarde do que um homem negro.

A mortalidade de idosos por agressão é cerca de 41% mais elevada para negros do que para não negros. Em 2021, o país registrou uma taxa de 16,6 óbitos por agressão por 100 mil habitantes para negros e de 9 por 100 mil para não negros.

Naquele ano, o país registrou 981 internações de idosos negros por agressões (14,9%). O índice cai pela metade quando comparado a idosos não negros: 464, o que equivale a 6,5%. Já as hospitalizações de idosas negras por violência chegaram a 351 (4,3%) e de idosas não negras totalizaram 180 (1,9%).

“Falarmos da condição de um idoso morador de uma grande cidade, de classe média e com suporte da família é muito diferente da realidade de um idoso que sobrevive no interior e com um salário-mínimo para arcar com todas as despesas regulares e mais remédios e tratamentos, por exemplo. Esse olhar mais amplo tem que guiar a formulação de programas que priorizem estes idosos em situação de maior vulnerabilidade”, afirma a fisioterapeuta Valesca Cassela.

Para ela, o estudo também reafirma a importância de políticas públicas como o SUS (Sistema Único de Saúde). Estima do Ministério da Saúde demonstra que 80% dos brasileiros dependem, exclusivamente, dos serviços públicos para qualquer atendimento de saúde. “O SUS foi muito atacado nos últimos anos, com cortes de investimentos, tentativas de privatização. A gente percebe que cobrar pelos atendimentos significa impor uma política de morte, já que a maior parte das pessoas não têm dinheiro para custear consultas e tratamentos”, ressalta.

Para o Estatuto da Pessoa Idosa “considera-se violência contra a pessoa idosa qualquer ação ou omissão praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico”.

Violência cometida por familiares cresce

Também segundo o levantamento, os casos de violência interpessoal contra idosos quase quadruplicaram em uma década (+ 38,6%). Em 2011, foram contabilizadas 6.181 ocorrências. Já em 2021, as denúncias saltaram para 24.192.

Com base em definições da OMS (Organização Mundial de Saúde) há dois tipos de violência interpessoal. A primeira de caráter intrafamiliar, ou seja, que ocorre entre parceiros íntimos e membros da família. Os casos ocorrem, principalmente, no ambiente doméstico, mas não exclusivamente.

A segunda classificação, nomeada de “violência extrafamiliar” é definida como aquela que acontece nos espaços públicos em geral, seja praticada por conhecidos ou desconhecidos das vítimas.

Violência psicológica e lesões autoprovocadas

As mulheres idosas não negras são as que mais sofrem violência psicológica (11%). Os que menos sofrem são os homens idosos não negros (4,3%). Porém, o estudo evidencia que os casos de violência psicológica tendem a ser subnotificados.

Ainda assim, as notificações de lesões autoprovocadas de pessoas com 60 anos ou mais também cresceram nos últimos 10 anos. Em 2011 foram identificados 563 registros. Já em 2021, o contingente aumentou para 3.848 casos (+ 96,3%).

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Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.
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Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.

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