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Morre a segunda vítima de atentado a escola em Cambé; crime teria sido planejado desde 2020

O ataque partiu de um ex-aluno do Colégio

Na manhã da última segunda-feira (19), um ex-aluno de 21 anos, invadiu o Colégio Estadual Professora Helena Kolody, no centro de Cambé (Região Metropolitana de Londrina) e atirou contra uma turma de 3º ano do ensino médio, deixando uma estudante de 16 anos morta, Karoline Verri Alves, e outro adolescente, Luan Augusto da Silva, ferido. Familiares dos jovens informaram que os dois eram namorados.

O garoto também com 16 anos foi encaminhado para o Hospital Universitário (HU) de Londrina em estado gravíssimo. De acordo com boletim médico, Luan foi baleado na cabeça e não resistiu, falecendo na madrugada desta terça-feira (20). Em nota, o hospital informou que a família do adolescente autorizou a doação de órgãos.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do Paraná (APP-Sindicato) – Núcleo Londrina, Márcio André Ribeiro, para entrar na escola, o agressor teria afirmado que precisava de uma cópia do histórico escolar. “Ainda não se sabe exatamente quais motivações levaram o ex-aluno a tomar esta medida drástica e criminosa”, acrescenta Ribeiro.

Segundo a Polícia Militar, o homem foi preso em flagrante dentro da instituição com mais de 40 munições. O quarteirão onde fica o Colégio foi completamente isolado. Além dos policiais militares, Corpo de Bombeiros e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) estiveram no local.

Crime premeditado

Em coletiva de imprensa, o secretário de Segurança, Hudson Teixeira, disse que o atirador planejava o ataque desde 2020. Estudante da escola até 2014, ele teria sofrido bullying à época. Em depoimento, o atirador disse que não tem nenhuma relação com as vítimas, apenas teria escolhido jovens da mesma idade dos que teriam cometido bullying contra ele.

Ainda, confessou que guardou dinheiro, cerca de R$ 4.500 para viabilizar a compra da arma. O revólver de calibre 38 foi adquirido em Rolândia. O responsável pelo ataque também contou que esteve na escola anteriormente para analisar e planejar o crime. O secretário indicou que um caderno foi apreendido durante buscas realizadas na casa do atirador, mas não informou o teor das anotações.

Na noite desta segunda-feira, a Secretaria Estadual de Segurança Pública do Paraná prendeu um segundo homem, suspeito no envolvimento do atentado. De acordo com a pasta, ele teria ajudado o ex-aluno a organizar o crime.

Em nota, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD) decretou luto oficial de três dias no estado. O secretário de Educação do Paraná, Roni Miranda Vieira, também visitou o Colégio. As aulas foram interrompidas em todas as escolas estaduais de Cambé até esta terça-feira (20) e as atividades no Colégio Estadual Professora Helena Kolody estão suspensas por tempo indeterminado.

APP-Sindicato repudia violência e cobra SEED

Ribeiro considera que o posicionamento da APP-Sindicato é o mesmo tomado em outras ocorrências e reforça a necessidade do apoio à comunidade escolar atingida, familiares e amigos das vítimas. “Não é por ser próximo a nós, em Cambé, que sentimos diferente. A sensação é de consternação muito grande, o principal agora é dar apoio às famílias que perderam seus filhos, netos, sobrinhos, isto é muito importante”.

Para o educador, o aumento dos episódios de violência contra escolas está associado ao crescimento de discursos de ódio propagados por grupos de extrema-direita. Em sua avaliação, estes movimentos devem ser “urgentemente investigados”.

Segundo levantamento realizado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), no Brasil, o primeiro caso de ataque à escola causado por alunos ou egressos ocorreu em 2002. Desde então, já foram contabilizados 22 ocorrências, sendo que mais da metade (13 casos) aconteceram nos últimos dois anos. O mapeamento considera somente violências planejadas e, portanto, o número pode ser ainda maior.

“Entendemos que o foco é a escola justamente por ser um local de paz, tranquilidade, de pessoas indefesas, tem uma grande aglomeração de crianças, adolescentes, professores e funcionários, em sua maioria, mulheres, pessoas que não andam armadas, não possuem curso de autodefesa. Então, é uma situação muito fácil para as pessoas que cometem estes atos criminosos. Elas precisam ser presas, sofrer todo o rigor da lei, independentemente de suas motivações”, observa.

A liderança também afirma que a APP-Sindicato irá exigir que a Secretaria Estadual de Educação (SEED) dê suporte para os trabalhadores e estudantes da escola. “Vamos cobrar que a Secretaria de Educação tome atitudes no sentido de apoiar integralmente a comunidade escolar, não apenas no sentido verbal. Precisa dar um tempo para as pessoas se recuperarem, fornecer apoio psicológico junto à comunidade escolar”, diz.

Em abril deste ano, após ataques a escolas em São Paulo e Santa Catarina, o governador Ratinho Júnior anunciou um conjunto de medidas para aumentar a segurança nas escolas paranaenses. Entre as medidas, o chefe do Palácio do Iguaçu determinou a contratação de mais 2 mil policiais para fazer rondas em frente às escolas e também dentro das colégios. Ainda, informou que ampliará de 204 para 400 o número de colégios cívico-militares no estado. As iniciativas têm sido criticadas por educadores que não as consideram efetivas.

De acordo com a liderança, a APP-Sindicato também irá prestar assistência aos estudantes, docentes e funcionários do Colégio atingido. “Estaremos juntos, faremos nossa parte também, nos colocando à disposição para ajudar neste apoio que precisa ser profissional, não pode ser apenas sentimental. O suporte tem que ser organizado. Isto não pode ser considerado um fato normal, tem que ser tratado com muita seriedade”, avalia.

Acompanhe nota emitida pelo coletivo na íntegra, disponível aqui.

Ataque repercute em todo Brasil

Nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou o ataque. “Recebo com muita tristeza e indignação a notícia do ataque no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, no Paraná. Mais uma jovem vida tirada pelo ódio e a violência que não podemos mais tolerar dentro das nossas escolas e na sociedade. É urgente construirmos juntos um caminho para a paz nas escolas. Meus sentimentos e preces para a família e comunidade escolar”, escreveu.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, atribuiu o atentado à falta de regulação das redes sociais no Brasil. “Pelos smartphones, tablets, a proliferação irresponsável de mensagens de violência e ódio na internet, derrubando os esforços das famílias. Essa é a questão mais fundamental hoje do nosso país”, declarou o chefe da Pasta, durante evento no Rio de Janeiro.

Apenas em 2023, ataques violentos a escolas no Brasil já deixaram seis mortos. O Colégio Estadual Professora Helena Kolody possui 41 turmas e quase 800 alunos matriculados.

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Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.
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Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.

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