Belarmino Ferreira de Amorim, como se apresenta, fica em um terreno na zona Norte e não aceita ajuda; equipes da Assistência, Saúde e grupo social dão apoio e buscam familiares
Belarmino Ferreira de Amorim tem mais de 80 anos, segundo ele nos conta. Vivendo em um terreno na zona Norte de Londrina, sem qualquer abrigo ou conforto, o idoso nos recebe com certo receio. Não quer sair dali nem aceita ajuda para além da marmita. Na fala um pouco desconexa, cita vários Estados e cidades do país por onde teria passado e onde viveriam familiares.
Desde agosto do ano passado seu Belarmino vem sendo acompanhado por equipes da abordagem, da Assistência Social, e do Consultório na Rua, da Saúde. Mas não aceita maior aproximação. De acordo com a assessoria da prefeitura, foram coletadas suas digitais e o processo de identificação tramita em Curitiba junto ao Ministério Público. Seu nome não foi localizado nos sistemas dos órgãos assistenciais e de saúde.
A situação de seu Belarmino chegou para nós por meio do Coletivo Black Divas, uma união de mulheres negras que busca encontrar saídas para ajudar o idoso. A angústia de não saber sua real identidade, nem da família, angustia as voluntárias.
Pergunto de onde ele veio, a resposta sai confusa. Fala que trabalhou “fazendo estradas” e “em loja”. Quando estive lá, na Avenida João Carlos Strass, sentido Warta, no último sábado (21), já estava próximo das 10h e ele ainda não havia comido nada. “Comi hoje não. Hoje não tem marmita”.
Rapidamente as voluntárias do Black Divas conseguiram uma doação e uma comida quentinha foi entregue para seu Belarmino, junto com uma garrafa de água gelada. Sentado sobre travesseiros e roupas sujos de terra, ele se manteve limpando as unhas com um palito enquanto conversávamos.
“Estou te incomodando com as perguntas, seu Belarmino?”. Ele sorri em resposta e me sinto encorajada a continuar. Peço para fotografá-lo e depois mostro o resultado na tela do celular. Parece ter gostado.
Atrás dele, uma pilha de pedras e, sobre ela, um livro. Peço para ver e trata-se de uma edição da Bíblia Sagrada. Há nela o nome de um homem e uma data de batizado. Leio, mas seu Belarmino não parece reconhecer.
À sua frente, muitas garrafas e potes de refrigerantes e marmitas que recebe como doação. Algumas viradas de boca para cima. Pergunto se ele coleta água da chuva nelas para beber e ele responde que sim. Naquela manhã de sol quente, estavam vazias.
Idoso cita cidades da região
Durante a conversa seu Belarmino cita os estados de Minas Gerais, Pernambuco, Mato Grosso, Santa Catarina e também cidades da região, como Tamarana e Apucarana. Diz ter parentes por lá, mas não sabe precisar seus nomes.
Fala muito em roubos que teria sofrido. “Armazém e depósito, roubou tudo. Tudo malandro”. Pergunto quem roubou, ele continua: “Roubou o futuro de mim em Santa Catarina e Curitiba”.
Dias antes da nossa visita, uma das voluntárias do Black Divas havia levado barraca e colchão para ele; não estavam mais lá no sábado e seu Belarmino não sabe dizer se perdeu, levou para outro local ou foi roubado.
O Sol começava a esquentar quando nos despedimos. Encosto na sua jaqueta vermelha, que ele amarra criteriosamente com um plástico, e comento que sentirá calor com ela. Seu Belarmino murmura uma resposta. Já lá embaixo, olho para cima e ele está trocando a jaqueta por uma camisa de mangas curtas.
Saúde faz visitas semanais
A equipe do Consultório na Rua visita seu Belarmino semanalmente, mas ele não se deixa examinar. Pelo exame superficial, tudo indica que ele não tem quadro de doença e apresenta “bem-estar geral aparente”, segundo informações fornecidas à reportagem.
Informações levantadas com vizinhos do terreno levam a crer que seu Belarmino encontra-se no local há cerca de um ano. Os profissionais de saúde levaram muito tempo trabalhando na construção de vínculo com ele, que, hoje, aceita ir até a calçada tomar água, café. Mas não entra em nenhum veículo.
Tirá-lo do local à revelia, sem indício de doenças, geraria mais uma violência para um senhor que, possivelmente, já enfrentou várias na vida.
Quem tiver informações que possam ajudar a identificar corretamente seu Belarmino ou algum familiar ou amigo, pode entrar em contato com a Abordagem da Secretaria Municipal de Assistência Social: (43) 99942-3025 / (43) 99991-4568 / E-mail: abordagem.social@londrina.pr.gov.br
Fonte: Redação Rede Lume