Lula convocou pressão popular para dar suporte ao programa popular que o elegeu. E essas demandas são essenciais para vencermos o fascismo que se aproveita da crise social. Sabemos que não temos maioria capaz de garantir uma estabilidade para que nosso programa seja aceito de maneira integral.
Nesse sentido, Lula tem razão, pois aponta para um inimigo oculto desse programa popular, qual seja, o mercado que ganha com a miséria do povo e mantém o país na crise política que vivemos. Dessa maneira, é fundamental pensar sobre a dinâmica política do mercado financeiro em relação ao programa que deve guiar nossas lutas.
A capacidade de impor derrotas aos atores do mercado financeiro ditará muito das conquistas no governo Lula. De fato, a correlação de forças é frágil. A votação foi acirrada e o mercado tem um poder muito grande. Pois, esse ator expressa os capitalistas donos do capital-dinheiro (enormes quantidades que serve para especular nas bolsas). Esse capital é expresso principalmente em dólares, assim, eles têm o poder de afetar nossa taxa de câmbio, impactando nos investimentos, na produção e nos preços dos produtos internos.
Elegemos Lula para garantir demandas populares, pois vivemos numa crise sem precedentes de pobreza extrema, de precarização das condições de trabalho e encarecimento do custo de vida. O governo não fará tudo de uma vez. No entanto, sem enfrentar o problema do pêndulo dos gastos e da arrecadação vamos fragilizar esse programa, o que manterá uma crise social e política constante, ameaçando inclusive nossa democracia.
E, nosso programa tem a capacidade de gerar dinâmica na economia popular, isto é, com valorização do salário mínimo aumenta-se a demanda de consumo, gerando melhoria no comércio e serviços, o que rende em outras áreas, capaz de aumentar produção e também receitas públicas. No entanto, o aumento do emprego prejudica os capitalistas, à medida que eles perdem a capacidade de chantagear as classes trabalhadoras com o desemprego.
O governo brasileiro é soberano, pois emite sua própria moeda e não tem como “quebrar” tal como uma empresa. A questão da responsabilidade fiscal, na verdade, encobre a necessidade manter um excedente, o superávit primário – receitas acima de despesas – capturado pelo mercado financeiro com o pagamento de juros na dívida. À medida que o governo gasta com o povo, essa moeda serve para financiar políticas como saúde e educação, criando um processo de transferência de recursos produtivos para garantia de direitos. O que também gera um problema nos custos do trabalho. Pessoas com mais direitos se satisfazem menos com a exploração do capital.
Assim, a agenda do mercado é refratária às políticas públicas, que haja impostos para os ricos. Assim como, são sedentos pela quantidade estratosférica de dividendos da Petrobras a custa dos altos preços dos combustíveis. No entanto, o governo foi eleito com um programa popular robusto e sua votação não é de se menosprezar.
O programa do mercado financeiro perdeu, no entanto, ele pressiona e chantageia o governo novo, que precisa equilibrar diversas pressões para estabilizar-se. Lembrando que temos uma grande quantidade de fascistas que estão buscando qualquer erro para tentar impor uma ditadura de estúpidos nesse país.
Venâncio Oliveira
Doutor em economia e escritor. Trabalha com assessoria sindical. Ministrou cursos em comunidades e organizações sindicais na América Central e no México de alfabetização econômica e economia política.