Encontros são gratuitos e buscam ser espaços de escuta e trocas sobre experiências que perpassam as diferentes formas do que é ser mulher
A série de oficinas de teatro ofertada para mulheres e pessoas transexuais pelo Coletivo Marcas do Corpo volta a partir da próxima semana. Articulando saberes de arte e feminismos, em 2023, o grupo completa cinco anos. Os encontros são gratuitos e, nesta 4ª edição, acontecem em três regiões de Londrina com datas diferentes.
No centro, a atividade começa na segunda-feira (13) e ocorre na Vila Cultural Canto do MARL (Movimento de Artistas de Rua de Londrina) a partir das 19h. Já na zona Norte, o curso acontece na sede do Centro de Convivência da Pessoa Idosa, com início no dia 17 às 9h. Na zona Oeste, as aulas estão programadas para começar em 21 de fevereiro, no espaço do Coletivo Ciranda da Paz. Os horários serão definidos conforme a disponibilidade dos participantes.
De acordo com Renata Santana, artista-pesquisadora e uma das fundadoras do Coletivo Marcas no Corpo, as oficinas têm como finalidade instigar processos de experimentação corporal, atravessando questões relacionadas às violências de gênero e mulheridades, isto é, demarcando que há diferentes formas de ser mulher, sendo estas influenciadas por recortes como pertencimento étnico-racial, orientação sexual, renda, entre outros marcadores.
Com isso, a medida contribui, inclusive, para desconstruir a ideia de que a identidade de gênero seja definida por questões biológicas. “O enfoque em pessoas trans já é uma prática pensada desde o princípio, justamente pela nossa compreensão acerca das mulheridades, entendidas como os aspectos socioculturais relacionados ao feminino e que por isso, inevitavelmente, imprimem violências em nossos corpos. As pessoas trans também vivem ou viveram mulheridades, em espectros diferentes, e são marcadas por elas. Inclusive as não binárias e homens trans, cuja identidade muitas vezes é negada e ou violentada pelo reconhecimento de um órgão genital, por exemplo”, afirma.
Os encontros serão mediados por Renata, que tem se dedicado a estudar o tema, juntamente com Natália Viveiros, também atriz e arte-educadora. As inscrições podem ser realizadas previamente no seguinte link e não há taxa. Contudo, interessados também poderão se inscrever presencialmente. É necessário ter 16 anos ou mais para participar. Mais informações podem ser solicitadas através do WhatsApp (43) 99618-3824 (falar com Renata) ou e-mail: asmaracasnocorpo@gmail.com
Artivismo trans em Londrina
Para Renata, embora ocorra ampla articulação entre pessoas trans, lideradas por coletivos com a Frente Trans, e movimentos culturais, tendo, inclusive, muitos artistas e produtores contemplados pelos PROMIC [Programa Municipal de Incentivo à Cultura], o reconhecimento destes profissionais ainda é insuficiente. Ela destaca que, esta realidade não é diferente das dificuldades enfrentadas pela população trans em outras áreas como saúde, educação.
“Além da necessidade de ampliar as políticas públicas de atendimento aos direitos básicos dessa população, no campo artístico são pouquíssimos projetos contemplados pela política municipal, quem tem sofrido um desmonte desde 2021, com a entrada do atual secretário de Cultura [Bernardo José Pellegrini]. Alterações em editais, linhas de pesquisa, condições de inscrição tem sido feita sem passar pela votação em conselho ou consulta pública”, relata.
Porém, avalia que, nesta gestão, as oportunidades no campo da cultura tornaram-se ainda mais escassas bem como os processos seletivos têm sofrido mudanças sem amplo diálogo e comunicado prévio, embarreirando ainda mais o acesso dos artistas, principalmente, de grupos subalternizados.
“Nesta gestão, as vezes que esse espaço foi aberto as agentes culturais, não houve qualquer mudança a partir de nossas indicações. Vivemos um momento que nossa política cultural se torna cada vez mais engessada, o que inevitavelmente interfere no acesso das comunidades mais vulneráveis, como a população trans”, observa.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.