Desta vez, estão sendo investigadas mensagens de cunho racista trocadas por alunos do curso de Jornalismo
Um novo episódio de racismo e nazismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) foi exposto por alunos. Nesta sexta-feira (24), estudantes de Jornalismo repudiaram mensagens de teor criminoso trocadas entre alunos do curso – o segundo caso em seis meses na instituição. No fim do ano passado, a UEPG decidiu pela expulsão de sete alunos de Agronomia que foram denunciados pela mesma prática. O ocorrido já está sendo acompanhado e investigado pela universidade.
As mensagens foram trocadas entre estudantes do primeiro ano do curso, em um grupo do WhatsApp nomeado “Calouros Jornal UEPG 2023”. Trechos da conversa que circulam nas redes sociais mostram o compartilhamento de uma imagem de Hitler, seguido da frase “eu não sou mal mais minhas figuras [sic]”, embora não seja possível identificar se são da mesma pessoa. Outra imagem postada traz um desenho e a frase sobreposta “sorry i dont speak macaco” (desculpa, eu não falo macaco, em inglês).
Um dos membros do grupo lembra da expulsão recente de alunos da UEPG por terem trocado mensagens de mesmo teor. Outra parte da conversa mostra o que seria um dos alunos se referindo de maneira jocosa à vestimenta de participantes do evento. “pq eles estão com essa roupa kkk”, ao que alguém responde “Pq eles são do mst”.
O evento do qual os estudantes participavam durante a conversa era um debate sobre direito das mulheres e o Dia Internacional da Mulher, mediado pela universidade e com representantes de diferentes setores da sociedade, como Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Frente Nacional de Luta de Ponta Grossa, Núcleo Maria da Penha e Mandato Coletivo do PSOL.
As mensagens passaram a circular nas redes sociais nesta sexta-feira. Nos prints tornados púbicos é possível ver que muitas mensagens foram excluídas e não dá para saber se o conteúdo removido tinha ou não algum teor racista ou nazista.
Investigação na UEPG
A Universidade Estadual de Ponta Grossa informou que também tomou conhecimento do caso via redes sociais e que a denúncia já foi encaminhada à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e à Ouvidoria. “A instituição reforça que tem atuado ativamente contra o racismo, no atendimento e processamento de denúncias, além do desenvolvimento de campanhas contínuas sobre o tema”, disse, em nota.
O curso Jornalismo também se manifestou. O comunicado informa que o caso já está sob monitoramento da coordenação e também da chefia do departamento. “O Curso de Jornalismo sempre combateu práticas racistas e preconceitos de classe, gênero, sexualidade, entre outros, e continuará realizando atividades pedagógicas de caráter educativo para os estudantes e a comunidade universitária”.
Felipe Pontes, coordenador do curso de Jornalismo da UPEG, disse que a denúncia chegou ao colegiado primeiro de maneira informal, mas que todas as medidas foram tomadas para oficializar os procedimentos necessários de apuração.
“É lamentável, é horrível. No nosso curso temas como este estão sempre em debate, mas agora é mais trabalho no sentido de alertar ao máximo toda a dimensão cidadã e humana que envolve um caso de preconceito. Enquanto continuar existindo situações como essa, vai continuar existindo nosso trabalho para isso acabar”, afirmou o coordenador.
A Associação Atlética de Jornalismo (AAJ/UEPG), formada por alunos do curso, acrescentou que “esses atos e comportamentos realizados pelos alunos são inadmissíveis e completamente reprováveis para o bom convívio dentro da sociedade” e que “o curso de jornalismo da instituição, historicamente envolto por pautas sociais de equidade e diversidade na região dos Campos Gerais, não compactua com as atitudes criminosas de tais calouros”.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR) também emitiu manifestação pública sobre a denúncia. “A luta contra o racismo é diária e a prática antirracista é necessária em todos os espaços da sociedade, especialmente em um local de pluralidade e formação cidadã como uma universidade”, diz a nota. “Essa é a segunda situação recente que veio a público envolvendo práticas de intolerância na instituição”.
O caso citado pelo sindicato é de uma denúncia envolvendo alunos do curso de Agronomia da instituição. O episódio foi em setembro do ano passado e chegou à Reitoria a partir de uma longa troca de mensagens de cunho racista e nazista entre estudantes. Sete matriculados foram expulsos da universidade. No início de março, o Conselho Universitário da UEPG decidiu manter a exclusão acadêmicos.
Desde então, a universidade vem trabalhando um programa de combate ao racismo nos campi da instituição, com a campanha “UEPG está de olho”, sob coordenação da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae). Na próxima semana, a universidade tem na sua programação o seminário temático Linguagens e Relações Étnico-Raciais, com a palestra ‘Não é Brincadeira: Linguagem e Racismo’, com a especialista Glenda Valim de Melo, professora do Programa de Pós-graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
Fonte: Jornal Plural