Diz o poeta que amanhã é um novo dia, certamente! Mas esse dia que chega com sol ou chuva, ainda tem a resquício das dores e alegrias que as mulheres tiveram dos dias anteriores. Quando uma mulher tem seus direitos violados, a proteção social não alcança todas e a dor que vai além do corpo atinge as mulheres pretas da periferia, o “novo dia” não tem o poder de minimizar o descaso, nem de trazer a esperança tão necessária para fortalecer as Marias, Joanas, Terezas, Dandaras, Marielles, Valérias.
Dirijo-me às mulheres negras porque são elas o público do Coletivo Black Divas, são para mulheres negras que o coletivo busca acalento, respeito e resgate do olhar de cuidado de si mesma. Durante muito tempo, as mulheres negras foram ensinadas a serem indiferentes com suas dores, deixando de lado seus sonhos e vontade de ser, de ter e de vencer.
“Deixar de lavar os pratos e sentir que os tempos são outros”, como apregoa Sobral na sua literatura é permitir que as vozes caladas, engasgadas nas gargantas de nossas bisavós, avós e mães revelem na voz das filhas “a fala e o ato da liberdade,’ tal qual Evaristo prevê em seu poema.
O Coletivo Black Divas, deseja dar visibilidade a arte, ao trabalho, as lutas e conquistas das mulheres pretas, guerreiras incansáveis que se reinventam diariamente para construírem pontes, enxergar caminhos mais longes e não deixar” a luz apagar, a festa acabar, a noite esfriar”.
O coletivo deseja ter em seu cerne a resposta para Quando perguntarem as mulheres pretas “- E Marias, Joanas, Terezas, Dandaras, Marielles ,Valérias? a resposta será: – Chegou o momento de “sacudir, investir e traduzir, pois não vou mais lavar os pratos, aprendi a ler”.
Débora Maria Proença
Mestra em Ciências Humanas
Black Divas
Fundado em 2003 em Londrina, o Coletivo Black Divas é formado exclusivamente por mulheres negras e tem entre suas finalidades combater o racismo, a violência contra a mulher e incentivar o empreendedorismo feminino.