Profissionais enfrentam desvalorização, baixo salários e sobrecarga de trabalho
Os profissionais de enfermagem – incluindo enfermeiros, auxiliares de enfermagem, técnicos de enfermagem e parteiras – têm um papel indispensável no sistema de saúde, atuando para o bem-estar dos pacientes. De acordo com pesquisa realizada pela Fiocruz, em parceria com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), mais de 2,8 milhões de profissionais trabalham na área da enfermagem no Brasil. São 129 mil profissionais no Paraná, sendo que mais de 80% são mulheres. É a maior categoria profissional do setor da saúde no país. Ainda assim, trata-se de uma classe desvalorizada, exigindo direitos básicos: melhores condições de trabalho e remuneração adequada.
Salários baixos
Para Gilson Luiz Pereira, técnico de enfermagem e diretor de Políticas Sociais do SindSaúde Paraná, os valores salariais dos profissionais não correspondem a alta responsabilidade técnica. É a principal evidencia do quanto a profissão é desvalorizada e vulnerável.
“Os salários, eles variam muito, principalmente no setor privado. No setor público, ainda há uma questão mais próxima da realidade e da necessidade do que é justo para ser pago. Além do que a carreira pública, ela conta com uma carreira profissional ao longo do tempo, então isso faz com que a questão salarial seja resolvida. Não o suficiente, mas ela entra dentro de um patamar satisfatório. Mas, apesar disso, ainda está no campo da insuficiência pela capacidade técnica, que é necessária à responsabilidade e pela carga de trabalho, tanto física e mental que os profissionais de saúde são expostos todos os dias ao longo de anos”, disse o diretor em entrevista ao Portal Verdade.
Pereira também aponta um fato desanimador: o retorno salarial muitas vezes não corresponde ao investimento na profissionalização. “Profissionais que estão ingressando na área da enfermagem em alguns hospitais são pagos pouco mais do que dois salários-mínimos. Para quem investiu na carreira acadêmica é um investimento alto, de longo prazo. Há um desgaste emocional para se chegar a conquistar esse diploma”.
Alta carga horária
As longas jornadas de trabalho dos enfermeiros, técnicos de enfermagem e parteiras é outro problema pendente. “Nós trabalhamos costumeiramente de 40 a 44 horas semanais, que para o desgaste físico e emocional, é uma quantidade de carga horária muito alta”.
A categoria luta a anos pela diminuição da carga horária semanal. “Há anos a enfermagem trabalha, discute e luta pelas 30 horas semanais, o que dá uma condição melhor de repouso e de recuperação dos dias de trabalho. Isso também é muito significativo na luta e na melhoria das condições de trabalho”, pontua.
Defasagem salarial
Assim como outros servidores públicos do estado do Paraná, os profissionais de enfermagem exigem o pagamento da inflação na data-base para equiparação salarial. “Nós sofremos muito essa defasagem salarial. Nosso poder de compra diminuiu ao longo do tempo, isso gera também um desgaste emocional, físico e atrapalha também a questão do ambiente de trabalho, quando a remuneração não é suficiente para o trabalhador”, ressaltou.
O reajuste anual dos salários dos servidores, previsto em lei, não acontece desde 2016 (saiba mais aqui).
Superlotação
A superlotação das unidades de saúde é resultado direto da precarização desses espaços. Quando a procura de serviços de emergência ultrapassa os recursos disponíveis, a qualidade dos serviços prestados diminui, enquanto os riscos para pacientes e profissionais aumentam.
“O profissional, o servidor público, tem que lidar com essa questão da superlotação, da dor, da insatisfação do usuário do SUS com as condições ruins de acomodação, falta de materiais, falta de médicos especializados, falta da atenção primária. E aí o atendimento nos hospitais acabam ficando sobrecarregados e, consequentemente, nós sofremos mentalmente, psicologicamente, com essa falta de gestão, com essa falta de organização do SUS a nível municipal, estadual e federal”, disse.
Assédio moral
Assim como em outros ambientes de trabalho, o assédio moral configura-se como um sério problema na enfermagem. “No caso do privado, por resultados e por alguns princípios individuais estipulados pelo empregador. Isso gera uma pressão emocional e psicológica muito alta nos profissionais”, adverte o sindicalista.
Faltam concursos públicos
No Paraná, a categoria também demanda o aumento de contratações por meio de concursos públicos. Conjuntamente, é cobrado a regularização do número de trabalhadores nos postos de trabalho e a reposição de servidores inativos ou servidores aposentados.
“Temos um problema a nível público estadual, que são as contratações terceirizadas ou por processo seletivo, que se configuram uma contratação temporária, no qual atrapalha no vínculo que o profissional cria com o local de trabalho, acontecendo muita rotatividade de profissionais com condições salariais diferentes do servidor público de carreira. Isso atrapalha no resultado de entrega desses profissionais”.
Para que a prestação de serviço seja eficiente, é essencial que todas as demandas do setor sejam cumpridas. “São soluções que trarão resultados positivos, tanto para atendimento da população e dos usuários do SUS, quanto para melhoria das condições de trabalho desses servidores. E mesmo no setor privado, também são demandas que podem contribuir para um melhor ambiente de trabalho para o profissional de saúde”, ele observa.
Piso salarial para a profissão
A regulamentação do piso é a principal demanda para a enfermagem a mais de 20 anos. “Temos trabalhado para e para que isso seja resolvido, feito pressão sobre os as representações políticas e públicas para que isso seja feito com maior celeridade, com maior responsabilidade e em respeito mesmo a esse trabalho que é um trabalho de extrema importância. Para a saúde pública, a saúde privada, para a preservação da integridade da saúde da população como um todo e para além das condições e das demandas financeiras”, finaliza Pereira.
*Matéria da estagiária Victoria Luiza Menegon, sob supervisão.