Dessa vez, vítima foi o Colégio Estadual Euzébio da Motta, no Boqueirão. Diretora diz que metas não levam em conta especificidades de cada escola
A Secretaria de Estado da Educação destituiu mais uma diretoria eleita em um colégio de Curitiba. Dessa vez, o caso aconteceu no Colégio Estadual Euzébio da Motta, no Boqueirão. Trata-se da sexta destituição feita pela atual gestão, sempre com base no suposto descumprimento de metas estabelecidas pelo governo do estado. A direção, que teve apoio da comunidade nesta segunda (29), nega ter cometido qualquer irregularidade e considera a destituição uma injustiça.
A gestão de Ratinho Jr. (PSD) definiu metas para os colégios públicos e conseguiu aprovar na Assembleia Legislativa mecanismos para encerrar o mandato de diretores que não tenham cumprido as exigências. Os atuais diretores foram eleitos em 2021, e agora, na metade do mandato de quatro anos, estão passando por uma avaliação, feita por uma comissão paritária. No atual mandato, pelo menos cinco outros colégios sofreram destituição de diretorias eleitas.
“A avaliação e as metas não levam em consideração as especificidades de cada colégio”, afirma a diretora Olinda de Godói Ribeiro, eleita para um novo mandato pela comunidade em 2021 e afastada na última sexta-feira (26) por decisão do Núcleo de Educação. Olinda, que comandava a instituição desde 2009, foi afastada junto com seu vice-diretor, Gilson de Souza.
No caso do Euzébio da Motta, por exemplo, a professora diz que seria importante ver que o índice de presença dos alunos, numa região cheia de carências, depende de fatores econômicos. “Além dos atestados, de situações que acontecem em todas as regiões, às vezes o aluno nem mesmo tem dinheiro para vir para a aula”, diz ela. O colégio recebe hoje 1.010 alunos de Ensino Fundamental II, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos.
As condições sociais, segundo ela, também afetam o desempenho em outras metas estabelecidas pelo governo, como o Redação Paraná. Para cumprir a exigência, os alunos devem postar conteúdos on-line. “Mas uma família que precisa escolher entre pagar comida e Internet não tem como garantir que o filho vá fazer isso em casa. E a Internet na escola oscila muito”, afirma a diretora afastada.
Em uma mensagem para a comunidade que a elegeu repetidas vezes desde 2009, a diretora Olinda afirmou que se orgulha do trabalho feito no colégio, que antes de seus mandatos chegou a ser conhecido como “Zebão da Morte”.
“Como muitos já sabem, eu e o Gilson fomos destituídos do cargo essa sexta feira última. Mas ao contrário do que podem pensar, não cometemos nenhum crime, a não ser não atingir as metas inalcançáveis que nos impunham perante as plataformas”, diz o texto. “Metas essas que fogem totalmente da realidade de uma escola pública onde muitos de nossos alunos não tem em suas casas comida, quem diria então um aparelho e internet adequada para suprir as exigências irreais do governo. No fim sabemos que não passou de uma desculpa para afastar aqueles que não coincidem com seus posicionamentos políticos, coisa que está acontecendo em massa em todo o Paraná.”
Olinda Ribeiro diz que o “crime” de sua gestão foi insistir em uma educação humanizada num governo que só se interessa por uma educação mecanizada e números”.
O Plural entrou em contato com a Secretaria de Educação e espera um posicionamento do governo do Paraná sobre o assunto.
Fonte: Jornal Plural