O mundo espraiou o mal (extrema direita – nazi-fascismo) e o mal chegou bem perto de nós, multiplicando crimes de ódio, naquilo que a rejeição às diferenças (culturais, sociais religiosas, políticas) alimenta a escuridão, ao tempo em que projeta a solidão da ignorância como resposta social.
Aqui pertinho, na alvissareira Cambé, um rapaz de 21 anos entrou em uma escola e atirou contra dois adolescentes – uma jovem morreu na hora, um adolescente faleceu no dia seguinte. Essa estupidez repete o modelo disruptivo do que passou há alguns meses em uma creche em Santa Catarina, nos colocando na rota das vítimas dos crimes de ódio.
Cada morte tirada nos moldes do quanto passou em Santa Catarina e em Cambé, permanece na conta dos reflexos que os discursos de ódio estabeleceram, naquilo que os parâmetros da tempestade perfeita (união de parcela ínfima e corrupta do judiciário com o marrom da imprensa graúda) deram a tônica desse nada admirável mundo novo.
A palavra, por aqui, segue sendo o fio condutor das paixões (para o bem e para o mal) naquilo que o mundo multipolar trás, em sua essência, uma geografia disruptiva onde o medo alimenta o totalitarismo, ao tempo em que reduz o semelhante a uma equação utilitária, sempre à serviço da classe dominante.
Desde 2016 vem se esparramando, por aqui, sensível incremento a exploração das minorias, naquilo que a fratura democrática estabelecida no golpe contra a Presidenta Dilma anuviou um inacreditável mundo novo, onde conhecimento e empatia significariam fraquezas humanas, enquanto discursos de ódio chocaram o ovo da serpente. O messias é a mais completa tradução de nossa tragédia humana.
No entorno do medo o que cresce não é senão uma forma de captura de vontades e sentimentos, suposto que o alimento desse ambiente é a expressão de uma gente sem qualquer empatia que se deixa escravizar na própria ignorância que nega vacina e vende terra plana.
Foi esse o ambiente que encaminhou a derrocada da empatia por aqui!
Nessa medida, caminhamos para o dia em que a dor alheia sequer nossa indiferença merecerá. Nesse dia as minorias não serão senão o suor que move a pedra da vida. Geramos um ambiente onde as riquezas naturais extrativáveis valem mais do que a vida do homem que as recolhe, quer em face da crescente exploração de sua força de trabalho, quer na conta do que fazemos ao próprio planeta.
Gaia parece sentir o golpe e essa malquerença é herança do ódio.
Assim, quem discursou pelo ódio tem o sangue das crianças de Santa Catarina e dos adolescentes de Cambé nas mãos, tanto quanto quem acreditou que o discurso de ódio não era nada além de um ‘jeito excêntrico de um homem honesto se manifestar contra a ameaça comunista’.
Segue o mesmo caminho aquele que não se incomodou com o ódio destilado, afinal ‘o que importava era afastar o PT’. Este desavisado também detém as mãos maculadas no sangue dos inocentes. Aqui não se discute ideologia. O que se discute é a contaminação das nascentes, na medida em que semear ódio só pode fortalecer o mal.
A ‘normalização’ da precificação de pessoas, na mais valia da vida, não pode, todavia, passar pano para o ódio despendido na exploração de minorias que sustentam a pirâmide explorativa das gentes – afinal, como poetizou Dias Gomes em seu Santo Inquérito, ‘há um mínimo de dignidade que não se negocia’.
A sociedade, feito um todo, está chamada a refletir e a se manifestar sobre o que passou naquela creche Catarina e na escola em Cambé. Essa fala não pode se afastar da tutela das minorias. Você é pró mercado? Parabéns. Conserve sua estrelinha e tenha a visão de que disputamos civilização.
Reconheça que passamos os últimos quatro anos ouvindo ódio da boca de um sicofanta, e que este ódio desacreditou o conhecimento, desvalorizou o ensino, os professores, as minorias, as vacinas, ao tempo em que negou ser coveiro e vendeu terraplana.
Palavras são o fio condutor das paixões – para o bem e para o mal. Se não, o que explica os homicídios fúteis passados em Santa Catarina e em Cambé? Aqui não se vê Deus. Quem operou foi a escuridão alimentada nos discursos de ódio.
Não pensas assim ignóbil? Diga, então, qual a significação de desacreditar o ensino e defenestrar Paulo Freire? Podes fazê-lo? Há muita gente que ama odiar Paulo Freire sem saber quem foi ele, o que ele escreveu, como ele pensava. Combatem antes a ideia de um educador engajado em melhorar vidas humanas do que o próprio Paulo Freire.
Demais disso, homicídios em locais de proteção (creche) e de educação (escola) mandam uma mensagem direta que desacredita o ideário protetivo e educacional, suposto que a violência banal que emoldurou ambos os crimes, jamais se estabeleceria senão na presença do ódio! Tanto é assim que a primeira providência sugerida é a contratação de uma guarda armada, sugestiva de um combate odioso ao ódio. Aguardo alguém ter melhores ideias…
Aqui uma constatação: as mortes em locais de proteção (creche e escola) não alimentam qualquer conflito de classes, naquilo que sequer a equação de exploração do homem pelo homem restou atendida no sangue dos inocentes.
É só questionar qual a relação dos homicídios de Cambé (escola) e de Santa Catarina (creche) em face ao mercado, indagando se há um meio de precificar estes eventos, ou se o mercado se beneficiou, a qualquer título, do quanto passou?
Perceba que o ódio é consequência de sua ignorância, de sua omissão, de sua covardia e que esse diálogo existencial não interage com os valores privados que você professa. Tivesse você, que joga pedra em Paulo Freire, lido sua pedagogia do oprimido, saberia disso…
Siga, pois, sendo o arquétipo de suas medidas sem que isso o ligue às escolhas fascistas que estão em andamento por aqui. O fascismo, já disse e repito, não é senão um espaço de manobra necessário ao capitalismo, que entra em cena quando há uma crise mercadológica anunciada.
O que passou com as Lojas Americanas dá uma medida circunstancial da tempestade que se avizinha e a ventania estabelecida não pode fomentar qualquer discurso de ódio. Sequer o mercado (direita) é capaz de fintar o entendimento nascido da aceitação de que odiar lemann, Sucupira e o outro cujo nome nunca lembro, não compõe nenhum fator de cognição alusivo às leis de precificação e suas regras, porquanto odiar não paga dívida.
Nessa medida a ideologia divergente não é suficiente, enquanto fator de relevo histórico, para estabelecer elementos cognoscíveis alusivos aos espaços de manobra capitalista que levam o sangue às ruas.
Você pode até comprar uma propriedade, perfazendo a essência do pensamento do Barão Rotschield, que levantou fortuna adquirindo imóveis em meio ao pânico instaurado com a batalha de Waterloo; ainda assim o medo não terá justificado qualquer mitigação às minorias, naquilo que Waterloo foi definitiva para frear a sanha imperialista de Napoleão, custando-lhe o exílio em Elba.
Foi mais uma guerra com suas consequências maléficas, mas não se pode creditar a tal circunstância uma qualquer aceitação ao pensamento totalitário – antes o contrário; o que se vivenciou foi a necessidade de se combater o mal.
Daí que você, amante do acúmulo de capital à custa de suor alheio, pode continuar seu caminho sem propagar o ódio – naquilo que de odiosa basta a sua opção de vida –. Cumpre não aceitar qualquer manobra do capitalismo que encaminhe o ideário fascista. Desenhando: você pode ser pró mercado sem ser contra a vida. As crianças que estão em creches e em escolas agradeceriam a chance de viver.
Fascistas não passarão!
João dos Santos Gomes Filho
Para o Canto do Locco
João Locco
João dos Santos Gomes Filho, mais conhecido pelo apelido João Locco. Advogado, corintiano, com interesse extraordinário em conhecer mais a alma e menos a calma.