Pense em um limão cortado, bem azedo, passando de leve em sua língua.
Se continuar pensando, daqui a pouco sua boca começa a salivar…
Mas, o limão está em sua boca?
Não.
Onde está o limão?
Está em sua cabeça. Em sua imaginação.
Mas, um pensamento pode fazer as glândulas salivares se contrair, despejando água dentro da boca?
Sim. Da mesma forma que outros pensamentos fazem o estômago produzir ácido; o pâncreas secretar insulina no sangue; as glândulas suprarrenais injetarem adrenalina na corrente circulatória; os intestinos fabricarem muco…
Esta semana, recebi no Consultório uma jovem que, entre uma e outra queixa, me disse:
– Quando eu fico triste, minhas fezes ficam moles e com sangue.
Desde há muito, a Ciência já se convenceu que boa parte das doenças se iniciam após um estado de estresse. O estresse pode ser físico, a exemplo de um acidente. Pode ser químico, tal qual uma infecção por bactérias, fungos ou vírus. Ou mental, como uma tragédia familiar ou um prolongado período de angústia, medo, raiva, depressão e tristeza (como nossa jovem paciente).
Muitas das chamadas doenças autoimunes, onde o corpo é atacado por seu próprio Sistema Imunológico, começam após um seguido estresse químico ou mental. Assim são as temíveis Doença de Crohn, Psoríase, Retocolite Ulcerativa, Diabetes Tipo 1, Artrite Reumatoide, Lúpus, Tireoidite de Hashimoto e outros males.
Na Suécia, um estudo que durou 32 anos (de 1981 a 2013) envolvendo 106.464 pessoas, confirmou o aparecimento de doenças autoimunes um ano após estas pessoas estarem expostas a distúrbios relacionadas ao estresse.
As crenças, que são as verdades de cada pessoa (portanto, seus pensamentos) ditam a realidade de suas vidas. Uma frase atribuída a Buda: “Tudo o que você mais pensa, você se torna”.
O pensamento modifica a matéria
Existem situações em que o medo agudo desencadeia alterações físicas intensas. É o que acontece na chamada Úlcera de Curling ou úlcera do queimado: o estresse de uma pessoa com queimaduras extensas, provoca a perfuração de seu estômago. Também o medo agudo e forte provoca o aparecimento de úlceras e perfurações no estômago, na chamada Úlcera de Cushing. Embora existam centenas de exemplos conhecidos, apenas nestas duas situações, vemos como o pensamento pode modificar o físico.
Um estudo norte-americano recente investigou 1.500 pessoas ao redor do mundo, que tinham sido curadas de câncer e assim se mantinham há mais de 10 anos. Concluiu-se que, dos 75 motivos atribuídos a sua cura, nove deles eram comuns à todas estas pessoas. Destes nove motivos, apenas dois eram de ordem física; os outros sete (80%) eram de ordem emocional.
Ora, se somos capazes de induzir doenças, também podemos ser indutores de nossa saúde. O paciente pode ser o maior ator de sua própria cura!
O caso das crianças do Hospital do Câncer de Londrina
Na década de 1980, um fato intrigava médicos e enfermeiros do Hospital do Câncer de Londrina: às sextas-feiras, o Hemograma das crianças ali internadas apresentava um bom padrão de glóbulos brancos (que são nossa primeira linha de defesa). No entanto, o Hemograma da segunda-feira, abruptamente, piorava, mostrando importante redução daqueles mesmos glóbulos brancos.
O que acontecia com aquelas crianças?
Depois de muitos anos, a verdade veio à tona. O que acontecia era que, na sexta-feira, elas recebiam a visita dos pais, que eram autorizados a ficarem com elas até o domingo. Na segunda-feira, os pais iam embora e elas voltavam a ficar, angustiadamente, sós.
O pensamento daqueles pequeninos, influenciava diretamente seu exército de defesa.
Assim somos todos nós.
Mens sana in corpore sano
Esta conhecida frase atribuída a Décimo Juno Juvenal, poeta romano, nascido no ano 55 da Era Cristã, nos fala que um corpo com saúde só é possível se a mente estiver em paz, alegre e calma, ou seja: uma mente sã.
Por isso, pensamentos maus acabam fazendo mal.
Ao contrário, pensar bem só faz bem.
Luiz Eduardo Cheida – Gastroenterologista em Londrina