Nos primeiros anos da década de oitenta, ao dar o diagnóstico de psoríase para um paciente, eu muito provavelmente terei dito que ele era portador de uma doença de pele crônica e evolutiva, um “eczema seco”, para a qual os tratamentos eram pouco efetivos e que deveria aprender a conviver com a doença, tomar sol e usar algum creme com corticóide e hidratantes.
Felizmente, graças às pesquisas, a medicina evoluiu muito nos últimos quarenta anos, e hoje ao me deparar com um paciente que pela primeira vez ouve a palavra psoríase como diagnóstico, eu tenho uma jornada diferente a oferecer.
Começo dizendo que, apesar de ser uma doença com base imunológica, ela não é contagiosa e que hoje sabemos que apesar de ainda não haver cura para psoríase, os tratamentos existentes podem proporcionar um excelente controle do quadro, com possibilidade de evitar a progressão da doença e favorecer uma ótima qualidade de vida aos pacientes.
Antes mesmo de conversar sobre tratamento, por sabermos que hábitos como o fumo e o uso e abuso de bebidas alcoólicas, a obesidade, o stress e algumas infecções podem desencadear ou piorar a evolução da doença, eu começo orientando sobre a mudança de estilo de vida que será necessária dali em diante.
Perder peso, parar de fumar e beber, iniciar a prática de atividade física são medidas modificadoras importantes para a melhora do paciente. Outras orientações como o uso de hidratantes corporais, evitar banhos quentes e prolongados e tomar banhos de sol pela manhã também fazem parte da rotina a ser implantada.
Também sempre lembro que é importante não “cutucar” e nem tirar as “casquinhas” que se formam sobre a pele, porque o trauma local pode piorar a lesão e favorecer o aparecimento de infecções. Quando toda essa orientação ficar entendida pelo paciente e pactuada entre nós, eu começo a falar sobre as alternativas de tratamento, que vão ser escolhidas dependendo do tipo da doença, de sua extensão e da gravidade.
Há quem só manifeste uma ou outra mancha de vez em quando, enquanto outros pacientes ficam com boa parte do corpo recoberta pelas lesões. Podemos usar desde medicações tópicas, com pomadas e cremes de efeito anti-inflamatório, até terapias sistêmicas, que são a fototerapia e os remédios orais ou injetáveis imunobiológicos, que são os remédios mais modernos e representam medidas extremamente eficazes e seguras no manejo.
Quatro deles inclusive já foram incorporados ao Sistema Único de Saúde (SUS) para casos graves: o adalimumabe, o secuquinumabe, o ustequinumabe e etanercepete. Sempre lembrando que cada caso é um caso e que o tratamento prescrito deve ser individualizado. Nem sempre o que é bom para um, é bom para todos.
Infelizmente, a psoríase, por ser uma doença de pele, é carregada de estigmas e preconceito. Como já conversamos, ela não é contagiosa, mas há quem tenha medo de se aproximar dos pacientes. Isso causa um grande impacto na vida do paciente e muitos podem desenvolver ansiedade e até mesmo depressão, então é importante acompanhamento multidisciplinar para lidar da forma mais adequada com a doença.
Muitas vezes eu indico que o paciente, além do dermatologista, procure a ajuda de um psiquiatra ou um psicólogo. Quando a artrite psoriásica, que se manifesta em 30% dos pacientes com psoríase, atinge as articulações, causando dor, inchaço e rigidez nas juntas, é necessário o acompanhamento de um médico reumatologista.
Então se você tem psoríase ou conhece alguém que tem esta doença e não faz acompanhamento, oriente que ele volte a procurar ajuda médica e tenha uma nova jornada. Sim, é possível viver com uma pele sem ou quase sem lesões, independente da gravidade da psoríase.
Para maiores informações consulte: https://www.sbd.org.br/psoriase/
Texto: Dermatologista Dra. Lígia Márcia Martin