O Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA) é uma iniciativa governamental que busca assegurar proteção integral a crianças e adolescentes que necessitam ser temporariamente afastados de suas famílias de origem ou estendida, por medida de proteção. Este programa, de alcance nacional, está disponível em Londrina, onde voluntários podem se cadastrar no site: https://familiacolhedora.wordpress.com/inscricao/
O programa
Ser uma família acolhedora implica em receber temporariamente crianças ou adolescentes em um ambiente de cuidado. Essas crianças permanecem com a família temporária durante o processo judicial até serem reintegradas às suas famílias de origem, famílias extensas ou direcionadas a uma família para adoção. Ao contrário da adoção, que é um desejo de paternidade ou maternidade permanente, o acolhimento temporário é um suporte durante um período transitório.
Gabriel Simom Garibi, psicólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina, trabalhou durante três anos na Casa do Bom Samaritano, Acolhimento Institucional Adulto, e agora integra a equipe do serviço Família Acolhedora. Em entrevista ao programa Aroeira, o psicólogo enfatiza que o principal requisito para ser uma família colhedora é a disponibilidade. “Essa disponibilidade não é muito além do que muitas pessoas já fazem com filhos, com sobrinhos, com pessoas da família extensa, de maneira geral. É dar carinho, afeto, ter uma estrutura principalmente afetiva de proteção e cuidado”, diz.
Eliana Cristina dos Santos é assistente social e servidora pública na Prefeitura de Londrina desde 2020, está no serviço Família Acolhedora há um ano. Segundo a assistente, o programa “parte de uma necessidade humana que é ter um cuidado exclusivo, dedicado, voltado, personalizado, voltado às necessidades singulares de cada um”, explica.
A pesquisa Órfãos da Romênia, realizada pelo Hospital de Crianças de Boston, da Universidade de Harvard, revelou que cada ano em que um bebê é acolhido em uma instituição, sem laços afetivos permanentes ou atenção às suas necessidades individuais, pode acarretar em até quatro meses de prejuízo em seu desenvolvimento integral.
O acolhimento requer um vínculo afetivo saudável. O afeto é tão crucial para o desenvolvimento humano quanto à alimentação adequada. A ausência de atenção e carinho dos cuidadores, juntamente com um ambiente institucional com alta rotatividade de responsáveis ou negligência as necessidades, pode desencadear situações de desamparo e estresse.
“A criança que vai para a família acolhedora precisa encontrar adultos que sejam loucamente apaixonados por ela”, compartilha Garibi, citando o autor Jesus Palácio. “A chegada é mais difícil do que a partida, porque você recebe crianças que veem de uma ruptura. Então ela está assustada, com medo, ela não sabe como vai ser. E quando ela sai, ela é uma criança segura, ela tem um adulto de referência, ela tem autorização para ir. Então é uma despedida muito mais leve do que as pessoas imaginam”.
Garibi ressalta a importância desse trabalho tanto para a rede de assistência quanto para as crianças e adolescentes atendidos: “A gente fala da questão do afeto, porque as Casas Lares, por melhor que seja o serviço prestado, não tem a característica que tem a Família Acolhedora de ter um acompanhamento personalizado. Quando você tem os cuidadores ali, que são os mesmos durante um tempo, as crianças podem se sentir mais acolhidas, elas se sentem em casa, elas têm uma troca muito mais profunda e isso proporciona para elas uma outra vivência muito diferente de quando elas estão em acolhimentos”.
De acordo com informações da assistente social, em Londrina, há em média 112 crianças acolhidas, sendo 12 em Famílias Acolhedoras e 100 em Casas Lares. Cada Casa Lar pode abrigar no máximo 10 crianças e adolescentes de 0 a 18 anos, todos sob medida protetiva de abrigo devido a situações de violação de direitos. O acolhimento pode variar de curto a longo prazo.
“Sempre falamos que quando chega, por exemplo, uma demanda para o Família Acolhedora, é como se aquela criança virasse a esquina da vida dela; a partir de agora ela vai ser protegida. As pessoas às vezes têm essa ideia de que é uma demanda difícil, pesado, mas a verdade é que crianças e adolescentes precisam de cuidado, de zelo, de alguém que olhe para ela para que ela ressignifique todo o seu passado. Se ela veio com marcas de violência, de abandono, de negligência, que a gente construa marcas muito mais pronunciadas de amor, de proteção, de afeto, para que ela leve isso para a vida. E a gente percebe quanto isso é importante, quanto isso faz a diferença, tanto na vida dos bebezinhos quanto de adolescente”, acrescenta Eliana.
Quanto ao processo para se tornar uma família colhedora, Eliana pontua que há entrevistas, visitas e capacitações para garantir que todos os membros do lar estejam preparados para acolher a criança. Ela destaca que a habilitação não implica que a família deva acolher a qualquer momento; é uma decisão conjunta que leva em consideração a compatibilidade entre a família e a criança.
“Então, por exemplo, surgiu a necessidade de uma criança compatível com uma família habilitada. Nós levamos para ela as informações que temos, damos um tempo para ela responder e pensar junto aos outros membros da família, e aí sim ela vai dizer se vai acolher ou não. Tem família que fala assim: olha, perto do fim do ano eu prefiro não acolher ou eu prefiro de um tempo antes para eu pedir minhas férias. Tudo isso é respeitado. E quando a família acolhe, ela se torna a guardiã daquela criança”, finaliza.
Para as famílias que desejam participar do serviço de acolhimento familiar, esclarecimentos de dúvidas podem ser feitos através do número de WhatsApp (43) 99993-3366. A sede do Família Acolhedora Londrina fica localizada na rua Raposo Tavares, número 828 na Vila Larsen 1.
*Com informações da Coalizão pelo Acolhimento em Família Acolhedora.
*Matéria da estagiária Victoria Luiza Menegon, sob supervisão.