Presidente da Assembleia cobrou e recebeu propina para renovar contrato com empresa de Joel Malucelli; censura que impedia Plural de falar do caso caiu nesta quarta
O deputado Ademar Traiano (PSD) estava nesta quarta-feira (6) à noite em um evento público em Foz do Iguaçu. Participava de uma solenidade ao lado do homem que foi o seu maior cabo eleitoral na reeleição para a presidência da Assembleia Legislativa, o governador Ratinho Jr. (PSD), quando a seu redor começaram a piscar mensagens nos celulares de todos os presentes. Não demorou e a informação apareceu no celular do próprio Traiano: a decisão que impunha censura à imprensa caiu e imediatamente a RPC colocou no ar a reportagem sobre seu recém-revelado caso de corrupção.
Desde sábado (3), o Plural, a RPC e a Globo estavam impedidos, por decisão da juíza Giani Maria Moreschi, de noticiar os seguintes fatos:
- Ademar Traiano e Plauto Miró, na época presidente e primeiro-secretário da Assembleia, pediram R$ 300 mil ao diretor-geral da TV Icaraí, Vicente Malucelli, bem na época em que a empresa precisava renovar seu contrato como prestadora de serviços para a TV Assembleia;
- Joel Malucelli, dono da Icaraí, topou pagar R$ 200 mil, sendo R$ 100 mil para cada um. Em tese, o dinheiro seria utilizado na reeleição de 2016. A Icaraí teve o contrato, no valor total de R$ 11,6 milhões, renovado.
- Denunciados por Vicente Malucelli numa delação premiada, Traiano e Plauto confessaram o recebimento da propina e fecharam com o Ministério Público um Acordo de Não-Persecução Penal, que trocava uma condenação na Justiça pela confissão e a devolução do dinheiro.
A delação de Vicente tem dois áudios em que Traiano fala sobre tudo isso e muito mais – inclusive sobre a possibilidade de “arranjar mulher” em uma festa. Quando Traiano soube que a liminar obtida para calar a imprensa tinha caído, a tevê já exibia cópias dos cheques que ele recebeu oito anos atrás. Assim que acabaram os discursos, Traiano saiu o mais rápido que pôde. Ninguém sabe para onde foi, mas o alívio foi geral, conta um deputado – ninguém mais quer Traiano por perto.
Propina e constrangimento
Na semana que passou, Traiano viveu um constrangimento depois do outro. Foi achincalhado em plenário pela oposição e por colegas da base de Ratinho. Sofreu uma derrota no Conselho de Ética, que deixou Renato Freitas (PT) apenas com uma advertência, depois de ter dito com clareza em plenário que Traiano é corrupto.
Nos próximos dias, o constrangimento deve ser maior. É de conhecimento geral na Assembleia que o primeiro vice-presidente da Assembleia, Marcel Micheletto (PL), que assumiria caso Traiano renuncie ou seja cassado, anda costurando pelos bastidores para que o presidente seja retirado da cadeira. Fabio Oliveira (Podemos), um lavajatista ligado a Deltan Dallagnol (Novo), disse da Tribuna que Traiano tem que sair.
Apesar disso, quem conhece Traiano diz que ele jamais renunciará. Primeiro, pelo apego ao poder. Em seu quinto mandato de presidente da Assembleia, o ex-prefeito de Francisco Beltrão chega a cogitar nos áudios que podem derrubá-lo a possibilidade de ser vice-governador. Segundo, porque é na Presidência que ele tem margem de manobra.
Tradicionalmente, os presidentes da Assembleia se aproveitam do fato de que depende deles a aprovação de reajustes de promotores e juízes para tentar fazer amigos e influenciar pessoas. Aprovam remunerações polpudas, criações de cargos e benesses, e em troca esperam não serem tratados com muito rigor quando precisarem.
Traiano em seus dez anos aprovou tudo que Ministério Público e Tribunal de Justiça quiseram. E até hoje nunca tinha precisado tanto de amigos no sistema judicial quanto agora. É difícil saber até onde, porém, ele poderá contar com apoio dentro ou fora da Assembleia depois dos últimos fatos. Para um deputado, Traiano escolherá ficar no cargo. “Fica mesmo sabendo que está criando um constrangimento imenso para ele e para nós. Mas fica.”
O deputado Ademar Traiano (PSD) estava nesta quarta-feira (6) à noite em um evento público em Foz do Iguaçu. Participava de uma solenidade ao lado do homem que foi o seu maior cabo eleitoral na reeleição para a presidência da Assembleia Legislativa, o governador Ratinho Jr. (PSD), quando a seu redor começaram a piscar mensagens nos celulares de todos os presentes. Não demorou e a informação apareceu no celular do próprio Traiano: a decisão que impunha censura à imprensa caiu e imediatamente a RPC colocou no ar a reportagem sobre seu recém-revelado caso de corrupção.
Desde sábado (3), o Plural, a RPC e a Globo estavam impedidos, por decisão da juíza Giani Maria Moreschi, de noticiar os seguintes fatos:
- Ademar Traiano e Plauto Miró, na época presidente e primeiro-secretário da Assembleia, pediram R$ 300 mil ao diretor-geral da TV Icaraí, Vicente Malucelli, bem na época em que a empresa precisava renovar seu contrato como prestadora de serviços para a TV Assembleia;
- Joel Malucelli, dono da Icaraí, topou pagar R$ 200 mil, sendo R$ 100 mil para cada um. Em tese, o dinheiro seria utilizado na reeleição de 2016. A Icaraí teve o contrato, no valor total de R$ 11,6 milhões, renovado.
- Denunciados por Vicente Malucelli numa delação premiada, Traiano e Plauto confessaram o recebimento da propina e fecharam com o Ministério Público um Acordo de Não-Persecução Penal, que trocava uma condenação na Justiça pela confissão e a devolução do dinheiro.
A delação de Vicente tem dois áudios em que Traiano fala sobre tudo isso e muito mais – inclusive sobre a possibilidade de “arranjar mulher” em uma festa. Quando Traiano soube que a liminar obtida para calar a imprensa tinha caído, a tevê já exibia cópias dos cheques que ele recebeu oito anos atrás. Assim que acabaram os discursos, Traiano saiu o mais rápido que pôde. Ninguém sabe para onde foi, mas o alívio foi geral, conta um deputado – ninguém mais quer Traiano por perto.
Propina e constrangimento
Na semana que passou, Traiano viveu um constrangimento depois do outro. Foi achincalhado em plenário pela oposição e por colegas da base de Ratinho. Sofreu uma derrota no Conselho de Ética, que deixou Renato Freitas (PT) apenas com uma advertência, depois de ter dito com clareza em plenário que Traiano é corrupto.
Nos próximos dias, o constrangimento deve ser maior. É de conhecimento geral na Assembleia que o primeiro vice-presidente da Assembleia, Marcel Micheletto (PL), que assumiria caso Traiano renuncie ou seja cassado, anda costurando pelos bastidores para que o presidente seja retirado da cadeira. Fabio Oliveira (Podemos), um lavajatista ligado a Deltan Dallagnol (Novo), disse da Tribuna que Traiano tem que sair.
Apesar disso, quem conhece Traiano diz que ele jamais renunciará. Primeiro, pelo apego ao poder. Em seu quinto mandato de presidente da Assembleia, o ex-prefeito de Francisco Beltrão chega a cogitar nos áudios que podem derrubá-lo a possibilidade de ser vice-governador. Segundo, porque é na Presidência que ele tem margem de manobra.
Tradicionalmente, os presidentes da Assembleia se aproveitam do fato de que depende deles a aprovação de reajustes de promotores e juízes para tentar fazer amigos e influenciar pessoas. Aprovam remunerações polpudas, criações de cargos e benesses, e em troca esperam não serem tratados com muito rigor quando precisarem.
Traiano em seus dez anos aprovou tudo que Ministério Público e Tribunal de Justiça quiseram. E até hoje nunca tinha precisado tanto de amigos no sistema judicial quanto agora. É difícil saber até onde, porém, ele poderá contar com apoio dentro ou fora da Assembleia depois dos últimos fatos. Para um deputado, Traiano escolherá ficar no cargo. “Fica mesmo sabendo que está criando um constrangimento imenso para ele e para nós. Mas fica.”
Fonte: Jornal Plural