Área de tecnologia ainda é majoritariamente ocupada por homens
Levantamento do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) identificou que mais da metade dos empreendimentos abertos no país, entre 2021 e 2022, foram criados por mulheres. As informações foram coletadas a partir de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e divulgados no último mês de novembro.
Atualmente, o Brasil possui 10,3 milhões de negócios conduzidos por mulheres, o que corresponde 34,4% do total. Somados homens e mulheres ultrapassam 30 milhões de micros e pequenos empresários, atingindo o maior número da série histórica.
São considerados microempreendedores aqueles que tem empresa com faturamento anual de até R$ 360 mil ou emprega até nove pessoas no comércio e serviços ou 19 pessoas no setor industrial. Já pequenos empreendedores são aqueles que tem negócio com faturamento anual de até R$ 4,8 milhões por ano ou que empregam de 10 a 49 pessoas no comércio e serviços ou de 20 a 99 pessoas na indústria.
Mesmo com a maior participação, o índice de mulheres empreendedoras ainda está abaixo do patamar mais alto já observado, quando elas representavam 34,8% do segmento em 2019, ou seja, antes da pandemia do novo coronavírus.
Ainda segundo a pesquisa, a taxa de mulheres empregadoras aumentou 30% nos últimos dois anos, um salto de 300 mil. Porém, majoritariamente, elas continuam tocando seus negócios sozinhas. Nove em cada dez microempresárias não têm colaboradores.
O percentual de mulheres empresárias consideradas chefes de domicílio chegou a 45%, ultrapassando a porcentagem de mulheres que sobrevivem da renda de seus companheiros.
Rio de Janeiro e Ceará são os estados que lideram na proporção de mulheres empreendedoras (38%). O contingente é superior à média nacional 34,4%. No Paraná, 560,7 mil negócios são comandados por mulheres, o que corresponde a 33% do total.
No estado, também de acordo com levantamento, quase metade das empresas lideradas por elas atuam no setor de serviços (49,7%).
Conforme apontado pelo Portal Verdade, a maior parte dos micros e pequenos empreendedores possui renda de até dois salários-mínimos (relembre aqui). No total, são quase 20 milhões com este ganho (68%).
Entre os que recebem até dois salários-mínimos, a maioria é negra (59%). Conforme o lucro aumenta, a proporção de empreendedores negros diminui. Entre os que ganham a partir de cinco salários-mínimos, o contingente é de 25%.
O mesmo ocorre com a participação das mulheres. Na faixa de renda até dois salários-mínimos, elas representam 36%. Esse percentual cai para 28% nos empreendimentos com remuneração a partir de cinco salários.
A economista Luciana de Oliveira Ribeiro evidencia que os dados não devem ser compreendidos de maneira isolada. “Sabemos que devido à desigualdade, os níveis de escolarização da população negra ainda são inferiores aos de brancos no Brasil de modo que a discriminação também se reproduz no mercado de trabalho. Notamos que seja trabalhando de maneira autônoma ou para terceiros, negras e negros ocupam postos de menor prestígio e consequentemente com menor remuneração”, indica.
Ribeiro também chama atenção para o machismo que permeia o mercado de trabalho, dificultando a chegada de mulheres a cargos de liderança. “Além de exercerem jornadas maiores, aliando trabalho dentro e fora de casa, muitas vezes as mulheres têm sua capacidade de gestão questionada, até mesmo desrespeitada, pois nos postos de chefia a presença do homem ainda é mais frequente e naturalizada”, adverte.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.