Primeira mulher a integrar a ala de compositores da escola de samba Estação Primeira de Mangueira no início da década de 1970, Leci Brandão ocupa uma posição de destaque entre os maiores sambistas brasileiros. Pioneira em defender o protagonismo feminino e a diversidade racial, política e sexual em suas composições, a artista carioca é autora e intérprete de clássicos que não podem faltar em uma boa roda samba. Músicas como “Zé do Caroço”, “Isso é Fundo de Quintal”, “Só quero te namorar” e outras que fazem parte do repertório da cantora poderão ser ouvidas pelo público londrinense no show que ela faz como convidada especial do Samba da Madrugada no próximo sábado, a partir das 22 horas, na Apuel. O evento conta com apoio do Grupo Folha de Comunicação.
Com 43 anos de trajetória musical, Leci lançou 13 LPs, 8 CDs, 2 DVDs e 3 compactos. O envolvimento da carioca com a música teve início ainda na adolescência, quando aprendeu sozinha a tocar pandeiro e surdo. Aos 21 anos, compôs a primeira canção, “Tema do amor de você”. Nascida em Madeira e criada em Vila Isabel, começou a ficar conhecida nacionalmente em 1968, quando foi vencedora do programa de calouros “A grande chance”, apresentado por Flávio Cavalcanti (1923-1986). Dois anos mais tarde, forma-se em Direito pela Universidade Gama Filho (RJ).
Rompeu o reduto machista que dominava a ala de compositores das escolas de samba do Rio de Janeiro. E em, 1972, passou a integrar a fazer parte dos autores dos enredos da Estação Primeira de Mangueira. Em 1973, com a música “Antes que eu volte a ser nada” ficou entre os finalistas do Festival Abertura, promovido pela Rede Globo. Logo em seu primeiro disco com abrangência nacional lançado pela Philips em 1976, começou a explicitar seu ativismo social. Parte das letras do LP “Questão de Gosto” já denotavam o tom feminista da artista na faixa “Ser mulher”. O repertório contava ainda com a regravação do samba-enredo “Casa Grande e senzala”, cuja letra inspirada na obra do antropólogo Gilberto Freyre (1900-1987) faz críticas ao regime escravocrata brasileiro.
Abordou diversas outras temáticas sociais em trabalhos seguintes. No disco “Coisas do meu pessoal” (1977), tematizou a liberdade de expressão sexual na faixa “Ombro Amigo”, que versa sobre um romance homossexual. Em “Essa tal criatura” (1980), discute o regime militar e critica a exclusão social dos analfabetos através da canção “Não cala o cantor”.
Por questões ideológicas rescindiu seu contrato com a gravadora Philips e ficou cinco anos sem lançar um novo disco. Retornou ao mercado fonográfico em 1985, quando lançou pela Copacabana Discos o álbum Leci Brandão, o maior sucesso de sua carreira. Entre os hits do LP estão “Zé do Caroço”, baseado na história verídica de um personagem do morro, e “Isso é Fundo de Quintal” – homenagem ao grupo musical formado no Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro. Continuou produzindo hits em seus trabalhos seguintes, entre eles “Eu só quero te namorar” e “As coisas que mamãe me ensinou”.
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O ativismo de Leci nos discos e nos palcos foi levado para os palanques. Em 2010, a cantora foi eleita deputada estadual de São Paulo, cargo para o qual foi reeleita em 2014 e 2018. Dentre as bandeiras defendidas pela artista como parlamentar estão a cultura popular, a igualdade racial e a valorização das tradições de matriz africana.
“Achamos importante trazer para o Samba da Madrugada essa artista pioneira que rompeu o machismo dentro do universo do samba e sempre lutou em defesa da população LGBTQIA+ e de tantas outras minorias. A Leci é uma das maiores sambistas de todos os tempos e merece ter a sua história reconhecida por todos nós”, destaca Michael Silva Soares, organizador do evento.
Serviço:
Samba da Madrugada – Show com Leci Brandão
Quando – Sábado (25), a partir das 22 horas
Onde – Onde – Sede da Apuel (Rod. Mabio Gonçalves Palhano, s/n – próximo ao Centro de Eventos)
Quanto – A partir de R$ 120,00 (valor para a compra de dois ingressos)
Foto: Carlos Torres/ Divulgação
Fonte: Folha de Londrina