Segundo o sindicato, a categoria conta com a ausência de 45% de profissionais da saúde
O Paraná está em situação de emergência em saúde pública para dengue devido ao aumento no número de casos e óbitos confirmados nas últimas semanas. De acordo com o último boletim epidemiológico, divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), na terça-feira (19), são mais de 260 mil notificações da doença e 60 mortes em todo o estado.
Apesar da Sesa ter intensificado as ações de prevenção e combate à dengue, o SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos Estaduais dos Serviços de Saúde e Previdência do Paraná) ressalta que o quadro de profissionais está defasado, dos 11 mil cargos disponíveis, apenas seis mil estão ocupados, uma ausência de 45% de profissionais da saúde.
“As medidas não são suficientes porque faltam equipes completas que possam colocar em prática essas ações de prevenção e combate à dengue”, afirma Elaine Rodella, membro da diretoria de defesa da saúde pública do SindSaúde.
Falha de comunicação na campanha de vacinação
O SindSaúde enfatiza ainda que a Sesa vem falhando em uma comunicação efetiva para a vacinação contra a dengue no Paraná.
“No esquema vacinal temos uma campanha anti vacina muito forte, que vem influenciando a população com contos mentirosos e histórias fantasiosas”, revela Elaine. “A população está sendo influenciada por uma ‘máquina de mentiras’ e parece que o estado não consegue colocar dinheiro na ‘máquina da verdade’ e comunicar de forma eficiente”, concluiu.
Até o momento, apenas 30 municípios paranaenses receberam a vacina Qdenga, mas o imunizante tem tido uma baixa procura. Segundo um levantamento preliminar da Sesa, apenas 23,5% das doses recebidas do Ministério da Saúde foram aplicadas. Em números absolutos, foram 8.252 doses aplicadas do total de 35.025 distribuídas para a 9ª Regional de Saúde de Foz do Iguaçu e a 17ª Regional de Saúde de Londrina. No início do mês, o público-alvo foi ampliado para crianças e adolescentes de 12 a 14 anos devido à baixa procura.
“À medida que se tem uma rede de mentiras circulando e você não potencializa sua rede com a ciência, a verdade e exemplos concretos, você não conseguirá combater as fakes news. Algumas estratégias de comunicação deveriam ter sido usadas de forma massiva, mas não foram”, destaca Elaine Rodella.
Presença do estado nos municípios
O SindSaúde reforça que o estado não consegue assessorar de forma adequada os municípios, porque não tem um olhar específico para as diferentes realidades.
“Não podemos chegar com uma cartilha pronta para os municípios, porque sabemos que isso não condiz com aquela realidade e assim os resultados não serão modificados”, explica Elaine.
Para ela, o estado prefere adotar políticas de incentivos financeiros e encaminhar quantias de dinheiro para que as cidades ampliem as suas ações, mas sem refletir sobre a expertise desses gestores em gerir esses recursos.
“A maioria deles não sabe o que fazer com o dinheiro, principalmente os municípios menores. Por isso, precisam de um estado forte para que possam evoluir a organização da estrutura de saúde local”, afirma Elaine.
A diretoria de defesa da saúde pública do SindSaúde destaca também que o estado deveria começar a realizar a prevenção da doença já nos meses de agosto e setembro. Ações como a limpeza de terrenos, educação das comunidades mais vulneráveis e campanhas para medidas de prevenção aos focos de dengue precisam ser tomadas com meses de antecedência.
Segundo Elaine Rodella, não é correto julgar a população quando os próprios órgãos públicos não cuidam das suas praças devidamente, dos pátios externos dos prédios públicos, da calha da biblioteca ou até mesmo das geladeiras e freezers das escolas.
“Colocar a responsabilidade na população é muito mais fácil do que pensar qual foi a soma de ações que deixaram de ser feitas para chegar nessa crise”, reflete.
Fonte: Brasil de Fato