Dados do INSS mostram que em 2022, a categoria foi responsável por 25% dos afastamentos acidentários e 4,3% dos afastamentos previdenciários no país
Os bancos são responsáveis por 0,8% do estoque de empregos e 1,5% do total de afastamentos por doenças. Os dados foram apresentados nesta quinta-feira (25/07) pelo Comando Nacional dos Bancários para a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), durante a Campanha Nacional Unificada.
“Apresentamos números de afastamentos alarmantes na categoria, consequência de um cotidiano exaustivo de trabalho, com o enfrentamento de metas abusivas e assédio moral. Somente em 2022, foram registrados no país 105,2 mil afastamentos acidentários, sendo 3,7% na categoria bancária. Ocorreram ainda 928.5 mil afastamentos previdenciários, 1,5% na categoria. Os bancos se enquadram entre as empresas com maior risco de acidente de trabalho ou doença ocupacional no Brasil”, afirma Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo e uma das coordenadoras do Comando Nacional.
“Em relação às doenças mentais e comportamentais, em 2022, a categoria bancária foi responsável por 25% dos afastamentos acidentários e 4,3% dos afastamentos previdenciários. Os banqueiros negaram que o adoecimento mental tenha relação com a gestão dos bancos. Apesar de todos os dados afirmaram que ‘não existe comprovação científica”.
A coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, ressalta que é obrigação dos bancos o estabelecimento de um ambiente de trabalho saudável e sustentável. “A saúde mental é uma prioridade e não pode continuar sendo sacrificada em nome de lucros. Só em 2023, os cinco maiores bancos do país lucraram R$ 108,6 bilhões. Mas, apesar do montante, nesse mesmo ano fecharam mais de 600 agências e demitiram mais de 2 mil funcionários. É uma lógica predatória, que visa o máximo de lucro, reduzindo o quadro de trabalhadores e sobrecarregando os que seguem contratados e que se submetem à gestão adoecedora, com medo de perderem seus empregos”, pontua.
Pesquisa
A Consulta da Campanha Nacional dos Bancários 2024, com a participação de 46.824 bancários e bancárias em todo o Brasil, entre as prioridades apontadas pelos bancários para a Campanha Nacional, a preocupação com a saúde ganhou destaque.
- 39% dos respondentes declararam ter usado medicamento controlado nos últimos 12 meses;
- Em relação aos impactos à saúde das cobranças excessivas pelo cumprimento de metas:
- 67% responderam ter preocupação constante com o trabalho;
- 60% responderam sentir cansaço e fadiga constante;
- 53% sentem-se desmotivados e sem vontade de ir trabalhar;
- 47% tem crises de ansiedade/pânico; e
- 39% sentem dificuldade de dormir mesmo aos finais de semana (entre outros sintomas).
Dados de Afastamentos na Categoria Bancária
(Smartlab – INSS)
- A Categoria Bancária representa 0,8% do emprego formal. Com relação ao auxílio doença previdenciário, a taxa de afastamento nos bancos comerciais chegou a 289,7 para cada mil vínculos;
- Analisando dados por ocupação, nota-se que ocupações tipicamente bancárias estão entre as que geraram maiores taxas de afastamento acidentário: gerente de agência (12,3 para cada mil); gerente de contas PF e PJ (11,4 para cada mil); e caixa de banco, com taxa de 11,0 para cada mil vínculos;
- Em 2022, foram registrados no país 105,2 mil afastamentos acidentários, sendo 3,7% na Categoria Bancária. Ocorreram ainda 928.5 mil afastamentos previdenciários, 1,5% na Categoria Bancária;
- o Em relação aos afastamentos relacionados à Saúde Mental e Comportamental, em 2022, a Categoria Bancária foi responsável por 25% dos afastamentos acidentários (B91) e 4,3% dos afastamentos previdenciários (B-31);
- Em 2012, os afastamentos acidentários de bancários foram motivados, em sua maioria, por doenças “Osteomuscular e Tecido Conjuntivo” (48,7%). Já em 2022, as doenças Mentais e Comportamentais foram as principais causas dos afastamentos, responsáveis por 57,1% do total dos afastamentos na categoria bancária;
- Quanto aos afastamentos previdenciários, as doenças Mentais e Comportamentais foram as principais responsáveis pelo total de afastamentos em ambos os períodos (23,6% em 2021 e 40% em 2022);
- Taxa de ocorrência de afastamento: a utilização do conceito de taxa como indicador é um parâmetro comum que propicia melhor análise comparativa. Em 2022, a taxa de afastamento acidentário na categoria bancária ficou em 9,1 para cada mil vínculos, enquanto a média geral da economia foi de 2,0 para cada mil vínculos;
- Nos bancos comerciais, a taxa de afastamento acidentário foi de 37,3 para cada mil vínculos e nos bancos múltiplos com carteira comercial a taxa foi de 9,5 para cada mil vínculos.
Uma pesquisa nacional da Contraf-CUT/UNB, neste ano, com o objetivo de investigar as relações entre o trabalho bancário e o adoecimento na categoria, revelam a presença de fatores de risco no ambiente de trabalho, com riscos psicossociais.
De acordo com a Dra Ana Magnólia Mendes, coordenadora da pesquisa, a presença intensa de relações produtivistas intensificam a sobrecarga no trabalho: “Essas relações são caracterizadas pelo foco em metas, pela cobrança por resultados, pela pressão intensificada pela vigilância de resultados e também pela insuficiência de pessoas para realizar as tarefas que contribui para um ritmo de trabalho excessivo”.
Em 2022, a OMS e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) fizeram um chamado à ações concretas para atender às preocupações sobre a saúde mental da população trabalhadora. Na época, estimou-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos por causa de depressão e ansiedade, custando à economia global quase 1 trilhão de dólares. As diretrizes globais da OMS sobre saúde mental no trabalho recomendam ações para enfrentar os riscos à saúde mental, como cargas pesadas de trabalho, comportamentos negativos e outros fatores que geram sofrimento no trabalho. Pela primeira vez, a OMS recomenda o treinamento de gestores para desenvolverem capacidades para prevenir ambientes de trabalho estressantes e responder aos trabalhadores em sofrimento.
“Ignorar a OIT, OMS e todos os estudos que relacionam as doenças mentais com uma gestão de trabalho que adoece os trabalhadores é um erro e não corresponde com a imagem que os bancos querem passar em suas propagandas”, finalizou Neiva.
A próxima rodada de negociação vai discutir as cláusulas econômicas. Os bancários reivindicam aumento real de 5% (inflação + 5%), PLR maior e ampliação de direitos.
Cronograma da Campanha Nacional Unificada bancários
Mesa de negociação: Cláusulas Econômicas: 13/08, 20/08 e 27/08
Entrega da minuta de reivindicações: 15/06
Definição de calendário: 22/06
Mesa de negociação: Emprego e Terceirização: 26/06
Mesa de negociação: Cláusulas sociais (Teletrabalho, jornada de 4 dias): 02/07
Mesa de negociação: Igualdade de Oportunidades (LGBTQIA+): 11/07
Mesa de negociação: Saúde (PCDs e neurodivergentes) e Segurança: 18/07
Mesa de negociação: Saúde (adoecimento mental): 25/07
Mesa de negociação: Cláusulas Econômicas: 06/08
Fonte: CUT Brasil