Níveis ilegais de agrotóxicos estariam ligados a aumento de casos de câncer na população
O deputado estadual Goura (PDT) enviou nesta terça-feira (26) uma denúncia ao Ministério Público do Paraná para que seja investigada a presença de substâncias tóxicas nas águas de 127 municípios do estado e que teriam provocado o aumento de vários tipos de câncer na população paranaense.
A denúncia é baseada em um estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Oeste do Paraná e da American University Harvard, que estabeleceu uma correlação entre o aumento de tumores na população e a presença na rede hídrica de 11 agrotóxicos potencialmente cancerígenos. A pesquisa foi divulgada pela Folha de S. Paulo no mês passado.
“Agrotóxico mata e seu uso precisa ser cada vez mais restringido. Chega de veneno”, explicou em nota Goura que pediu ao procurador geral do MP-PR Gilberto Giacoia que tome as devidas providências jurídicas.
Câncer de mama aumentou 40%
De acordo com o estudo, a poluição das águas que abastece os municípios do Oeste do Paraná já causou pelo menos 542 casos de tumor sendo que 80% seriam provocados pelos pesticidas diuron e mancozeb-ETU, já banidos na União Europeia e responsáveis por câncer na bexiga e tireoide.
Embora os dados disponíveis atualmente não indiquem um aumento significativo desses dois tipos de tumores na população do Paraná, o estudo identificou que no período analisado houve um crescimento do câncer de mama entre as mulheres.
Segundo Carolina Panuis, pesquisadora da Universidade Oeste do Paraná que conduziu o estudo, o estado registrou 40% mais diagnósticos em relação ao restante do país. Não só as mulheres que trabalham na área agrícola estão mais expostas a esse risco, mas também grande parte da população que vive nos municípios do oeste paranaense.
“Estimamos um risco de câncer para aproximadamente cinco milhões de pessoas expostas aos agrotóxicos encontrados na água”, diz o estudo.
Quais substâncias foram encontradas?
Amostras coletadas em 127 cidades paranaenses revelaram que nas águas que abastecem as casas existem tanto agrotóxicos autorizados quanto substancias ilegais, como aldrin-dieldrin, clordano e DDT.
Apesar de serem proibidos no Brasil, os três pesticidas “estão presentes em níveis preocupantes” na água de vários municípios da região analisada. Em 44% das cidades analisadas, o nível de clordano foi superior aos limites estabelecidos pela União Europeia.
O DDT, que está proibido no Brasil desde 1985, foi encontrado nas águas de quase todas as cidades analisadas com um percentual sete vezes superior aos limites europeus. Outras duas substâncias perigosas que foram encontradas são glisofato e atrazina.
A concentração de glifosato nas águas respeitava o nível estabelecido pela legislação brasileira, mas vale lembrar que este limite é 5 mil vezes superior ao permitido na União Europeia.
O caso de Cascavel
O Oeste do Paraná já registrou nos últimos anos um caso suspeito de água contaminada. Em 2020, o Ministério Publico abriu um inquérito civil para apurar uma denúncia apresentada por vereadores de Cascavel contra a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar).
A investigação apontou que o município registrou 12.223 casos de diarreia entre dezembro de 2018 e maio de 2019 causados pela presença na água da bactéria Cryptosporidium hominis. Em julho deste ano, o MP condenou a Sanepar a desembolsar R$ 1,2 milhão de indenização para todas as pessoas que precisaram de atendimento médico.
Até o momento, não há elementos para que os dois casos estejam relacionados, mas confirmam as suspeitas reveladas pelo Mapa da Água, criado pelo Repórter Brasil: o Paraná é um dos estados onde há a possibilidade de beber água poluída.
Fonte: Jornal Plural