A evolução das teses do neoliberalismo econômico (uma exacerbação do capitalismo moderno), tem mudado radicalmente as relações no embate entre trabalho e capital. Principalmente desde Margareth Thatcher na Inglaterra e Ronald Reagan nos EUA, muitos dos direitos trabalhistas conquistados durante muitas décadas de luta e intensificado no pós 2ª Guerra, têm sido gradualmente retirados praticamente no mundo todo e mais recentemente com maior intensidade no Brasil, com as recentes mudanças na legislação trabalhista.
Dentre as perdas ocorridas para o trabalhador podem estar o fim de carga horária definida, contratação precária com perda de vínculo empregatício, fim de recolhimento para aposentadoria e de direito a férias, a descanso semanal, a ausência por motivo de saúde, décimo terceiro, etc. Tudo isso impacta bastante nas condições de trabalho, o que leva a sérias repercussões na saúde do trabalhador, nem sempre consideradas quando se fala neste assunto.
Alguns exemplos disso vêm de pesquisas realizadas na própria Inglaterra nos últimos 10 anos, segundo uma publicação da revista British Medical Journal (BMJ) ainda em 2013.
Uma delas estudou mais de 174 mil trabalhadores por quase 10 anos e identificou uma relação entre insegurança no emprego e aumento no risco de ocorrer doença cardíaca coronariana, cuja principal consequência é infarto agudo do coração.
Outras pesquisas identificaram que a baixa satisfação no emprego, aparece associada a agravos de saúde como esgotamento, baixa estima e ansiedade.
Uma das causas para os desfechos acima relatadas e detectadas nestes estudos foi a de desenvolver trabalho por horas excessivas, problema que aqui no Brasil estará estreitamente relacionado às mudanças das regras de relação de trabalho. Num estudo britânico feito com mais de 39 mil trabalhadores em muitos empregos diferentes constatou-se que mais de um quarto deles relataram trabalhar excessivamente horas a mais para “marcar presença, mesmo estando doentes” (medo de perder o emprego).
Creio que nem é preciso ressaltar que os problemas acima citados têm uma relação estreita com a precarização do trabalho fortemente em curso em nosso meio.
São informações originadas de pesquisas científicas do campo médico, que devem nos chamar atenção sobre riscos de saúde para o trabalhador aqui relatados e que geralmente não entram no rol das preocupações quando se fala em medicina do trabalho e em proteção à saúde dessas pessoas. Fora todas as outras condições de agravo à saúde do trabalhador que são mais óbvias do que estas, e só pioram com a precarização das relações de emprego.
Pense nisso.
Texto: Gilberto Martin, médico sanitarista