O Movimento Justiça por Almas – Mães de Luto em Luta realizou um protesto nesta terça-feira (6) na Avenida Saul Elkind (zona norte de Londrina) para lembrar os seis meses das mortes de seis pessoas decorrentes de uma intervenção da Polícia Militar no Jardim Felicidade (zona norte).
No dia 7 de fevereiro deste ano, após receber informação de que o PCC faria um “tribunal do crime” numa residência, viaturas da PM foram até o local. A versão oficial do caso, que consta de relatório da Polícia Civil, é a seguinte: “A Polícia Militar acionou o Choque tendo em vista a informação recebida que eram vários elementos armados nessa reunião. Ao chegar no local, o grupo tático Choque visualizaram (sic) uma mulher e uma criança perto da residência e sinalizaram para elas saírem para preservar a segurança delas. Quando fizeram contato visual, ouve (sic) o confronto uma vez que, todos os seis elementos estavam armados e não se renderão (sic) a voz de prisão.”
O caso mobilizou os moradores da região, que paralisaram parte da rodovia Carlos João Strass dia 15 de fevereiro.
As famílias de pelo menos dois dos mortos contestam a versão oficial. Elas acreditam que houve execução e cobram transparência nas investigações.
O protesto desta terça-feira foi realizado em frente ao Atacadista Assaí, local onde um dos rapazes, João Victor Santos, que tinha 28 anos, trabalhava havia dez anos.
“A minha vida virou um transtorno, porque eu tive que mudar de bairro. Saí da minha casa e agora tenho de pagar aluguel. Minha mulher não aguentou ficar lá porque o fato aconteceu praticamente em frente de casa e a polícia estava sempre por lá”, conta João Pinto dos Santos.
Segundo Santos, que é auxiliar de serviços gerais, seu filho convivia com um dos traficantes, mas nunca se envolveu com a venda de drogas. Ele não tinha passagem pela polícia e jamais usou arma de fogo. “Meu filho era trabalhador, tinha registro em carteira e tudo”, afirma. “No bairro, todo mundo conhece todo mundo. O fato de eu conversar com o pessoal do tráfico não me faz traficante. Nem eu nem meu filho nunca nos envolvemos com isso”, alega.
Santos diz que não vai desistir enquanto não provar a inocência do filho. “Estou nessa luta e vou até o final”. Nos últimos meses, ele fez visitas constantes à Polícia Civil e ao Ministério Público buscando informações sobre o inquérito aberto para investigar o caso. “É tudo muito lento. Até hoje, eu não consegui liberar nada que estava com meu filho, o celular, o cartão de crédito.”
Márcia de Oliveira é outra que contesta a versão oficial. Ela admite que o filho, Kauan de Oliveira, trabalhava como “aviãozinho” para o tráfico, mas estava tentando mudar de vida quando foi morto aos 20 anos de idade.
A dona de casa diz ter conversado com a mulher que estava na casa do Jardim Felicidade no início da abordagem policial. “Ela falou para mim que a hora que eles (policiais) puseram ela para fora, meu filho estava de joelho com a mão na cabeça.”
Garçonete, a mãe alega estar sem condições de trabalhar por causa de dores fortes e depressão. Ela critica as autoridades. Diz que o País não dá oportunidade para os jovens, que ficam “à mercê” dos bandidos. “A gente trabalha para criar nossos filhos, dar educação para eles, mas a gente não pode ficar 24 horas em cima deles porque a gente tem de trabalhar.”
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público do Paraná, o caso está sendo acompanhado pela 14ª Promotoria de Justiça de Londrina, que aguarda a conclusão de diligências pendentes. “O inquérito policial relacionado ao caso tramita sob sigilo”, diz nota enviada à Rede Lume.
A reportagem também questionou a Polícia Civil sobre o inquérito e aguarda uma resposta.
Fonte: Rede Lume de Jornalistas