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As consequências da inevitável derrota da Ucrânia na guerra com a Rússia

Com a queda da cidade de Avdiivka, um posto avançado de resistência do exército ucraniano, com função logística crucial para manter a chegada de suprimentos para a guerra, a vitória da Rússia é quase certa! Não só por isso, mas também pelo fato de que a Ucrânia não tem mais soldados qualificados, estão enviando adolescentes para os campos de batalha, não tem mais força aérea, os armamentos estão cada vez mais escassos e o Ocidente, EUA e os principais países da Europa, como Reino Unido, França, Alemanha, viram que enviar armamentos e recursos não gerou a reação que esperavam.

É importante lembrar que essa guerra poderia ter sido evitada, como já foi colocado nesta coluna. Já dissemos aqui que bastava o Presidente Comediante da Ucrânia Vladimir Zelensky, e seu governo com tendências neonazista, dizer que não iria entrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN e todo esse conflito teria sido evitado. Esse foi o estopim do conflito, apesar de questões como o não cumprimento do acordo de Minsk e o ataque à população de origem russa no Dombass, desde 2014, com mais de 14.000 mortes, pelo exército neonazista ucraniano, também pesaram na decisão da Rússia de invadir o território ucraniano.

Com um ano de guerra, um acordo de paz estava muito próximo de ser fechado entre as duas partes, mas é sabido agora que o Primeiro Ministro do Reino Unido na época, Boris Johnson, a mando dos EUA, pressionou o líder ucraniano para não fechá-lo e acenou que o ocidente continuaria a fornecer toda ajuda necessária para a reação da Ucrânia. Ledo engano! Mesmo os bilhões de dólares enviados, não de graça, já que esses envios se tornam dívidas futuras para o que sobrar da república ucraniana, não foram suficientes, e os armamentos, como os “poderosos” tanques alemães e americanos, foram pulverizados, alguns muito antes de chegarem ao front de batalha.

A Ucrânia está esfacelada, perdeu milhares de homens, milhares se tornaram presos de guerra na Rússia e milhares estão mutilados ou com sequelas graves. Uma parte de seus cidadãos, para evitar o recrutamento, está tentando fugir do país, pois sabem que não terão chance alguma no campo de batalha. Qualquer ajuda financeira não será suficiente para reverter o quadro de derrota. As oposições no ocidente não querem mais gastar quantias elevadas para algo que se apresenta como um jogo perdido. A Ucrânia sairá dessa aventura, em que foi manipulada pelo Ocidente, como um país arruinado e menor.

Perderá o Dombass e possivelmente parte do sul do país, o que acarretará o fim de seu acesso ao Mar Negro. Países como a Polônia e a Hungria já acenam reivindicar territórios que, historicamente, pertenciam a eles e foram entregues para a Ucrânia em conflitos passados; portanto, a chance de perder mais territórios é grande! Todas essas perdas devem ser colocadas na conta do golpe de 2014, patrocinado pelos EUA, que gerou a ascensão de um governo de direita, associado a uma extrema-direita neonazista e encaminhou a Ucrânia para essa triste situação.  

As sanções impostas pelo Ocidente à Rússia geraram efeitos contrários. Impulsionaram ainda mais a indústria russa, e o país direcionou sua economia para a China e Índia, como também para acordos bilaterais com vários outros países. A Rússia apresentou, em 2023, um crescimento econômico maior que qualquer outro país da Europa, mesmo estando em guerra. É importante salientar que os pagamentos estão sendo feitos com o yuan chinês e não mais com dólar americano, algo que vem crescendo e que afeta a hegemonia do Ocidente de forma significativa.   

Mais cedo ou mais tarde, a OTAN terá que admitir sua inabilidade e falta de preparo para o enfrentamento da Rússia nessa aventura por procuração, assim como terá que admitir mais uma derrota, depois do fracasso na Síria e a humilhação no Afeganistão. Na verdade, a OTAN é muito eficiente para bombardear cidades em países periféricos, sem o menor comprometimento de evitar mortes de civis, como aconteceu em Belgrado, ex-Iugoslávia e no Iraque em décadas passadas, mas, para o enfrentamento do exército russo, sua inabilidade ficou exposta.

A modernização dos armamentos russos está pelo menos duas gerações à frente do Ocidente. Eles detêm a tecnologia dos mísseis supersônicos, que podem atingir Londres, por exemplo, entre 4 e 7 minutos, uma tecnologia que ainda engatinha no Pentágono. É bom deixar claro também que os “poderosos” e assustadores porta-aviões americanos, que sempre intimidaram o mundo, hoje, se tornam alvos fáceis e, em um conflito com os russos, durariam alguns minutos, haja vista que não existe ainda sistemas de defesas para esse tipo de armamento russo.

A pergunta que fica é: como os EUA, que têm um gasto dez vezes maior que a Rússia, não conseguiram desenvolver a tecnologia supersônica ainda? Para alguns geopolíticos especialistas nesta área, isso decorre da falta de investimento em pesquisas científicas ligadas à matemática, mas também, da corrupção na área militar americana, que desvia recursos volumosos que poderiam ser investidos nesse tipo de tecnologia; dois adventos do neoliberalismo, que tomou essa nação e grande parte do mundo nas últimas quatro décadas.

A bravata do presidente francês, Macron, dizendo, nos últimos dias, que a Otan enviará militares para combate na guerra da Ucrânia foi desmentida no dia seguinte pelas autoridades da Alemanha, do Reino Unido e da Itália, pois sabem que isso seria uma ação insana com custo imenso para seus países.  

Uma outra questão, e a que mais nos interessa, é como OTAN e EUA vão lidar com mais essa derrota. Alguns alucinados querem já iniciar um ataque a Rússia. Se isso por ventura acontecer, é o planeta que sofrerá as consequências de uma guerra, que pode escalar rapidamente e alcançar um conflito nuclear em questão de dias ou horas. Putin já avisou que está aprimorando seu arsenal nuclear. Estamos caminhando no fio da navalha.

Fábio da Cunha
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Professor Dr. Fábio César Alves da Cunha é geógrafo e docente associado do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Londrina UEL. Possui mestrado em Planejamento Ambiental (UNESP), Doutorado em Desenvolvimento Regional (UNESP) e Pós-Doutorado em Metropolização pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha com geografia urbana e regional, planejamento urbano e ambiental, geopolítica e metropolização.

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