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O significado do ataque do Irã a Israel

O mundo ficou atônito com a declaração do Irã de que um ataque a Israel estava em andamento no último sábado, dia 13 de abril.  Declarou também que tal ação seria legítima e que estava se utilizando do artigo 51 da Carta das Nações Unidas, que garante o princípio de legítima defesa em caso de sofrer um ataque.

Alegou que o motivo da ação foi revidar o ataque implementado por Israel, no início do mês, na embaixada iraniana em Damasco, na Síria. Algo até então nunca visto, já que as embaixadas são protegidas por tratados diplomáticos históricos que não permitem qualquer tipo de agressão a estes locais diplomáticos, pois são considerados territórios estrangeiros que não podem ser violados. Tal ataque resultou na morte de sete pessoas, incluindo um general da Guarda Revolucionária Iraniana.

O Ataque do Irã contou com o lançamento de 170 drones, 120 mísseis balísticos e 30 mísseis de cruzeiro. Mais de 95% desses armamentos foram interceptados, muitos mesmo antes de chegarem no espaço aéreo israelense, por caças dos EUA, Reino Unido, Jordânia e Israel. O restante foi abatido pelo sistema de defesa “Domo de Ferro” da nação israelense. O serviço médico de Israel relatou que apenas uma criança, de 7 anos, havia ficado ferida em decorrência do ataque, o que confere um sucesso ao sistema de defesa de Israel.

O Irã declarou, algumas horas depois, que o ataque, legítimo, estava encerrado e que, se houvesse qualquer retaliação por parte de Israel ou EUA, um novo ataque, muito mais agressivo, seria colocado em prática. Israel prometeu uma resposta e declarou que o Irã pagará na hora certa.

O governo americano, principal financiador dos armamentos de Israel, declarou que não se envolverá nesse conflito, apesar de apoiar israel. Esse não envolvimento, possivelmente por razões eleitoreiras e econômicas tem explicação: teremos eleições neste ano nos EUA e é sabido que o Irã pode fechar o estreito de Ormuz no Golfo Pérsico, rota por onde passa um terço do petróleo do mundo. Tal ação aumentaria drasticamente o preço do petróleo afetando, significativamente, a economia mundial.  

Todas essas ações das últimas 48 horas aumentaram de forma contundente a tensão no Oriente Médio, e alguns pontos chamam a atenção:

  1. A motivação de Israel em atacar a embaixada Iraniana na Síria pode ter sido planejada com o objetivo de buscar uma reação Iraniana e, automaticamente, chamar o EUA para o conflito, amenizando, assim, a oposição externa e interna, cada dia mais forte, porém pouco divulgada pela mídia ocidental, à Netanyahu, líder israelense.   
  2. Foi a primeira vez na história que o Irã atacou diretamente Israel. Grande parte de seus armamentos chegaram com facilidade ao território israelense. Isso significa que a hegemonia de Israel de algumas décadas não exista mais. O Irã se mostrou com grande capacidade de armamento e tecnologia muito desenvolvida.
  3. O irã avisou os países vizinhos com 48 horas de antecedência ao ataque a Israel, ou seja, avisou o mundo! Isso mostra que não queria causar grandes danos àquele país. Quem quer agredir não avisa, ataca de surpresa.
  4. O Ocidente diz que foi uma grande vitória do sistema de defesa de Israel. Hoje se sabe que, pelo menos, nove mísseis atingiram duas bases militares, causando significativos danos.  Não querem considerar que o Irã possivelmente já possua também tecnologia hipersônica, já que, em parceria com a Rússia, vem comercializando drones utilizados na guerra da Ucrânia.
    É muito provável que o Irã já tenha também os mísseis hipersônicos, e são esses que atingiram as bases. Uma coisa é interceptar drones, que atingem no máximo 250 km por hora; outra coisa é lidar com mísseis hipersônicos, visto que não dá pra ver quando chegam devido a uma velocidade que pode ultrapassar cinco mil km/hora. Neste caso, o Domo de Ferro pode virar Domo de papel!
  5. Israel continua sendo hostilizada por várias facções de nações vizinhas, no Líbano, Iraque, Iêmen, além do próprio governo Iraniano, pelo genocídio que Israel vem executando desde 07 de outubro passado ao povo palestino na faixa de Gaza, no qual mais de 35 mil civis foram mortos, dos quais mais de 15 mil mulheres e crianças. Grande parte do mundo condena Israel por essa barbárie, mas o genocídio continua! 
  6. Se Israel possui armas nucleares, como dizem, é bom saber também que, segundo o relatório da Agência Internacional de Energia Atômica de 2023, o Irã já estava enriquecendo urânio a mais de 83%; é necessário chegar a 90% para a fabricação de um artefato nuclear. Esta nação já pode ser, também, uma potência nuclear.

Diante desse cenário, a questão que fica é: Israel vai pagar pra ver? Vai escalar o conflito? Diante da sua vulnerabilidade, que agora foi exposta, talvez Israel deixe como está e procure resolver a situação no terreno diplomático.

Mas não podemos esquecer que Netanyahu, líder da extrema direita de Israel, está sendo muito criticado internamente por não priorizar o resgate dos reféns do Hamas. Este conflito já o ajudou a diminuir essa resistência e a sua continuidade pode ser uma ajuda ainda maior ou colocar tudo a perder. A situação é delicada e perigosa.

Já dissemos aqui, em outra ocasião, que os EUA estão perdendo a sua hegemonia mundial para a China e Rússia. A troca do uso do dólar americano pelo yuan chinês vem acelerando esse processo. A perda da hegemonia por parte de Israel é mais uma faceta deste processo. Estamos vendo nascer um novo Oriente Médio!  

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Fábio da Cunha
Professor Dr. Fábio César Alves da Cunha é geógrafo e docente associado do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Londrina UEL. Possui mestrado em Planejamento Ambiental (UNESP), Doutorado em Desenvolvimento Regional (UNESP) e Pós-Doutorado em Metropolização pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha com geografia urbana e regional, planejamento urbano e ambiental, geopolítica e metropolização.
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Professor Dr. Fábio César Alves da Cunha é geógrafo e docente associado do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Londrina UEL. Possui mestrado em Planejamento Ambiental (UNESP), Doutorado em Desenvolvimento Regional (UNESP) e Pós-Doutorado em Metropolização pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha com geografia urbana e regional, planejamento urbano e ambiental, geopolítica e metropolização.

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