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Debate com candidatos ao governo do Paraná ocorre na próxima quinta-feira (1º) em Londrina

Iniciativa parte de Coletivo de Sindicatos e acontece na UEL a partir das 9h30 com entrada gratuita e aberta ao público

“Uma possibilidade para que trabalhadores cobrem pautas que são importantes para a classe”, define Fábio Silveira, jornalista, professor e mediador do debate eleitoral que contará com a presença de candidatos que disputam o governo do Paraná. Marcada para próxima quinta-feira (1º) de setembro, a partir das 9h30 no Anfiteatro Cyro Grossi, do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), a sabatina tem as presenças confirmadas dos concorrentes: Roberto Requião (PT), Ricardo Gomyde (PDT) e Ângela Machado (PSOL). O evento é organizado pelo Coletivo de Sindicatos de Londrina, possui apoio da Rádio UEL FM e do Portal Verdade.

“Eu penso que os debates eleitorais são muito importantes independentemente de qual plataforma na qual eles estejam sendo rodados e de quem construiu. Particularmente, um debate organizado por um Coletivo de Sindicatos que representa os trabalhadores, ele é muito importante nesta fase da campanha, inclusive, para tentar firmar com estes candidatos compromissos com agendas, pautas que sejam importantes para os trabalhadores, porque, afinal de contas se nós formos pensar, nós que somos trabalhadores, temos um acesso muito restrito ao poder público, principalmente, depois que eles são eleitos. Agora, empresários, grupos que detém poder econômico, eles têm acesso diário, eles estão sempre conversando, eles votam todo dia e nós votamos a cada quatro anos e por isso é importante construir este tipo de debate. Além do mais, é momento de comparar, colocar os candidatos frente a frente”.

Para Silveira, o momento é importante também para que populações de cidades mais interioranas e distantes da capital, a exemplo de Londrina e municípios vizinhos, possam entrar em contato com os candidatos. “Não só a comunidade universitária, por ser dentro da UEL, não só para os sindicatos e movimentos [sociais] organizados, mas para o cidadão de maneira geral. É uma oportunidade que o londrinense e as pessoas que moram nos arreadores têm para cobrar dos candidatos as pautas que são importantes para nossa região”.

O debate está organizado em três blocos: o primeiro será destinado para perguntas de representantes das entidades que compõem o grupo e do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UEL. No 2º bloco, questões levantadas pela plateia serão sorteadas. Já no 3º bloco, os candidatos poderão direcionar perguntas aos adversários. A atividade é gratuita e não há necessidade de inscrição prévia.

“Minha expectativa é que seja uma oportunidade de ampla exposição dos candidatos, de apresentação das suas propostas e que os eventuais conflitos que fazem parte da política sejam dentro de regras de civilidade, que seja um choque de ideias, o que infelizmente, nos últimos anos nós nos desacostumamos no Brasil, de pessoas discutindo e contrapondo ideias de forma respeitosa. Isso nós precisamos resgatar, um debate público com choque de ideias sim porque a sociedade tem interesses diversos e muitas vezes eles divergem, isso faz parte da vida em sociedade e da política. Mas nós precisamos que este debate não descambe para o pugilato, porque nos últimos quatro anos nós nos acostumamos com uma ideia de política que se resolve tudo à força e não é”.

Polarização apenas nas intenções de voto

Silveira chama atenção para o entendimento de que o cenário político nacional esteja polarizado. Para ele, é necessário ter cuidado com esta compreensão disseminada pela grande imprensa, pois ela reforça a ideia de que haveria “um extremo de um lado e um extremo de outro, quando, na verdade, nós temos dois candidatos que polarizam a intenção de voto, mas de um lado nós temos um candidato [Jair Bolsonaro] que é de extrema-direita, radicalizada, com discurso autoritário que flerta com o fascismo. Do outro lado, nós temos uma candidatura [Luiz Inácio Lula da Silva] de centro-esquerda, que aliás, é de coloração social-democrata que se aproximou do centro e, inclusive, atraiu uma parte da centro-direita, da direita democrática, porque não dá para dizer que [Geraldo] Alckmin é esquerda ou centro-esquerda. Então, na verdade, a polarização é na intenção de voto e não em termos de posicionamento político”.

Para o professor, a polarização nas intenções de voto também pode ser percebida na disputa estadual. Segundo pesquisa IPEC, divulgada na última semana, Carlos Roberto Massa Júnior, mais conhecido como Ratinho Júnior (PSD), candidato que busca a reeleição, lidera as intenções de voto, concentrando 46% da preferência do eleitorado paranaense. Em segundo lugar, aparece Roberto Requião (PT) com 24%.

“Aqui, no Paraná, nós temos um candidato com posição de centro-esquerda [Roberto Requião] e temos um candidato da direita [Ratinho Júnior], que embora não reproduza o discurso da extrema-direita que hoje preside o país, adota políticas muito próximas da extrema-direita na segurança, no sucateamento da saúde, educação e demais serviços públicos. Então, essa polarização se reproduz do ponto de vista programático no Paraná, embora, eu considere que o Ratinho é um candidato da direita, mas não chega a ser da extrema-direita que pregue golpe de Estado, ditadura, como o candidato presidencial deste mesmo bloco, que aliás, é o candidato que ele apoia na eleição presidencial [Jair Bolsonaro]. Ratinho é um candidato que ainda está dentro das regras do jogo democrático, dentro de uma democracia liberal”, adverte Silveira.

O jornalista chama atenção para as políticas adotadas pelo atual mandatário do Palácio do Iguaçu. Orientadas por valores neoliberais, o fortalecimento da gestão pública, enquanto responsabilidade do estado, tem sido esvaziada ao passo que processos de privatização dos direitos sociais têm sido cada vez mais recorrentes. Outra característica marcante deste modelo de gestão é o estabelecimento autoritário das medidas sem ampla discussão com a sociedade civil e trabalhadores das pastas. Neste sentido, Silveira cita a conversão de escolas estaduais em cívico-militares (atualmente, o Paraná tem o maior número de colégios cívico-militares do país, são 197 unidades distribuídas todas as regiões do estado) e terceirização da saúde pública.

“Escola não é quartel. É importante que policiais estudem, claro, como todo cidadão tem direito a estudar. Agora, colocar polícia dentro da escola não é uma medida democrática. Os resultados nós temos visto, denúncias de policiais assediando, agredindo, não contribuindo em nada para a educação. E na saúde, a gente tem a FUNEAS [Fundação Estatal de Atenção em Saúde do Estado do Paraná] que começou no governo Beto Richa (PSDB), mas foi implantada efetivamente no governo Ratinho e tem sido alvo de muitas críticas, e a gente vê de uma forma geral nos hospitais mantidos pela FUNEAS, falta de uma lista grande de medicamentos. A agenda econômica do Ratinho é muito parecida com a do Bolsonaro, embora, ele não defenda ditadura, pelo menos em público. No Paraná, só se ouve falar na contratação de polícia para reforçar a repressão. Se a condição de vida da população está piorando e os serviços públicos estão sendo sucateados, isso gera pressão social, como que segura este quadro? Na visão deste governo, é por meio da força”, observa.

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Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.
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Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.

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