Lideranças do governo confirmam haver estudo para mudanças na Esplanada em busca de ampliar base aliada no Congresso
Líderes do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional admitem que já existe estudo para reformulação na Esplanada dos Ministérios. A movimentação visa atrair membros de legendas do chamado Centrão, como Republicanos e PP, além da ala do PL não ligada ao bolsonarismo. A expectativa é conseguir votos de parte das siglas, mesmo com a manutenção da independência no Legislativo.
Parlamentares ouvidos pelo Metrópoles logo após a primeira derrota do governo na Câmara dos Deputados negaram a possibilidade de demissões de ministros, inclusive os do União Brasil, caso seja preciso “abrir espaço” em nome de ampliar a base. O Republicanos, partido com 41 assentos na Casa, é visto como um dos principais problemas para o governo no Congresso e deve ser a prioridade nas próximas semanas.
Questionadas, outras lideranças confirmaram a possibilidade de um rearranjo na Esplanada, enquanto outras afirmaram se tratar de uma “especulação”. As mais entusiasmadas adiantam que a discussão visa o longo prazo, para concretização entre novembro e dezembro. O foco no Republicanos acontece porque, além do tamanho da legenda, o governo sabe dos planos de Marcos Pereira (SP), dirigente da sigla, para se tornar presidente da Câmara.
A legenda conta uma ala pró-Lula e outra, ainda majoritária, aliada a Jair Bolsonaro (PL). Entre os dois grupos, há uma parcela que seguirá o caminho mais seguro para garantir o fortalecimento da sigla para as eleições municipais de 2024, por meio de formação de alianças e concentração de cargos e emendas parlamentares.
De acordo com correligionários ouvidos pelo Metrópoles, Marcos Pereira argumenta ser necessário esperar as reformas econômicas – a nova regra fiscal e a reforma tributária – serem aprovadas, além do distanciamento da sua recente reeleição para o comando do partido, para concretizar a aproximação com o governo. Contará também a forma com a qual o Planalto seguirá lidando com a distribuição de emendas e cargos.
No Republicanos, pesará ainda a postura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. A parte “lulista” da legenda tenta convencer os colegas que o ex-ministro entenderá o movimento, que pode resultar no fortalecimento da sigla para 2024. Os mais bolsonaristas defendem que o grupo deixará a legenda caso haja alguma aproximação.
Republicanos e PP, em tempo, foram as legendas sem ministérios que mais foram agraciadas com a liberação de emendas do relator, feitas neste mês. Os recursos estavam represados até a Câmara aprovar um PDL para derrubar o decreto de Lula voltado a regulamentar o Marco do Saneamento. Ambos os partidos votaram, quase em sua totalidade, na aprovação da urgência do novo arcabouço fiscal, matéria de interesse do governo.
Centrão e PL
“É mais do que natural, isso é uma coisa que já deveria acontecer. Sobre os espaços, vamos ver como serão as conversas até lá. Pela situação [de governabilidade] na Câmara, é muito difícil continuar como está após este ano”, afirmou uma das lideranças do Centrão ao site.
As legendas independentes reclamam, principalmente, do espaço cedido ao União Brasil, que pouco entrega em votos na Câmara dos Deputados. Enquanto isso, o governo e as siglas cortejadas vão tratando de fazer sinalizações.
No PP, aliados apontam resistência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a indicar diretamente nomes neste momento. O medo seria contaminar a relação entre o governo e a mesa diretora da Casa.
Congressistas do PL enxergam que Lula busca completar sua base de apoio investindo “no varejo”. Ou seja, o Palácio do Planalto quer captar o interesse individual dos parlamentares, como fez com Yury do Paredão (CE).
O deputado cearense tirou fotos com o presidente Lula e, a despeito da reação furiosa dos correligionários bolsonaristas, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, descartou expulsá-lo do partido.
“O que pode acontecer é, se algum parlamentar integrar o governo, ele não ser penalizado, mas o partido se manterá independente ou de oposição”, disse um parlamentar do PL, em caráter reservado.
“Não vejo esse movimento com estranheza, é mais que natural. É juntar a vontade de alguns parlamentares do PL e do Centrão por espaço e a necessidade do governo para ampliar sua base. É a fome com a vontade de vender comida. Até porque, sabemos, somente uns 30% do PL é de fato bolsonarista”, comentou uma liderança do PT.
Fonte: Metrópoles