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Jornalista sofre ataques misóginos e censura em Londrina; violência contra categoria cresce em todo país

A maioria das abusos partem de autoridades, sendo o presidência da República, Jair Bolsonaro (PL), um dos principais agressores, aponta Fenaj e Abraji

Seja nas ruas, na internet ou nas sabatinas, atualmente, hostilizar e descredibilizar a imprensa no Brasil tornou-se quase comum. Em nome da “liberdade de expressão” vale tudo: de ataques virtuais no Twitter até fake news disseminadas por deputados federais entre outras autoridades. Segundo um levantamento feito em 2021 pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), somente o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi responsável por 147 dos 430 casos de ataque contra a imprensa. Esse levantamento foi feito a partir das denúncias recebidas pela Fenaj.

No começo da semana a emissora RICtv, afiliada da Record, demitiu uma jornalista basicamente por estar no local errado e na hora errada. Carol Romanini estava com a sua filha em um jogo do Londrina Esporte Clube no sábado (10) quando iniciou-se um tumulto envolvendo o deputado federal Filipe Barros (PL). De acordo com ela, o deputado pegou uma gravação em que ela aparecia na entrada do estádio acenando para um amigo e postou no Twitter, insinuando que a jornalista da RIC teria comemorado as agressões contra a equipe dele.

Além disso, o deputado postou também um print de uma conversa em grupo no WhatsApp de amigos da jornalista no qual estavam falando sobre a vinda do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Londrina e ela enviou uma figurinha de uma faca com a legenda “vamos resolver isso com calma”. Após a postagem, Romanini e a filha receberam mais de mil mensagens e ataques virtuais com viés machista e gordofóbico.

Fonte: Montagem realizada com prints disponibilizados pela jornalista

Na segunda-feira, ela apresentou o programa com uma blusa vermelha e, logo após isso, foi avisado nos grupos de WhatsApp da emissora que os apresentadores e repórteres que fossem ao ar estavam proibidos de usar cores vermelhas e semelhantes. Na terça-feira, Romanini foi avisada que o programa que ela apresenta não iria ao ar naquele dia. “Aí eu já sabia, né, o que viria pela frente. Chamei meu advogado e minha advogada e sentamos lá na sala” contou a jornalista. A RIC justificou a demissão apenas como o final de seu contrato, não havendo outros motivos.

“Foi censura, foi censura política. Não tinha nenhuma razão, eu não estava defendendo partido político nenhum”, relatou Carol Romanini ao Portal Verdade.

Misoginia

“Se fosse um homem eles teriam passado a mão, teriam explicado, teriam advertido. Eu acho que por ser mulher eles me mandaram embora. Para as emissoras é mais fácil ter homem” continuou a jornalista.
Dados coletados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) identificou que, em 2021, ocorreram 119 ataques contra mulheres jornalistas no país, ou seja, em média aconteceu uma agressão a cada três dias.

Do total de casos, 45 foram classificados como violências de gênero, sendo: 32 investidas foram dirigidas à moral e reputação da jornalista mulher, 8 possuíram caráter homofóbico, 02 ataques foram motivados por cobertura relacionado às questões de gênero, 02 casos de agressões físicas e 01 de ataque transfóbico. Com isso, 38% dos abusos tiveram gênero como fundamento.

A região Sudeste concentra a maioria dos casos (66,4%), seguida pelo Nordeste (12,6%), Centro Oeste (11,7%), Norte (4,2%) e Sul (3,4%). A pesquisa também indica que 52% das violências com atores identificáveis partiram de agentes estatais, sendo que o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) é um dos agressores mais recorrentes.

Em 2022, já foram contabilizados 73 ataques, dos quais 56,5% são ataques à reputação e à moral, usando a aparência, a sexualidade ou traços sexistas de personalidade para agredir. As demais situações envolvem agressões físicas e censura na internet.

Censura

Censura foi considerada a principal forma de ataque à liberdade de imprensa no ano passado, segundo o levantamento de 2021 da Fenaj. Esse silenciamento ocorre desde ataques cibernéticos aos veículos e profissionais, até o controle de vestimentas e pautas dos jornalistas, como aconteceu nessa semana na RICtv.

“Essa censura da RICtv para com os seus repórteres e apresentadores é uma coisa inédita pra mim. Não existe isso, eu trabalhei em vários veículos de direita, de esquerda, de centro e nunca me falaram que tipo de roupa eu deveria usar, nem que tipo de pergunta eu deveria fazer ao entrevistados. É um retrocesso civilizatório essa postura”, comentou o jornalista e sindicalista José Maschio.

Segundo Maschio, existem vários tipos de censura. O jornalista contou que quando você tinha uma pauta que não agradava a direção, eles alegavam uma falta de orçamento. Se você conseguisse passar dessa fase do orçamento, vinha então a censura que chamavam de “gaveta”, na qual a matéria ficava engavetada esperando a impressão.

“Eu considero isso censura. Porque quando você alega falta de orçamento para uma matéria que cumpre sua função social e de repente você tem orçamento para fazer uma matéria de interesse do jornal, o jornal está priorizando uma coisa em detrimento de outra muito mais ampla socialmente”, completou o jornalista.

Matéria da estagiária Raquel Cassitas sob supervisão

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