Aroaldo da Silva, que faz parte do Conselho que ajudou na construção das propostas que constam no documento da Nova Indústria Brasil (NIB), participou de reunião do SMetal para debater o assunto
Na manhã desta segunda-feira, 29, os diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) debateram os principais pontos da nova política de desenvolvimento da indústria, chamada Nova Indústria Brasil (NIB), que foi lançada na última segunda-feira, 22, pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Para isso, a entidade contou com a participação do presidente da IndustriAll Brasil, Aroaldo da Silva, que faz parte do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), órgão que teve participação ativa na construção das propostas que norteiam o documento da NIB. Fazem parte do CNDI, entre organizações dos empresários e membros do governo, três centrais sindicais, entre elas a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Durante sua fala, Aroaldo apresentou aos dirigentes do SMetal as seis missões da NIB e explicou o impacto desses itens para os trabalhadores. A proposta prevê o cumprimento de metas abrangentes até 2033 e, segundo ele, a NIB está caminhando para uma segunda fase pós lançamento que consiste em construir as ferramentas para o cumprimento dos eixos.
Na visão de Aroaldo, a maioria dessas missões faz um caminho inverso aos planos de industrialização que já passaram pelo país. “Essa não é uma política industrial convencional, ela tem uma inversão de lógica arraigada no Plano Indústria 10+. A NIB não discute a indústria como um fim de si mesmo”, afirmou. Ele explica, ainda, que essa proposta não pensa em organizações da cadeia produtiva primeiro, ela pensa a política industrial com o objetivo de atender as demandas da sociedade.
Ainda assim, é provável que os grandes empresários sejam, em alguma medida, beneficiados pela NIB, uma vez que ela prevê aumento da produtividade e reaquecimento da atividade industrial que hoje está em baixa. Diante disso, Aroaldo fez uma afirmação que mostra a visão dos sindicalistas sobre o assunto. “O aumento de produtividade que a nova indústria prevê, precisa ter ganhos para os trabalhadores”, disse.
Para Silvio Ferreira, secretário-geral do SMetal, diferente de outras propostas, a NIB coloca o povo brasileiro no centro da discussão. “Essa política industrial é fundamental para o desenvolvimento e soberania do país. A diferença é que, desta vez, a âncora da reindustrialização é o trabalhador e a sociedade brasileira”, diz.
Na ótica do SMetal, a prioridade dos sindicatos diante do futuro da nova indústria é pensar nos trabalhadores que estarão diante de desafios diferentes. O que vem sendo chamado de “neoindustrialização” que, de forma clara, significa uma indústria futurista, reestruturada com base nas tecnologias.
Esse movimento demanda, entre muitas coisas, que os trabalhadores industriais se preparem para o que vem pela frente. “Portanto, enquanto Sindicato, nossa missão é acompanhar esse debate e trabalhar no sentido de cobrar o poder público pela reciclagem e formação profissional para esses trabalhadores”, comenta Leandro Soares, presidente do SMetal.
Não somente os trabalhadores estão nesta conta. Na concepção de Leandro e Aroaldo, o próprio sindicalismo terá o desafio de mudar sua estrutura conforme avançam as inovações da indústria. “É importante se apropriar de mais elementos e assuntos, já que as novas tecnologias pedem novos conhecimentos e habilidades”, disse Aroaldo.
Os seis eixos do futuro da indústria brasileira
Entre os principais tópicos da nova indústria brasileira, estão: agregar valor ao agronegócio e fortalecer cadeias de agricultura familiar, proporcionando segurança alimentar para a população; nacionalizar a produção de insumos médicos, gerando aumento gradativo de renda e fortalecendo empresas de capital nacional; proporcionar o bem-estar nas cidades com um conjunto de elementos como infraestrutura, saneamento, mobilidade, etc.
Além das metas que têm viés mais social, também consta nas projeções da NIB realizar a transformação digital nas indústrias. De acordo com dados explanados pelo presidente da IndustriAll, atualmente cerca de 30% das empresas contam com a digitalização em suas operações. A meta é, por meio elevar esse percentual para 70% e, desta forma, elevar a capacidade das empresas para se conectar com o processo produtivo e econômico.
Outro tópico da NIB que tem reflexo direto na vida dos trabalhadores é a missão cinco, que fala sobre a descarbonização da economia brasileira, levando em consideração novos modelos econômicos. Com essa missão, o governo se propõe a pensar em uma indústria mais “verde”, que vise a transição energética e a bioeconomia.
Já a sexta missão coloca o desenvolvimento de novas tecnologias para o alcance de uma soberania e defesa nacional no radar do governo.
Fragilização industrial
O economista Felipe Martins, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) da subseção dos metalúrgicos de Sorocaba, fez uma intervenção durante a reunião para chamar atenção a alguns processos importantes na implementação da NIB.
De acordo com dados levantados pelo economista com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2021, existe uma progressiva e sistemática fragilização da indústria. O setor representava, até o período, 26,3% do Produto Interno Bruto do País (PIB) no país e gera 21,2% dos vínculos formais do país, mas este número já foi muito maior.
Enquanto os a cada R$1,00 investido na agropecuária gera um retorno de R$1,72 na economia, quando essa realidade é aplicada na indústria de transformação esse percentual é maior: a cada R$1,00 investidos, a indústria gera R$2,70. “Esse movimento é o que chamamos de efeito multiplicador da produção da indústria, pois ela tem capacidade de transformar bens e serviços e agregar valor aos seus produtos”, explicou Martins.
Silvio Ferreira recorda que a primeira missão da NIB fala sobre a expansão do agronegócio, mas com um viés diferente, que leva em consideração os pequenos produtores. “Atualmente, mais de 70% dos produtos que consumimos dentro das nossas casas vem da produção da agricultura familiar. Com essa nova visão, é possível que o efeito multiplicador que vemos na indústria também passe a acontecer no agronegócio, pois leva em consideração a cadeia produtiva e o impacto social”, afirma Silvio.