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O artivismo como denúncia e combate à violência de gênero

Matéria: Cecília França/Rede Lume de Jornalistas

As pedras caíam sobre o chão coberto por papel kraft das mãos de uma mulher calada, mas não há silêncio. Uma gravação em voz potente repete dados cortantes sobre a violência contra meninas e meninos no Brasil. São estupros, feminicídios, pelos quais aquela artivista calada, inundada de revolta, deixa correr entre dedos, agora, areia.

O ato Justiça por Eduarda, idealizado e performado por Nandi Ferreira – também conhecida como Amanda Marcondes – foi um dos apresentados durante a 1a Mostra de Artivismo promovida por Néias-Observatório de Feminicídios Londrina no último sábado, 27 de abril, na Divisão de Artes da Cênicas da UEL, no Centro da cidade. Entre os que acompanharam, arrepio e comoção.

O ato havia sido idealizado para o dia do julgamento do pai de Eduarda Shigematsu e acusado de seu feminicídio, Ricardo Seidi, programado para acontecer em 7 de março, mas que acabou adiado, novamente.

A mostra de artivismo reuniu instalações já exibidas pelo Observatório em julgamentos de feminicídios e atos públicos, e performances, instalações e manifestos de artivistas locais e de outros estados – estes de forma remota. Maju Ferreti levou ao espaço sua performance “Mamilla Invertida”, na qual questiona a vigilância da sociedade sobre os mamilos femininos, enquanto os masculinos são fartamente expostos sem qualquer censura.

Com foto de mamilos masculinos colada sobre os seus e diante de um varal que expunha outros mamilos e reportagens sobre censura à exibição de corpas femininos, o estudante de artes cênicas da UEL leu trecho do livro Pornoterrorismo, de Diana J. Torres. Maju nos lembra que o feminicídio é o extremo de uma violência que acomete dia a dia meninas e mulheres sob forma de opressão.

Quem passou pela Mostra pode participar de uma oficina de lambes com a ativista feminista Meire Moreno, conhecer o memorial “Nenhume a Menos” e assistir, em computadores disponibilizados pela organização, à performance “Espaço do Silêncio”, da artista Nina Caetano (MG), à fotoperformance “Aqui não red pill”, de Marcinha Baobá (MA), e conhecer “Ações Artístico Pedagógicas da Cia. Matita de Teatro”, de Poliana Pitteri (SP).

Instalações

Uma grande trilha de papel kraft escrito e desenhado em diversas cores e letras ocupava parte do estacionamento da Divisão de Artes Cênicas. Era a instalação “Minério de Ferro”, de Marina Quesada, nos lembrando que transbordamos, sangramos. Sem querer, por querer, por necessidade.

Em frente, uma das instalações mais impactantes de Néias: “Se essa rua fosse minha”, em memória da menina Sara Manuele, assassinada aos 9 anos pelo padrasto após sofrer violência sexual. Desenhos infantis ao redor de um colchão com brinquedos nos lembra os espaços pelos quais Sara circulava e que deveriam ter garantido sua proteção.

Ao lado, a instalação “Mulheres do fim do mundo”, que usa roupas femininas para lembrar as vítimas do feminicídio. No chão, um lençol manchado de vermelho nos lembra: mulheres ainda morrem dentro de casa.

Com mais de três horas de atividades, a mostra não atingiu grande público (o que não surpreende em uma sociedade que nos cala cotidianamente), mas certamente foi um grito pela libertação das mulheres, pelo direito de se vestir, se desnudar, protestar, silenciar em memória das nossas. Pelo dever de garantir a vida segura das nossas meninas; pelo direito de viver como se quer.

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