Integrantes do Projeto “Brincar é Bom, Vamos?”, que nasceu em Londrina com o objetivo de enfatizar a importância das brincadeiras para crianças e pais, cobram da Prefeitura de Londrina a manutenção dos brinquedos adaptados para crianças com necessidades especiais no Aterro do Lago Igapó II. A reivindicação acontece após a Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Tecnologia anunciar a conclusão da revitalização do local.
Os brinquedos adaptados, que são chamados de “exclusivos para pessoas com deficiência”, apresentam, atualmente, avarias que, segundo as especialistas do Projeto, apresentam riscos à segurança das crianças durante as brincadeiras.
Uma gangorra adaptada para crianças que precisam de cadeiras de roda para se locomover, por exemplo, não conta com a parte traseira do brinquedo. De acordo com Adriane Ribas de Oliveira, que é pedagoga e integra o Projeto “Brincar é Bom, Vamos?”, o equipamento demanda a ação de um adulto, que precisa se posicionar atrás da criança com a cadeira de rodas para poder segurá-la.
“A gangorra está sem essa parte em um dos lados e, do outro, a parte traseira existe, mas é muito pesada e pode machucar alguma criança”, aponta.
Além da gangorra adaptada, o parque conta com outros brinquedos, como um carrossel e um balanço adaptados. Estes, por sua vez, também precisam de manutenção, conforme aponta Oliveira. “O carrossel está com a base quebrada em algumas partes e uma criança pode se machucar caso enrosque o pé. Já o balanço está com uma parte da estrutura caída.”
REVITALIZAÇÃO
A revitalização do Aterro do Lago Igapó II custou R$ 1.286.279,94 e registra um reequilíbrio econômico-financeiro no valor de R$ 44.543,10 em trâmite. No projeto, estavam previstas, dentre outros pontos, a execução de calçadas e passarelas em concreto, a instalação de um novo mobiliário urbano, como bancos, aparelhos para exercícios e brinquedos do parque infantil e a implantação de floreiras e paisagismo, assim como sinalização cicloviária e viária.
O secretário municipal de Planejamento, Orçamento e Tecnologia, Marcelo Canhada, afirma que a revitalização está “concluída do ponto de vista técnico, já que tudo que estava no contrato foi executado”.
Canhada explica, também, que algumas intervenções não foram realizadas para que a CMTU (Conselho Municipal de Trânsito e Urbanização) possa assumir o trabalho e padronizar ao máximo com as obras que foram feitas no Lago II.
A respeito dos brinquedos exclusivos para as crianças com deficiência, o secretário aponta que irão passar por uma manutenção. Canhada diz, ainda, que os equipamentos da academia ao ar livre do Aterro do Lago Igapó II serão trocados.
“O Aterro é um lugar gigantesco e vai exigir, assim como o Lago II que fizemos há pouco tempo, um trabalho constante e diário que não vai parar. Não é uma obra que a gente vira as costas e ela tem continuidade. Nesse caso, o espaço é muito frequentado e essa é uma coisa de cidade grande que a gente tem que conviver e a Prefeitura tem que trabalhar. Vamos trabalhar para melhorar esses pontos que o Projeto apontou”, afirma.
De acordo com o secretário, os brinquedos adaptados para crianças com deficiência também são utilizados por crianças sem deficiência, o que causa danos aos equipamentos. “A gente faz manutenção sempre. A CMTU tem uma serralheria e eles constantemente fazem manutenções nos brinquedos.”
INCLUSÃO
As especialistas que integram o Projeto “Brincar é Bom, Vamos?” apontam que, além das manutenções nos brinquedos, o parque para as crianças com deficiência deve passar por uma revitalização.
“Existem diversas leis que mostram como esses ambientes devem funcionar, especialmente com relação a placas. As pessoas não precisam saber de tudo, então as informações precisam estar expostas para que todos possam compreender”, explica a terapeuta ocupacional Madalena Sant’anna, que faz parte do grupo.
A Lei Federal 10.098/2000, por exemplo, “estabelece as normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida”. O texto garante que parques de diversão públicos e privados devem adaptar, no mínimo, 5% de cada equipamento ou brinquedo e identificá-lo para permitir sua utilização por pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Outro ponto destacado pelas especialistas se refere à inclusão das crianças com deficiência, uma vez que o parque com brinquedos adaptados no Lago Igapó II está separado do parque com brinquedos direcionados para crianças típicas.
“Sabemos que, muitas vezes, é difícil para os pais trazerem seus filhos que têm alguma deficiência para brincar. E então, se chegam aqui e encontram essa exclusão, não voltam. Por que meu filho fica aqui e a outra criança fica lá?”, questiona Sant’anna.
A terapeuta ocupacional aponta que o próprio termo “exclusivo”, que consta na placa que identifica o parque adaptado, já indica a “exclusão”. Para a especialista, esse cenário prejudica não somente a criança com deficiência, mas também a experiência dos pais, que, muitas vezes, têm mais de um filho e esses não podem brincar juntos.
BRINCAR É ASSUNTO SÉRIO
Com o objetivo de incluir as crianças com deficiência, os integrantes do Projeto “Brincar é Bom, Vamos?” têm tentado entrar em contato com autoridades políticas municipais. O primeiro documento enviado, em 18 de abril de 2022, foi direcionado ao gerente de Espaço Público da CMTU, Wilson da Silva. No texto, as especialistas sugerem a revisão de “alguns pontos, no intuito de tornar os brinquedos do Lago Igapó II verdadeiramente inclusivos, e não exclusivos, como está na placa”.
Em 21 de dezembro de 2022, o Projeto protocolou mais um documento, dessa vez direcionado ao diretor-presidente da CMTU, Marcelo Cortez. “Como conversamos presencialmente, essa iniciativa de termos espaços públicos onde crianças, independentemente de sua condição, possam brincar juntas, possibilita uma verdadeira inclusão, reforçada no estatuto da criança e do adolescente (ECA) como um direito da criança de ser educada e cuidada na perspectiva de formar cidadãos saudáveis (BRASIL, 1990; 1995)”, diz o texto.
A carta traz, ainda, as alterações sugeridas pelas especialistas, que incluem a troca da placa, para que essa seja focada na inclusão e não na exclusão, e a união dos brinquedos para crianças típicas e atípicas. Os brinquedos “devem ser oferecidos para todas as crianças e os responsáveis verificarem se são impeditivos para os seus filhos ou não. Da forma como estão dispostos, podemos considerar que são excludentes.”
Por fim, em 9 de julho deste ano, as especialistas enviaram ao prefeito Marcelo Belinati (PP) um documento semelhante, que descreve, além das propostas do Projeto, as legislações que embasam as mudanças sugeridas.
A reportagem do Portal Bonde tentou contato com a assessoria de imprensa da Prefeitura de Londrina para tratar sobre o assunto, mas ainda não obteve resposta.
TRABALHO CONJUNTO
Sant’anna e Oliveira apontam que querem construir uma parceria com as autoridades políticas da cidade para promover as mudanças necessárias para a boa experiência das crianças atípicas durante os momentos de lazer.
“Nos colocamos à disposição para dar ideias e para mostrar o que pode ser melhorado. As crianças aprendem brincando e, se o brincar já faz toda a diferença para uma criança típica, imagine para uma criança atípica”, pontua a terapeuta ocupacional.
O secretário Marcelo Canhada, em entrevista ao Portal Bonde, afirmou concordar com as especialistas a respeito do trabalho conjunto. “É fundamental ter esse diálogo com as integrantes do grupo para que possamos aproveitar todo o conhecimento que elas têm para melhorar o serviço que a gente presta. Me coloco à disposição, posso passar meu contato, porque quero muito ouvi-las e poder encaminhar as sugestões que elas nos oferecerem”, pontua.
Fonte: Portal O Bonde