Texto – Elsa Caldeira
De acordo com mulher que mora perto da casa das vítimas, foi possível ouvir os gritos do filho, implorando para que não atirassem no seu pai ; moradores afirmam que execuções são constantes na região, mas a população tem medo denunciar
Dezenas de pessoas passaram pela capela 1, da zona sul, na manhã deste sábado, 21, para se despedir de Jeferson Aparecido Lima, 41 anos, e Davi Silva, 21 anos. Ambos, pai e filho, foram mortos pela polícia , dentro da residência, localizada na Rua dos Feirantes, S/N, no Jardim União da Vitória, por volta das 8h da última quarta-feira, 18. Segundo a polícia, as mortes ocorreram após confronto, no entanto, a versão é contestada pelos familiares e vizinhos.
A reportagem do Portal Verdade esteve no velório e conversou com algumas pessoas que pediram para não serem identificadas porque têm medo de serem perseguidas pela polícia. Por isso, todos os nomes publicados são fictícios.
Valéria da Silva declarou que mora há anos perto da casa das vítimas e que não houve confronto. “ Eu ouvi os tiros e corri para ver o que estava acontecendo, neste momento vi dois P2 saindo à paisana de dentro da casa, com roupa branca. Depois chegou a choque e Polícia Militar”, disse. Segundo ela, antes da polícia sair da casa, ouviu os gritos do filho de Davi pedindo para que não matassem o pai. “ Ele gritava: pára, pára, não mata meu pai. Acho que mataram ele, para não ser testemunha da morte. Nós queremos justiça”.
Ouça o áudio na íntegra desta testemunha.
Alegre e brincalhão
A dona de casa, Maria dos Santos, conta que “Neguinho”, como Jeferson era chamado pelos amigos, era alegre e brincalhão, mas desde que a esposa Cleusa morreu, há cerca de dois anos, começou a beber muito. “ Ele perambulava pelas ruas do bairro. Com o tempo, o filho começou a andar com ele. A gente sabia que ele devia umas broncas para a polícia, mas não merecia morrer assim. Já o menino morreu inocente, isso não é certo, a polícia poderia ter prendido eles e não ter feito o que fez.
Dona Irma, mãe de Neguinho e avó do Davi, parecia não acreditar que via aqueles dois caixões na sua frente. “ Mataram meus meninos. Não me conformo com o que fizeram com eles. É muita injustiça, muita dor”, disse em lágrimas.
Bairro violento
Ana de Souza mora no União da Vitória ha mais de 30 anos e disse que a violência policial tem aumentado a cada ano. Ela conta que seu neto foi abordado na rua recentemente pela PM que pediu documentos. “ Eles bateram no menino, minha filha foi lá para defender o filho, bateram nela também. Eles estãos sem limite. Aqui e na região toda semana a gente fica sabendo de agressão ou morte pela policia. O povo não aguenta mais, mas ninguem tem coragem de denunciar por causa do medo de perseguição”, desabafou.
A reportagem do Portal Verdade procurou o tenente-coronel Nelson Villa, comandante do 5º Batalhão da Polícia Militar de Londrina para tratar sobre o caso. Ele informou que está em viajem de férias, mas que foi informado que se trata de uma ocorrência de confronto com a polícia. ” Para estas situações sempre é aberta uma investigação criminal e administrativa com os policiais envolvidos”, disse.
Dados do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná, mostram que Londrina, Cambé e Ibiporã respondem juntas pela maior taxa de letalidade policial do Paraná nos últimos cinco anos. As forças de segurança (Polícia Militar, Polícia Civil e guardas municipais) foram responsáveis por 230 mortes entre 2017 e 2021. São 13,4% do total de 1.706 casos no Estado neste período.
Fonte – Portal Verdade