Utilização de aplicativo passou a ser obrigatória em 426 escolas nessa quinta-feira (2)
A realização de chamada em sala de aula por reconhecimento facial é mais uma promessa tecnológica nas escolas que se esfarela quando encontra a realidade. Divulgada como um processo que melhoraria o aprendizado por ampliar o tempo das aulas, o primeiro dia de implantação foi um tormento para muitos professores da rede pública estadual.
A utilização da chamada por reconhecimento facial passou a ser obrigatória em 426 escolas nessa quinta-feira (2). Chegaram à APP muitas reclamações quanto à lentidão do sistema, travamentos e o tempo perdido para realizar a chamada.
A intenção da tecnologia é que o educador tire uma foto dos alunos reunidos para reconhecimento e validação pelo aplicativo. Na sala de aula, a realidade é bem diferente. “Em cada turma reconhece dois alunos de um total de 30”, relata uma professora no Facebook.
“Não está funcionando, como tudo nessa gestão. Nem internet que funciona temos, como usar todos esses aplicativos?”, questiona outra professora. Quando funciona, o sistema toma mais tempo da aula, pois o processo precisa ser repetido várias vezes. “Até funciona, mas demora o dobro de tempo para fazer”, diz uma professora.
Seed
A solução de automação para o controle de presença dos alunos com reconhecimento facial em sala de aula foi desenvolvida em parceria entre a Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Paraná (Celepar) e a Valid ID.
A Secretaria de Estado da Educação (Seed) admite os problemas, que atribui à fase de implantação do projeto. “A Seed-PR está conversando com a Celepar para resolver o problema o quanto antes. É importante ressaltar que o projeto está em fase de implantação, na qual problemas podem acontecer. O objetivo da secretaria é corrigir as falhas e, na próxima fase, expandir o número de escolas beneficiadas com o novo modelo de chamada”, informou a Seed.
Impessoalidade
Outros profissionais reclamam do rompimento do vínculo com estudantes propiciado pela chamada manual. “Além de deixar o processo mais demorado, não vamos decorar o nome dos alunos nunca”, afirma outra fonte.
Alguns educadores desconfiam que a chamada por reconhecimento facial vise apenas beneficiar empresas, transferindo recursos públicos para a iniciativa privada. “Tanta tranqueira e exigência de uso de tecnologias que nada contribuem só se justifica para contratar empresas de tecnologia amigas do rei. Só pode”, comentou um professor no Facebook.
Tempo perdido
Obrigados a usar os próprios celulares para fazer as chamadas, uma vez que o Educatron – equipamento multimídia disponibilizado para as escolas – não funciona para a tarefa, professores recorrem à ironia para lidar com a situação.
“Está funcionando… É mais uma excelente ideia para implodir a educação. Só uma pessoa com essa intenção poderia parir a ideia de obrigar o professor a ficar fotografando alunos e esperando o sistema carregar enquanto o tempo da aula passa e os alunos se dispersam e se agitam sem atividades”, postou um professor no Facebook.
“Não está funcionando. Estamos fazendo papel de idiotas em frente aos alunos, perdendo grande parte da aula tentando conectar à internet e outro tempão fotografando sem resultado algum na efetivação da chamada”, aponta uma professora obrigada a fazer a chamada com reconhecimento facial.
“A gente perde metade da aula tentando focar a imagem pra no final ter que refazer a chamada. Dar aula pra quê né?????”, diz uma educadora. “Perdemos muito tempo até conseguir organizar os alunos e fazer uma boa foto, mesmo assim o sistema não reconhece todos, aí vamos para a chamada manual”, aponta outra professora, no Instagram.
Fonte: APP-Sindicato