Pesquisa realizada em 29 países mostra que o brasileiro tem preocupação com a desigualdade maior do que a média mundial. Para especialista, reformas de Temer e Bolsonaro são responsáveis pelo empobrecimento
A pobreza e a desigualdade social lideram o ranking de preocupações dos brasileiros. Quatro em cada dez entrevistados no país (43%) afirmam estar preocupados com a questão. Nesse quesito, a média global é de 31%, 12 pontos percentuais abaixo do índice nacional.
Já a inflação, que caiu neste mês de março, é a menor preocupação da população atingindo apenas 27% dos brasileiros. O número é inferior à média global de 43% dos entrevistados que apontaram o tema como o mais problemático para as suas nações, mostra uma pesquisa do Instituto Ipsos realizada em 29 países, entre janeiro e fevereiro deste ano.
A percepção da desigualdade social e da pobreza no Brasil é patente e vêm sendo sentida há algum tempo e, muito provavelmente parte das pessoas que foram interrogadas na pesquisa estão neste processo de empobrecimento, acredita Francisco Menezes, consultor da Action Aid, uma organização não governamental de combate à desigualdade social, e ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).
“Não é surpresa o resultado da pesquisa. Acho que é natural essa percepção até porque no período que corresponde aos último governos [Temer e Bolsonaro], as reformas da Previdência e Trabalhista e o Teto de Gastos Públicos, que impediu investimentos públicos, foram elementos causadoras do empobrecimento, inclusive, da classe média”, afirma Menezes.
Para ele, essa preocupação é uma boa surpresa pois mostra maior consciência da sociedade que antes não tinha essa ‘tradição’ de entender as consequências da desigualdade social
“É um dado significativo, mas precisamos falar ainda mais das desigualdades raciais, econômicas, de gênero e regionais. Todas elas têm influência na economia e consequentemente contribuem sobremaneira com a desigualdade social. Essa percepção é importante politicamente para que se chegue à raiz do problema”, analisa.
Embora a preocupação dos brasileiros com a inflação seja menor do que a média mundial, Menezes alerta que é a carestia, principalmente os preços dos alimentos, que tem impacto na desigualdade social.
“ É preciso restaurar instrumentos destruídos pelos governos anteriores como os estoques regulares de arroz e feijão, que permitiam que determinados momentos a inflação dos alimentos fosse controlada”, diz Menezes que também é economista.
A preocupação com os estoques reguladores foi apontada pelo Dieese ainda em janeiro de 2022, no governo Bolsonaro em que os preços da alimentação subiram.
“A inflação acelera a pobreza e por isso é preciso enfrentar a questão monetária, inclusive com o controle dos juros. O tempo do atual governo ainda é pouco para reconstruir o que foi destruído, mas são precisas ações articuladas que se combinem entre os ministérios para diminuir a inflação e a desigualdade social”, conclui.
Fonte: CUT Brasil