O Cepe (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão) da UEL (Universidade Estadual de Londrina) aprovou, nesta sexta-feira (19), a suspensão do calendário acadêmico da graduação, com excepcionalidades. O comando de greve dos docentes vinha reivindicando a suspensão do calendário desde o início da paralisação, em 8 de maio. A decisão vale a partir de segunda-feira (22).
Levando em conta a particularidade do calendário, os conselheiros votaram e aprovaram a não suspensão para os últimos anos de todos os cursos. Essa foi uma sugestão da Câmara de Graduação visando “proteger os alunos” e garantir a colação de grau, e foi aprovada pelo Cepe. Pelo calendário vigente, o segundo semestre de 2022, que está em vigor atualmente, termina em 2 de junho.
A pró-reitora de Graduação, Ana Márcia Fernandes Tucci de Carvalho, destacou que essa indicação da Câmara de Graduação foi para preservar a possibilidade de formatura dos estudantes dos últimos períodos.
“Isso é fundamental, porque aquele estudante que está nesse último período muitas vezes quer fazer um curso de pós-graduação, está fazendo um estágio e já tem uma possibilidade de passar dessa situação de estágio para uma situação de emprego. Então realmente foi uma decisão muito sensata do Cepe”, ressaltou Carvalho.
“O calendário não está suspenso retroativamente, isso sequer foi votado. A suspensão do calendário acontece a partir desse momento, e os estudantes estarão protegidos por essa suspensão”, acrescentou.
De acordo com a pró-reitora, será tomado o cuidado de proteger “todos os estudantes com a integralização da carga horária das atividades”.
A reitora da UEL, Marta Favaro, lembrou que a instituição possui 52 cursos de graduação e mais de 13 mil alunos. E que o conselho entendeu que, após a suspensão, era necessário considerar algumas particularidades, como no caso dos alunos dos últimos anos. “Para as outras séries ou períodos, nós temos a suspensão do calendário”, enfatizou.
Entre as outras excepcionalidades aprovadas pelo Cepe, estão os alunos em mobilidade acadêmica, ou que estão em vias de entrar em programas de mobilidade; os estudantes de 4° e 5° anos de Direito que atuam no EAAJ (Escritório de Aplicação de Assuntos Jurídicos), já que é um serviço que funciona como uma defensoria pública; e os alunos de Medicina que realizam internato no HU (Hospital Universitário) e que possuem uma disciplina de vivência no SUS (Sistema Único de Saúde).
Favaro também afirmou que a UEL e muitas das IEES (Instituições Estaduais de Ensino Superior) estão vivendo com uma diferença entre o calendário civil e o acadêmico. Isso ocorre em função da pandemia da Covid-19.
Em relação aos cursos de pós-graduação, o Cepe decidiu pela continuidade do calendário acadêmico. Isso se aplica tanto às formações stricto sensu, que são os Mestrados e Doutorados, quanto às lato sensu, que são as especializações e residências. A decisão dos conselheiros seguiu a recomendação da Câmara de Pós-Graduação.
“Continuamos desenvolvendo nossas atividades nessas áreas”, disse Favaro, ressaltando que, segundo a avaliação do Cepe, esses cursos têm implicações que vão além das condições internas da UEL. “Por exemplo, o financiamento via bolsas e as pesquisas que são realizadas e que já tiveram início. A temporalidade dos cursos da pós-graduação é diferente. E a obrigatoriedade do cumprimento de algumas atividades, também.”
Movimento grevista
O presidente do Sindiprol/Aduel, Cesar Bessa, avalia que a decisão foi “muito positiva” por parte do Cepe, e que deve minimizar os prejuízos aos estudantes da universidade. “Os estudantes com isso não serão punidos e nem penalizados pela ausência de aula ou em situações que poderiam ocorrer, esporadicamente, de ter um professor que desse aula”, disse Bessa, pontuando que isso poderia criar “situações díspares”.
“Da mesma forma, tecnicamente, favorece aos docentes, exatamente porque isso favorece a possibilidade da reposição do trabalho, depois. Porque a suspensão propriamente dita fica congelada e pré-determinada dentro do calendário.”
O acadêmico e conselheiro do Cepe, Maicon Eduardo Pimentel, do 4° ano de História, afirmou que o objetivo era tentar minimizar os impactos para os alunos da instituição.
“Não é que não vá haver danos para a gente. Vai haver sim. Mas a culpa não é dos docentes ou dos cargos de administração da universidade. É única e tão somente do governador [Ratinho Jr.]”, opinou Pimentel. No seu ponto de vista, “se houvesse uma preocupação” com a formação, o governo do Estado já teria aberto negociação com o movimento grevista. “E a gente findaria a greve.”
Comando de greve
A suspensão do calendário acadêmico na UEL (Universidade Estadual de Londrina) era uma pauta que já vinha sendo debatida dentro do movimento de greve dos professores. Nas assembleias realizadas pelo Sindiprol/Aduel, a categoria vinha argumentando que era uma medida importante para proteger os estudantes.
De acordo com o professor Kennedy Piau, do Departamento de Arte Visual, o comando de greve, do qual ele faz parte, era favorável à suspensão do calendário tanto nos cursos de graduação quanto da pós-graduação. O Cepe (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão) acabou decidindo pela manutenção das atividades nas pós-graduações, devido a particularidades como as bolsas e as pesquisas em andamento.
“Essa medida tem como caráter proteger exatamente os estudantes, que são fundamentais para a universidade, que são uma categoria importante para a manutenção e ampliação da universidade pública, gratuita e de qualidade”, disse Piau. “Em período de greve, esses alunos ficam vulneráveis à pressão, às vezes, de algum professor que fura o movimento de greve e quer dar aula.”
De acordo com o professor, essa situação pode causar alguns problemas como, por exemplo, o acesso às vans que fazem o transporte de alunos de outras cidades. “Durante o período de greve, interrompe o transporte e não tem como esse estudante que mora na região de Londrina vir para o campus. Então, uma maneira de não constranger, não causar prejuízo nesse momento de greve, é suspender o calendário”, avaliou.
Os professores da instituição estão em greve desde 8 de maio. A deflagração do movimento ocorreu em assembleia do Sindiprol/Aduel por ampla maioria. Desde então, as demais universidades estaduais do Paraná aderiram ao movimento. Em linhas gerais, a categoria cobra uma reposição salarial de 42%, referente à data-base acumulada nos últimos sete anos. O governo do Estado sinalizou, ainda em março, com uma reposição de 5,79%, a ser paga a partir de agosto, mas essa proposta não agradou aos docentes.
Fonte: Folha de Londrina